Muito embora o vento gélido me enrugasse a pele, a
ausência de chuva levou-me a transpor o pial da porta.
Caminhei um pouco e,
após contar os cêntimos, decidi colmatar a falta de muitos dias: um café.
Decidida e sorridente (sobejavam dois cêntimos), entrei na tasca mais próxima
e, de forma quase cantada, pedi um cafeziiiiiiinhooooo.
Retirei as quase quarenta moedas e coloquei-as no
balcão.
Ao entregar-me o café, a senhora, esbaforida, comentou:
- Não vai entregar-me isso.
Confesso que não percebi; meio estupefacta, balbuciei:
- Isto é… dinheiro…
- Não me diga que me vai entregar essa porcaria?
Respirei fundo e pedi paz, calma, luz e bom senso à
Minha Santa Barbatana.
Ela devia estar no dia certo: mesmo sem os habituais
andar de joelhinhos, velinhas ou afins concedeu-me cinco minutos de não
levantes os caracóis. Sorri e, educadamente, na paz da Santa, respondi:
- Minha senhora, pelo amor da Santa, não quero que
aceite esta …#”%6##. Tome lá o seu cafezinho que eu fico com o dinheirinho. E
truca: saí, aos saltitos, sorridente como entrei.
Mealheiro: foi o seu destino. É por isso que viajo:
gasto noutro país o que aqui não é aceite.
Curiosa, consultei a lei. Segundo o Banco de
Portugal:
“o aceitante só está obrigado a receber, num
único pagamento, 50 moedas (com exceção do Estado, das instituições de crédito
e do Banco de Portugal”
Eu tinha razão; mas quem quer obrigar alguém a
aceitar o nosso dinheiro?
Cafés há muitos, sua palerma!
Oh! Minha Santa Barbatana!
Sorrisos;
Guida Brito
(Santa Barbatana é a Santa que me controla e me impede de levantar os caracóis. A minha Santa brincalhona. O seu uso, nos meus textos, tem, unicamente e exclusivamente, essa função. Não pretende diminuir, menosprezar, denegrir outros seres humanos nas suas crenças ou convicções - por todos tenho o maior respeito: crente que na diversidade nos completamos.)
Sem comentários:
Enviar um comentário