Pouco conscientes,
abandonámos certos hábitos que ampliavam a nossa qualidade de vida.
Assim no
sem querer, na pressa de quem tudo precisa para o ontem, acomodamo-nos em
passos certeiros de quem vai, não pensa e não volta feliz. Habituámo-nos, de
forma desmedida, aos hipers, aos grandes, aos têm tudo e, de forma “freniqueira”,
“calcoreamos” prateleira a prateleira. Sabemos de cor, de forma quase inata, os
caminhos do agora promove isto amanhã engoda com aquilo.
Permitimos o ficar sem
nora, na hora das mudanças no local do gasto. Reclamamos, "asneiramos", certos que
a qualidade de vida é o facilitismo do gesto impensado.
E eles sabem disso:
sabem que se nos sentirmos em casa vamos diretos á prateleira e consumimos o
usual; sabem que não vemos e em dia de novidades - que não nos servem para nada - trocam a
organização da casa e tropeçamos no vai comigo, apesar do não quero e não
preciso; é barato. E, maioritariamente, papamos disto: meia dúzia de
enlatados, uma dúzia de pré-feitos, duas dúzias do vai parar ao lixo e a
novidade que nos impingiram no vai com pressa.
Permitimos o sem sabor e
o já está feito.
Voltei ao Mercado, à
praça, e fiquei feliz.
Encontrei os senhores da horta: os tomates sabem a
tomate; os pepinos sabem a pepino; os pimentos são pimentos; as beldroegas são
campestres; as ameixas e as maçãs não são todas iguais; os frutos têm folhas e
não brilham; as batatas não flutuam como nas Provas de Aferição, são batatas e
cumprem a sua função…
Não sei o que pensa a ASAE, não sei o que pesam os hipers,
não sei o que vocês pensam, eu sei que amei os sabores e a salsa foi oferecida
(só por isso já valeu a pena). Aquilo não tem ponta por onde se pegue, segundo
uns moldes que não entendo, mas o sabor! Ai! O sabor!
Comprei peixe bem
fresquinho, azeitonas tradicionais, queijinhos da cabra da vizinha; dei dois
dedos de conversa com a senhora das rosas; sorri para o homem do peixe; escolhi
o melhor pão (um belo casqueiro alentejano) e voltei feliz.
Fui ao mercado, fui à
praça, amei e sorri.
Sorrisos
Guida Brito