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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Viajar com 0 euros da Europa até à Ásia

 


Andava meio agastada, sem poder dar luz aos meus sonhos:  veio o covid, chegaram contas, ultrapassaram-me o excesso do resolve-me… e viajar? Nem um pequeno vislumbre. Mas assim do nada e sem saber como, esvaziam-se 11 ou 12 dias. Boa! Porreiro! Abro o computador e reservei a primeira viagem que vi: a última vaga, num grupo de 12 desconhecidos e como guia um tal de Tiago Brandão. Quando li com atenção descobri que faria o Expresso do Oriente, de Viena até Istambul. A partida estava iminente, atirei umas roupitas para a mochila, separei dinheiros, cartões de crédito, cartão de cidadão, passaporte… prontinha para sair.


Ouvi o som da porta a fechar-se atrás de mim e…não. Não, Guida. Já tens idade para te conheceres:  volta atrás e confere se o cartão de cidadão está na mochila. Bem pensado; bem feito: voltei atrás e abri a mochila. Fiquei feliz, continha tudo o que necessitava. Esqueci o passaporte no fundo e juntei cartões e dinheiro numa só carteira. Arrumei a mochila e saí feliz: pela primeira vez, não faltava nada.

Enquanto todos dormiam, percorri os quilómetros que me separavam do aeroporto; feliz e contente, parei na primeira portagem e procuro a carteira para fazer face ao pagamento… procuro, procuro, procuro… e valha-me tudo o que é sagrado e a Minha Santa Barbatana. A carteira, com a identificação e todos os meios de pagamento, ficara sobre a cama. Comigo tinha 0 euros, 0 formas de pagar o que quer que fosse.

Confesso que nem ouvi as dezenas de buzinadelas dos que não têm tempo para alentejanas; desta vez, nem um beijinho lhes mandei.

- Estou com 0 euros e sem cartões para lhe pagar. – Referi à impaciente senhora das portagens.

- Não faz mal; dou-lhe uma referência e paga por multibanco.

Pequei no papelinho e pensei: “para que quero isto se não tenho multibanco e vou a caminho da Ásia?”

Bem… já que me deixam passar e não posso voltar para trás, sigo em frente e veremos o que sucede na Ponte 25 de Abril.

Pelo caminho, pensei que “não ir” estava fora de questão, mas a solução encontrava-se a 150 km de distância.

Na Ponte 25 de Abril, atiram-me com um papelinho; confesso que nem o li: deixaram-me passar, sem dinheiro, e isso era “ouro sobre azul”.

Bem… o caminho é em frente. Nunca havia viajado nestas condições e os pensamentos ultrapassavam-se a mil à hora; respirei fundo e contei até 10. O passaporte está comigo, a viagem e o alojamento estão pagos, não há dinheiro para comer e beber. Mendigo?

Calminha, pensei que o pior que me podia acontecer era ser repatriada por não ter meios para me sustentar; enquanto isso vou e volto e visito os aeroportos. Vamos em frente.

No aeroporto, ao entregar o carro no parking, achei o preço demasiado elevado… oh! Guida! Tu não tens dinheiro! Caro ou barato não é um problema de força maior. Perguntei ao simpático senhor se o pagamento era efetuado no ato da entrega ou no ato de levantamento.

- Paga quando chegar da sua viagem.

- Ufa! Que bom! Não tenho dinheiro para lhe pagar agora… e, pensando bem, não terei dinheiro quando voltar.

Ele sorriu como quem ouve uma graça, pegou no carro e partiu. Pois, diziam os meus botões: o problema é teu, foste avisado.

Passei por todos os controlos, ninguém questionou a falta de dinheiro; nem quando todo o conteúdo da mochila se espalhou pelo chão e maquinaria. Um grupo de guardas fronteiriços, interrompeu os trabalhos e ajudou a reunir a maioria dos meus pertences (ignorei os cotonetes e o que nem vendido dá uns bons trocos). Agradeci e segui rumo à porta de embarque.

Chegou a hora de me apresentar ao grupo, via Whatsap. Que bom! Ainda não me conhecem e já lhes vou pedir dinheiro.

“Bom dia, estou com um problema. Deixei todo o dinheiro e cartões em casa.”

Silêncio total de todos os que me liam. Pudera! Que rica apresentação!

Não desisto e escrevo mais uma mensagem: “Será que posso transferir dinheiro para a conta de alguém?” (o meu filho, que não dormia preocupado com a mãe que conhecia tão bem, podia fazer isso).

Silêncio. A situação era tão estranha que mais parecia uma burla. Penso que me tornei na pessoa com a qual ninguém quer qualquer tipo de contacto. Tentando criar confiança e demonstrar que, inevitavelmente, sou a vítima perfeita de situações “non sense”; escrevi: “Sei que parece estranho, mas sou alentejana. Vou arriscar e vou para Viena sem um tostão no bolso. Ao chegar, espero que o Tiago possa ajudar.”

Do lado lá, alguém pensava: “Se ela tem um amigo Tiago porque é que ele não a ajuda?” Talvez mais curiosa do que convencida, decide quebrar o eterno silêncio e responde-me. Rapidamente, nos encontrámos e ela percebe que de facto estou numa situação única e inexplicável.

- Quanto precisas?

- Mil euros.

- Mil euros?!!!!! Para que queres tanto dinheiro?

A coisa afinou e o dinheiro cada vez mais longe. Com calma, ponderei, convenci e aceitei os 400 euros que o Rui transferiu no imediato. Nenhum de vós, consegue imaginar a sensação que nos assola nestes momentos. Embora a minha condição financeira continuasse precária: podia comer e beber.

Chegámos a Viena e lá estava o nosso divinal guia.

- Tiago, eu…

- Tiago??? Eu não sou Tiago, sou o Mateus Brandão.

Ui! Ai! Minha Santa Barbatana, terei trocado a viagem? Será este o meu grupo???!!!

Não (ufa), apenas trocara o nome do guia.

- Mateus, preciso de dinheiro – apresentei-me.

 Dinheiro não é problema. – Um doce.

O Rui ia transferindo dinheiro, pagando as contas da mãe, e cinco dias depois era a mais rica do grupo. Emprestava e recebia sem qualquer controle ou resistência: “Precisas? Toma lá!”

No último dia de viagem, encontrei dinheiro nas ruas de Istambul; até na Ásia sabiam que eu precisava de dinheiro. Regressei a casa, rica e com o sorriso de quem vivenciou um dos mais insólitos acontecimentos.

(À Fabi e ao Mateus um Xi coração muito especial e a certeza que encontraram uma amiga para a vida)

Com sorrisos;

Guida Brito

 

 

 


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Os animais de estimação



Não dou conta dos caracóis; Guida Brito; Navegantes de Ideias
Estou certa que a grande maioria das pessoas que possuí animais de estimação, os mima, os abraça, os beija, os estrafega…




Estou certa que os perdoam pelo sapato ruído, pela camisa rasgada e até pela mijinha fora do local desejável. 

Estou certa de um amor puro que não olha a horas para a passeata da manhã. 

Estou certa que sem tempo há tempo para um sentar esquecido e um colo de afagos. 

Estou certa de tanto. Estou certa de um amor maior.

Não dou conta dos caracóis; Guida Brito; Navegantes de Ideias


O que não estou certa é se existe algum ser humano a quem atribuem o mesmo número de afagos, de beijos e de estrafegos; o que não estou certa é se existe algum ser humano que beneficie do vosso tempo descansado…  que perdoem da mesma forma… que beneficie de um sentar esquecido e um colo de afagos.



Teremos perdido a capacidade de amar o próximo? Teremos perdido a capacidade de acreditar e querer?

Não dou conta dos caracóis.
Sorrisos;
Guida Brito


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Portugal assume que perdeu a independência ou que é a República das Bananas?

Guida Brito; Não dou conta dos caracóis; Navegantes de Ideias


A crer num meio de comunicação televisivo: a 1 de Dezembro comemora-se a Implantação da República. 



Parece que há por ali familiares governativos: sim, daqueles que não pagam deslocações aos funcionários, mas recebem-nos por viverem onde não vivem e por irem onde não vão; no assinar é que está o ganho. Provavelmente, a famosa televisão soube por portas e travessas e deu a notícia em primeira mão.

A falta de referência à Independência e quando se comemora, levou-me a pensar o que há muito temia.

Numa primeira abordagem,  conjugando a ocorrência com  o facto de uma Área de Serviço de Espanha apresentar, num mapa, Portugal como sendo uma província espanhola; com o facto de nos roubarem a água (vedando a sua passagem), com o facto de lhes pagarmos para usarem, no Alentejo, a água do Alqueva;  com o facto de, supostamente, terem invadido o Alentejo, arrancado as nossas árvores e destruído o nosso património histórico e ambiental; e, com o facto de  terem, supostamente, contaminado esta “reticência ponto e vírgula” toda… pensei: somos espanhóis.

Sorri: finalmente, sabia a minha nacionalidade. Pertenço a um país que prometeu dar-nos água lá prós tempos do Natal.

Sorriso que durou pouco tempo, lembrei-me que os Americanos compraram o resto do Alentejo e esgotam o que já não temos com o amendoal. Terão os espanhóis vendido Portugal? A Black Friday e o Dia das Bruxas confirmam.




Os meus caracóis, em estado de sítio, avisaram-me dos abacates, das uvas, das mangas, das alfaces, dos “béries”, da haxixe e do ópio lá prós lados de Messejana… cada qual pertencente a um país diferente. E veio a América, e veio o Japão, e veio a China, e veio a Holanda… não, não; a França… Ai! Minha Santa Barbatana! D. Henrique era um cavaleiro francês… se se lembram disso entram em guerra com Espanha.

Fica a dúvida: os espanhóis ocuparam-nos e venderam-nos aos bocadinhos  ou somos a República das bananas?

Uma coisa é certa: não sabemos quem somos nem quem impera por aqui. Cada um que vem faz o que lhe apetece.

Não dou conta dos caracóis
Sorrisos
Guida Brito