Somos tão poucos a desempenhar as funções que deveriam ser
de muitos mais que a segurança, a saúde, a educação e a justiça são meras
utopias – sinto que concordámos que fossem a moeda de pagamento dos buracos de uma
corrupção sem fim à vista.
Esta noite, a residência dos estudantes do ISEL foi
assaltada. Alguém entrou nos quartos dos jovens, enquanto estes dormiam, e assustou,
de forma muito séria, os jovens que dali dependem para continuar os seus
estudos. Para a polícia é mais um caso que seguirá os transmites legais; a urgência
de resolução que o caso requeria, necessitava que o número do efetivo destes
profissionais que ali trabalham fosse muito superior.
A situação é comum: vamos aos correios e ingressamos na
horrível espera da senha “do nunca é a minha vez”; os centros de saúde abarrotam
de utentes; nos hospitais, quando temos a sorte de ser aprovado o nosso exame,
ou a nossa cirurgia: lá vamos parar à interminável fila do “esperamos que não
morra”; na justiça… não sei se rio ou se choro; na educação, o número de
profissionais é tão diminuto que é claro que concordámos que as nossas crianças
permanecessem sentadas numa cadeira, ao invés de adquirir conhecimentos válidos
e consolidados; vamos às finanças e “toca pró espera”. Permitimos doar do nosso
temos de vida, como se fossemos eternos e o tempo fosse coisa que sobejasse,
num interminável não sei se acontecerá.
Claro que reclamamos! Reclamamos nos correios, reclamamos nas
finanças, reclamamos nos bancos; reclamamos na polícia; reclamamos nos centros
de saúde… reclamamos na justiça (mentira, aqui já desistimos de fazer valer os
nossos direitos): reclamamos e vigiamos de perto os profissionais dos quais
dependemos e que, tal como nós, são em número diminuto para desenvolver (ou
solucionar) uma exigência desmedida.
Estamos errados por não exigimos, no sítio certo, Direitos
que deveriam ser universais. Permitimos e continuamos a permitir que a moeda de
pagamento de uma crise sem fim seja aquilo pelo qual batalhamos todos os dias:
igualdade, justiça, educação; saúde; tempo com os que amamos… direitos
fundamentais. O euro já se afundou; a moeda somos nós.
Sem sorrisos
Guida Brito
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