domingo, 22 de dezembro de 2019

As árvores do Alentejo


Guida Brito; Sem Sorrisos; Navegantes de Ideias

As oliveiras milenares: umas vendem-se no OLX, ao desbarato; outras, são certificadas em Espanha e vendidas para Itália; outras, seguem em camiões para destinos europeus.




Despovoamos o Alentejo de árvores centenárias e milenares, espécies resistentes a doenças e que não necessitam de produtos químicos, e plantamos: OMGs (Organismos Modificados Geneticamente). Relativamente aos olivais superintensivos e hiperintensivos, agrava-se a situação tendo em conta a proveniência das espécies implantadas: oriundas de um país (Espanha) onde uma grave doença das oliveiras impossibilita o uso dos solos.


Sim. Não há dúvida, na minha opinião, que se trata de Organismos Modificados Geneticamente:

- o mesmo foi referido, em entrevista, numa rádio de Beja, por um grupo de agricultores, a escolha desta variedade de oliveiras, implantadas no Alentejo, deveu-se às alterações genéticas das plantas, garantindo que eram o que de melhor se adaptava ao terreno:




- o uso de Glifosato, na região, confirma: este produto químico (em tribunal, noutros países, foi provado que é altamente cancerígeno) mata todas as plantas que não sofreram alterações genéticas, assim, se as espécies de oliveiras, amendoeiras, de fruto, de videiras e outras resistem ao seu uso, comprovam que existiram modificações genéticas;

- a proveniência de Espanha das oliveiras implementadas, também, confirma; segundo o que li, para poder exportar e na tentativa de reverter a grave epidemia, os cientistas espanhóis fazem experiências manipulando cerca de 8000 genomas: uma vez que as inicialmente implantadas, neste país, estão contaminadas.

A tratar-se de OMGs, significa que a lei portuguesa não é mais do que um papel com letras escritas para os estrangeiros e para as empresas; a sua utilização, para além de outros, carecia de consulta pública e rotulagem em conformidade: o que não ocorre.

As árvores centenárias, resistentes a doenças e que não necessitam de produtos químicos, são vendidas, arrancadas ou, simplesmente, queimadas e enterradas. Tal como na Amazónia, longe dos olhares, aparece um caminho, uma clareira é aberta e, aos poucos, todas as formas de vida são mitos; dão lugar a um grande círculo, a outro, a mais outro e, num raio de muitos quilómetros, a vida esvai-se na ganância e do quero para mim tudo o que tens.




Nas serras, na planície, é visível (com exceção para dois ou 3 concelhos) que toda a vegetação desaparece. O Montado (azinheiras e sobreiros) seca de um dia para outro; por vezes, é simplesmente arrancado ou queimado. Nem os Parques Naturais são respeitados, a sua vegetação, espécies únicas e a beneficiar de proteção na lei, é simplesmente decepada.

Muitos olivais e montados são arrancados sem qualquer autorização. No caso dos olivais, por vezes, o futuro comprador (ou outro aparentemente alheio ao negócio) vende as árvores antes de adquirir o terreno. 

Após a venda do terreno, não há culpados: o vendedor não sabe o que aconteceu e o comprador adquiriu o terreno sem árvores. Nestes casos, o arranque das árvores fica a cargo do seu comprador, não havendo, assim, prevaricação por parte dos envolvidos no negócio de compra e venda do terreno.

Os novos contratos já assinados, com empresas estrangeiras, dada a dimensão das áreas que abarcam, levam a crer que nada restará do Alentejo e grande parte do Algarve. Além dos milhares ou milhões de árvores milenares e centenárias arrancadas, já é visível, através de fotografias aéreas, o início da queima ou arranque das que sobejaram. 

É a dor e a morte, por todo o Alentejo.
Sem sorrisos;
Guida Brito


sábado, 21 de dezembro de 2019

Alentejo: alvo fácil da ganância alheia


Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias

Os Montes surgiram devido à tentativa de moldagem dos habitantes a novas regras sociais. A fuga dos inadaptados, às exigências de uma sociedade injusta e de elites, fomentou que, aqui e ali, há muito tempo, surgissem pequenas habitações, pertencentes aos homens livres: os Montes alentejanos.






Iniciou-se um novo e nobre povo, cujas características se mantêm até aos dias de hoje: humilde, sábio, respeitador, simples mas livre. Em plena comunhão com a natureza, vivia das ervas da planície e das margens da ribeira, de pequenas hortas e do pastoreio.

Hoje, são, maioritariamente, idosos que ali habitam: alvos fáceis da ganância alheia. Na solidão dos pequenos povoados, a sua voz é abafada e a sua simplicidade apelidada de ignorância. 

Hoje, o povo alentejano vê as novas plantações invadir o perímetro dos povoados, vê-as entrar em casa; vê as águas interditas a uso público e os seus cursos desviados; vê a planície decepada das ervas que aprendeu a usar na sua alimentação; vê as árvores milenares serem vendidas ao desbarato, no OLX; vê os sobreiros e as azinheiras serem arrancadas ou queimadas; sabe as praias contaminadas; chora o ar gorduroso e nauseabundo; sente os químicos que o matam; e, na sua velhice, agasta-se com a nova doença que aqui chegou: o cancro. 

Cala-se envergonhado de uma culpa que não tem.
Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias

E, a lei? A lei, nas suas exceções, por vezes, legaliza um genocídio sem precedente; por vezes, não é aplicada. Em nome do desenvolvimento económico, do alto interesse financeiro: ceifa-se, aos poucos, em morte lenta, todas as formas de vida, incluindo as humanas.


Em plena Europa, a dúvida persiste: quem o inflige? Portugal ou Espanha?

Sem sorrisos;
Guida Brito


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Alentejo: o começo do fim



Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias


Ninguém imaginaria que a promessa de água do grande lago Alqueva, à planície seca e árida, fosse o início do fim.






Há cerca de 10 anos, no interior, surgiram as primeiras culturas intensivas de olival (400 árvores por hectare); no litoral, aproveitou-se as águas do Mira, apareceram as estufas e as monoculturas, iniciou-se a decapagem dos terrenos do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. 



Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias






Aqui e ali, a vinha, as nogueiras, as amendoeiras, o olival, os brócolos, a salsa (vendida entre 50 a 125 euros/kg)… ficando, sempre, para depois, a chegada da água às torneiras das casas. Hoje, ainda, é água de cor negra e imprópria para uso humano ou animal que corre nas casas do Alandroal.

De forma subtil, foram desaparecendo sobreiros, azinheiras (árvores protegidas por lei), surgiram graves alterações a nível da orologia, foi destruído todo o património ambiental e histórico (arrasadas Villas Romanas e Celtas, importantes vestígios pré-históricos….)… Antas, únicas, aparecem desmembradas na periferia dos terrenos da planície.

Na sede do quero mais e quero para mim o que é de todos, deu-se continuidade a um arraso sem planeamento, sem bom senso, sem vigilância, sem respeito pelos bens comuns e pelos outros seres humanos, sem arrependimentos por parte dos prevaricadores.


O Olival intensivo que exigia muito mais do que o Alentejo lhe podia dar, deu lugar ao superintensivo ( 2000 pseudoárvores) que aspira, no seu caminho, lágrimas de sangue e vidas humanas. Seguiu-se o olival híperintensivo, sem cabimento nem perceção.

Solos mortos

Todos os solos do Alentejo, estão a ser decapados, todas as árvores arrancadas, toda a vegetação desaparece e, no chão daquilo a que chamam oliveiras ou desenvolvimento económico, a terra nua ganha terreno em milhares de quilómetros. Muitos terrenos foram decapados 3 vezes: iniciaram com vinhas, foram arrancadas para dar lugar ao olival intensivo; por sua vez arrancado para dar lugar ao superintensivo (sempre subsidiadas pelo estado e antes que o lucro financeiro fosse uma realidade).

Estão aprovados mais 70 000 hectares (700 quilómetros quadrados) e a triplicação das, incontáveis, centenas de quilómetros quadrados no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para culturas hiperintensivas, numa região em que a água é insuficiente para o consumo humano e se encontra contaminada com substâncias cancerígenas.

Sem sorrisos
Guida Brito


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Os animais de estimação



Não dou conta dos caracóis; Guida Brito; Navegantes de Ideias
Estou certa que a grande maioria das pessoas que possuí animais de estimação, os mima, os abraça, os beija, os estrafega…




Estou certa que os perdoam pelo sapato ruído, pela camisa rasgada e até pela mijinha fora do local desejável. 

Estou certa de um amor puro que não olha a horas para a passeata da manhã. 

Estou certa que sem tempo há tempo para um sentar esquecido e um colo de afagos. 

Estou certa de tanto. Estou certa de um amor maior.

Não dou conta dos caracóis; Guida Brito; Navegantes de Ideias


O que não estou certa é se existe algum ser humano a quem atribuem o mesmo número de afagos, de beijos e de estrafegos; o que não estou certa é se existe algum ser humano que beneficie do vosso tempo descansado…  que perdoem da mesma forma… que beneficie de um sentar esquecido e um colo de afagos.



Teremos perdido a capacidade de amar o próximo? Teremos perdido a capacidade de acreditar e querer?

Não dou conta dos caracóis.
Sorrisos;
Guida Brito


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Dinheiro de gente pobre: não é aceite (Oh! Minha Santa Barbatana!)

Oh! Minha Santa Barbatana! - Guida Brito - Navegantes de Ideias


Muito embora o vento gélido me enrugasse a pele, a ausência de chuva levou-me a transpor o pial da porta. 






Caminhei um pouco e, após contar os cêntimos, decidi colmatar a falta de muitos dias: um café.

Decidida e sorridente (sobejavam dois cêntimos), entrei na tasca mais próxima e, de forma quase cantada, pedi um cafeziiiiiiinhooooo.
Retirei as quase quarenta moedas e coloquei-as no balcão.

Ao entregar-me o café, a senhora, esbaforida, comentou:
- Não vai entregar-me isso.



Confesso que não percebi; meio estupefacta, balbuciei:
- Isto é… dinheiro…
- Não me diga que me vai entregar essa porcaria?

Respirei fundo e pedi paz, calma, luz e bom senso à Minha Santa Barbatana. 

Ela devia estar no dia certo: mesmo sem os habituais andar de joelhinhos, velinhas ou afins concedeu-me cinco minutos de não levantes os caracóis. Sorri e, educadamente, na paz da Santa, respondi:
- Minha senhora, pelo amor da Santa, não quero que aceite esta …#”%6##. Tome lá o seu cafezinho que eu fico com o dinheirinho. E truca: saí, aos saltitos, sorridente como entrei.




Mealheiro: foi o seu destino. É por isso que viajo: gasto noutro país o que aqui não é aceite.

Curiosa, consultei a lei. Segundo o Banco de Portugal:

“o aceitante só está obrigado a receber, num único pagamento, 50 moedas (com exceção do Estado, das instituições de crédito e do Banco de Portugal”

Eu tinha razão; mas quem quer obrigar alguém a aceitar o nosso dinheiro?
Cafés há muitos, sua palerma!

Oh! Minha Santa Barbatana!
Sorrisos;
Guida Brito
(Santa Barbatana é a Santa que me controla e me impede de levantar os caracóis. A minha Santa brincalhona. O seu uso, nos meus textos, tem, unicamente e exclusivamente, essa função. Não pretende diminuir, menosprezar, denegrir outros seres humanos nas suas crenças ou convicções - por todos tenho o maior respeito: crente que na diversidade nos completamos.)



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Portugal assume que perdeu a independência ou que é a República das Bananas?

Guida Brito; Não dou conta dos caracóis; Navegantes de Ideias


A crer num meio de comunicação televisivo: a 1 de Dezembro comemora-se a Implantação da República. 



Parece que há por ali familiares governativos: sim, daqueles que não pagam deslocações aos funcionários, mas recebem-nos por viverem onde não vivem e por irem onde não vão; no assinar é que está o ganho. Provavelmente, a famosa televisão soube por portas e travessas e deu a notícia em primeira mão.

A falta de referência à Independência e quando se comemora, levou-me a pensar o que há muito temia.

Numa primeira abordagem,  conjugando a ocorrência com  o facto de uma Área de Serviço de Espanha apresentar, num mapa, Portugal como sendo uma província espanhola; com o facto de nos roubarem a água (vedando a sua passagem), com o facto de lhes pagarmos para usarem, no Alentejo, a água do Alqueva;  com o facto de, supostamente, terem invadido o Alentejo, arrancado as nossas árvores e destruído o nosso património histórico e ambiental; e, com o facto de  terem, supostamente, contaminado esta “reticência ponto e vírgula” toda… pensei: somos espanhóis.

Sorri: finalmente, sabia a minha nacionalidade. Pertenço a um país que prometeu dar-nos água lá prós tempos do Natal.

Sorriso que durou pouco tempo, lembrei-me que os Americanos compraram o resto do Alentejo e esgotam o que já não temos com o amendoal. Terão os espanhóis vendido Portugal? A Black Friday e o Dia das Bruxas confirmam.




Os meus caracóis, em estado de sítio, avisaram-me dos abacates, das uvas, das mangas, das alfaces, dos “béries”, da haxixe e do ópio lá prós lados de Messejana… cada qual pertencente a um país diferente. E veio a América, e veio o Japão, e veio a China, e veio a Holanda… não, não; a França… Ai! Minha Santa Barbatana! D. Henrique era um cavaleiro francês… se se lembram disso entram em guerra com Espanha.

Fica a dúvida: os espanhóis ocuparam-nos e venderam-nos aos bocadinhos  ou somos a República das bananas?

Uma coisa é certa: não sabemos quem somos nem quem impera por aqui. Cada um que vem faz o que lhe apetece.

Não dou conta dos caracóis
Sorrisos
Guida Brito