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quinta-feira, 12 de julho de 2018

A matrícula



Ontem, passei horas na oficina: muitas questões, muita papelada, muitos dados, muitas vezes a pergunta ”Qual é a matrícula? Qual é a matrícula? Qual é a matrícula”...  
Respirei de alívio quando o funcionário dos seguros  disse: “pode ir, se precisar de algo mando-lhe uma mensagem”.
Corri, satisfeita, feliz e airosa – o martírio havia terminado. Mal entro em casa, oiço o típico som de “Vocezinha” recebeu uma mensagem. Enfureci ao lê-la: “Posso ligar-lhe? Não tenho a certeza da matrícula.”
Passei-me dos carretos. Confesso: praguejei, praguejei... Oh! Minha Santa Barbatana!
Confesso que ainda praguejava: quando, muito furiosa, decido ligar-lhe. Disse tudo o que me ia na alma em alto e bom som. Não há paciência que aguente! Esgotara todos os meus infindáveis sorrisos.
Silêncio; um silêncio ensurdecedor ouvia-se do lado de lá. Atirei: sim?
Uma voz tímida e envergonhada fez-se ouvir:
- Professora, desculpe… eu…  eu preciso de ajuda com a matrícula (escolar) da minha filha.
Definitivamente: perdi todos os sorrisos, perdi o chão e fiquei sem pinga de sangue.

Vai de férias? https://www.booking.com/index.html?aid=1335611
Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Uma alentejana em Lisboa

Capital de Portugal


Conhecida pelas múltiplas viagens ao volante dos meus bólides, ninguém imagina: que a capital mais próxima se revela sempre um encalhe - para quem está habituada a não saber para onde vai mas para onde quer ir.
Sim! Já atravessei muitas vezes a ponte... mas as tropelias sucedem-se sucessivamente. Não tenho má ideia dos condutores lisboetas: se no inicio explodem inexplicavelmente, rapidamente ficam cativos dos sorrisos, beijocas e adeus que, carinhosamente, envio ao primeiro sinal de água entornada.
Sem ajuda dos amigos e querendo evitar a todo o custo parques de estacionamento ( eu lá saberei porquê), decidi:
- Carrinha, vamos a Lisboa e atravessamos a ponte- ela estremeceu e eu fiquei feliz.
Embora não tivesse publicado, as minhas intenções, no facebook: todos pareciam saber que a alentejana chegara. Uns paravam, outros esperavam e eu fiz tudo direitinho. Virei corretamente entre vias e vielas até me encontrar a 100 metros do destino. Uma manobra impensada, uma viragem contrária levou-me a conhecer mais uma zona da famosa capital. E agora? Não sei. Decidi apresentar-me, pessoalmente, aos habitantes de tão distinto local. Aproveitei uns semáforos, parei entre muitos, abri o vidro e obriguei (entre aspas) os que me rodeavam a copiar as minhas ações.
- Por favor! Praça de Espanha?
- Ui! Vem de lá!
- Eu sei! Mas gostei tanto que quero retornar- sorri.
- Pois! Mas agora já não consegue...
Mau! Reencostei-me (com a tradicional calma) no assento, enquanto enviava gestos de carinho aos que passavam pela esquerda, pela direita e com vontade de passar por cima.
- Que fazemos?- Inquiri com alguma marotice.
- Minha senhora! Quer que eu atravesse o carro, pare o trânsito e você vira para trás?
- Quero- respondi ignorando o pânico do meu simpático meio de transporte.
E assim foi- ahahahhahahahahaahahah- Lisboa parou para me ver passar.
Adoro os lisboetas! Amo esta gente calma, simpática e desenrascada. Na próxima vez, publico no facebook:
" Amanhã, a alentejana atravessa a ponte, 10 horas."
É certo que todos irão gostar de me rever e muitos os que me escoltarão. Obrigada, gente boa.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Um país de errados

Somos um país de errados: os professores estão errados; os enfermeiros estão errados; os mineiros estão errados; os jornalistas estão errados... Estão errados os que trabalham, trabalham mas não percebem nada da sua profissão: só se queixam de barriga cheia. Nunca vi tantos errados num país tão pequeno. E assim somos: denegrindo sempre a casa alheia- não vá o vizinho do lado ter mais do que eu. Somos todos profissionais da profissão do vizinho. Opiniões há muitas: bom senso e respeito é que aparece pouco.




Eu sou do contra:
- enfermeiros felizes zelarão com esmero pela saúde dos meus:
- jornalistas felizes informam com verdade:
- professor feliz fará o meu filho feliz:
- ...




Quando uma classe se queixa é porque algo lhe dói e dói muito. Atender, refletir e mudar farão certamente do nosso país um local melhor. O 25 de abril não foi há muito e o conseguido já se esvaiu: vivemos em tom de ameaça e de desrespeito pelo próximo. Sim, sou professora.
Sem sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Borda d’Água 1945- “ Reportorio util a toda a gente”


“-Maria, quando calha a lua nova?
- P’éra aí q´ê vô bscar o Borda d’Água.”

Meticulosamente guardado numa das arcas da casa (aquela que guardava os lençóis das visitas, a roupa nova para o dia de feira ; a camisa preta para o funeral do vizinho; o fio de ouro de três voltas e o talego do dinheiro), o Borda d’Água continha tão preciosas informações, indispensáveis à sobrevivência, que era certo e sabido que o seu vendedor, no dia da feira de Castro, rapidamente os esgotava. 


Este almanaque, criado em 1928, aliava a  sabedoria popular, a ciência e a astrologia; talvez por isso os seus prognósticos fossem tão certeiros e tão imprescindíveis na vida do agricultor; na vida das moças novas e casamenteiras (ali consultavam, no seu  Oráculo, as características dos homens nascidos no mesmo mês que o jovem pimpão que as cortejava - bom marido ou aldrabão?); no saber antecipado se era a chuva ou o sol que visitava o monte em dia de colheita ou festividade.


Lembro-me dos bailes de mastro, quando as ruas eram enfeitadas de balões, fitas e bandeirinhas de papel: a sua colocação, nas ruas, era orientada, de forma certeira, por este folheto preciso e com poderes quase divinos em matéria de adivinhação. Não lhe chamarei feiticeiro mas “o grande chefe da aldeia” pela forma como era cumprido e seguido. 


Apresentava-se como bom lembrete da visibilidade planetária, das feiras, festividades e romarias; revelava-se indispensável, cá p’rás bandos do Alentejo - no que se referia a plantios, mondas, sementeiras e “enxertos” das plantas de grande porte. 


Calendário Israelita, marés… uma enciclopédia informática apesar da sua diminuta dimensão: o computador da era antiga- com mais bits e “quilokapas” que o que manuseamos e comprámos na promoção da esquina. Enfim: “Reportorio util a toda a gente” ; como referia a sua capa.


Descobri nos meus caixotes do tudo guardo: o Borda d’Água de 1945. Fascinante! Partilho convosco o Juízo do Ano, realçando as partes que desejo que não se concretizem em 2017- já que por Terras do Mui Nobre Portugal os tons cinza enlutaram as suas gentes e ditaram a total devastidão de onde deveria vir o pão.

“… trigo ve-lo-ão por um óculo, o milho, a fava e tudo mais que se come atinge o valor das pedras preciosas por isso hão-de aparecer colares de grão, anéis de lentilhas, broches de ervilhas e assim por diante…”


Sorrisos
Guida Brito

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Fortes cheiros a gás, em Sines- formulários para registo de poluição industrial.

     Após os fortes e nauseabundos cheiros a gás que se fizeram sentir esta madrugada, em Sines, decidi procurar onde me queixar e manifestar a minha indignação. Não foi uma ocorrência única, um acidente imprevisível, é uma constante sempre que o vento decide deixar de desalinhar os caracóis. Sabe-me bem manter uma aparência alinhada (que satisfaça os padrões da sociedade) mas o meu organismo e o meu nariz rejeitam, sistematicamente, estas ocorrências  e preferem que os padrões da sociedade sejam satisfeitos no que se refere ao ar respirável. 
    Claramente, uma, ou mais (não sei). empresas da região desrespeitam as convenções internacionais que Portugal assinou e se comprometeu a cumprir. Sou portuguesa e cabe-me informar o governo do meu país sempre que algo desrespeite e quebre, de forma muito grave, o que jurámos cumprir. É o caso, a indústria presente gera milhões de lucros e é responsável pela empregabilidade da região mas tem que o fazer com: respeito pela saúde dos seus cidadãos; respeito pela Mãe Natureza e respeitando os acordos internacionais que Portugal assinou. E isso é possível, existem formas de coexistir com respeito pelo que que é sagrado. É isso que se pede: lucrem e façam-nos lucrar, respeitando e cumprindo. Descobri que a Câmara Municipal se preocupa com o bem estar da população e pede ajuda para identificar situações de poluição industrial; de forma a poder comunicá-las ao Ministério do Ambiente. Façamos a nossa parte ao preencher todos os formulários que o Município disponibiliza: 


Sorrisos (meio atrapalhados devido aos nauseabundos cheiros a gás)
Guida Brito

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Incêndio em Sines- a culpa é nossa


Nenhuma das minhas fotos consegue demonstrar as gigantescas dimensões do incêndio que, hoje, deflagrou em Sines. Incêndios de grandes dimensões, nos quais há muitas vítimas mortais, são já usuais por terras de Portugal. Parece que nos habituámos a números grandes e convivemos de forma pacata como se fossem cousa pouca; perdoamos, de forma amistosa, erros tão gravosos aceitando cordialmente a sua continuidade. 



Refiladela aqui ou acolá: zangamos-nos com o vizinho que dista da nossa opinião mas continuamos alapados no lugar do não faço nada; omitimos gestos que em tanto fariam a diferença.


Hoje, um incêndio, de grandes proporções, deflagrou numa empresa de pneus; ao lado de um complexo petroquímico; junto a uma escola; numa cidade com subterrâneos; onde há "milhentas" canalizações de tudo o que arde bem e monstruosos depósitos cheios de gás. Contrariamente ao que poderíamos pensar: a estrada não foi cortada;  a cidade não foi alertada para as atitudes a adotar; e muito menos ocorreu uma evacuação. Duas atitudes nos chegaram: em hora tardia foi dito não sei a quem (habito aqui e nada me chegou) que as pessoas com problemas respiratórios deviam ficar em casa (sim, nas nossas casas não entra gás); e os jovens foram enviados, pontualmente para a escola. Falamos de jovens transportados pelas entidades públicas: pontualmente, à hora x, estavam no centro do incêndio, dos gazes e do negrume. E lá ficaram durante umas horas.
O incêndio continua ativo e a população sujeita aos perigosos gazes; nada de anormal se passa em Sines: as televisões abriram os jornais com as acusações de corrupção de José Sócrates (acho que foi político e nunca percebi se era engenheiro; sei que assinava como se fosse).


Estamos neste ponto: enviamos jovens para incêndios; enviamos crianças para escolas inauguradas sem estar concluídas para ganhar eleições ( ignorando a perigosidade dos milhares de objetos por ali deixados e outros que nem me apetece lembrar); admitimos obras em convivência com crianças de tenra idade;  admitimos que se tapem buracos mesmo que fiquem ocos; escolhemos políticos acusados de corrupção… admitimos tudo infelizes, apenas, com o desempenho do trabalho do vizinho.
Os enfermeiros queixam-se e não lhes damos razão. Ou seja; os enfermeiros dizem que não conseguem tratar da nossa saúde com as condições de trabalho presentes: nós (que não percebemos nada de saúde) obrigamos-los a continuar e entregamos, nas suas mãos, as nossas vidas e a dos nossos filhos. Os professores do primeiro ciclo dizem que ocupam a maioria do seu tempo em atividades que nada têm que ver com a transmissão de saberes; confessam o seu esgotamento por excesso de trabalho: nós (que não percebemos nada de educação) obrigamos-los a continuar; damos razão às medidas que os professores dizem que violam  a qualidade de vida dos nossos filhos. Os mineiros…. nós pimba. Os médicos… nós pimba. Pimbamos tudo; achamos certo tudo o que minimiza as condições  humanas de trabalho. 
Tudo o que é visto de longe é pequenino. Até o incêndio.


Controlamos tudo para que sejam infelizes: gente infeliz é a gente que melhor trabalha. E depois entregamos-lhe os filhos, as vidas, a justiça e queremos…. Não sei o quê.
Caramba! Viramos-nos contra os que trabalham e achamos que sabemos tudo: educação, saúde, justiça…. Não há ranking que não seja nosso: somos o povo mais culto do planeta. Percebemos mais da profissão do vizinho que da nossa. Deve ser por isso que muitos controlam: a hora de entrada do professor, do enfermeiro, da repartição de finanças, do médico, do vizinho na casa do lado, quanto ganha, se tem alguma regalia... Devem ser por isso que muitos gritam com esta gente que só quer ter condições para realizar o seu trabalho de forma competente. Grita-se em forma de superioridade com os que, no momento, estão em desigualdade ou inferioridade; grita-se na morosidade da fila a incompetência da funcionária e não a escravatura a que é sujeita pelo patrão. Não exigimos saúde, educação, justiça ou qualidade de vida: aniquilamos profissionais isolados. Aniquilam-se os que trabalham; admitimos a corupção e a existência de medidas que nos retiram os poucos sorrisos que a vida oferece. Os profissionais estão cansados de vos dizer que as condições a que os obrigam não são permissivas de realizar mais ou melhor. Estão cansados de vos dizer que não aguentam e que a sua produtividade diminuirá com a continuidade do presente.


Oh! Santa Barbatana! Eu (que sou pequenina e muito) penso que era hora de acabar com políticos com suspeição de corrupção e mais umas coisas. Era hora de proteger os trabalhadores e acabar com os idiotas que, sem estudar, têm tantas competências em áreas tão vastas  que nunca exerceram.
Se eu deixar de controlar o vizinho e exigir, do meu país, medidas que me protegem: provavelmente, é isso que terei. Se eu continuar a controlar o vizinho: provavelmente, irei ser despedida porque me atrasei dez minutos, no trabalho, no dia em que o meu filho chorou.


O incêndio de Sines, não fez milhares de vítimas porque o vento levou a fagulha para o lado contrário. Nós fizemos tudo para que assim não fosse: até lá colocámos os jovens para arder tudo de uma vez.

Os animais fogem e nós enviamos os filhos.
Só penso: não quero passar o Natal com o Senhor Presidente da República; quero o meu filho a meu lado.
Hoje, não sorrio.
Guida Brito

domingo, 20 de agosto de 2017

República Democrática da Ilha do Pessegueiro- A História da independência do território


      Com o intuito de conquistar e proclamar a independência da Ilha do Pessegueiro, saímos de Porto Covo quando o mar se tornou seguro para a travessia do canal. Momento há muito sonhado pelo elemento mais novo da equipa dos Navegantes de Ideias. Chamada a comunicação social (eu própria),  embarcámos de encontro aos sonhos.


     O embarque foi no pequeno porto piscatório de Porto Covo, a bordo da embarcação do Senhor Matias.


Atrás, ficou Portugal adormecido na defesa do que é seu.


        No rosto transportava-se a certeza de quereres e de vitória.


    Ao longe, já se vislumbrava, graciosa, a futura República Democrática da Ilha do Pessegueiro, sorrindo cativa da inovação que adivinhara. Após anos de esquecimento e abandono no mar, ainda chorava intervenções passadas que quase afundaram o seu território e ansiava por uma ocupação sorridente- com total respeito pelo seu património natural e arquitetónico.


     O pequeno porto desempenhou um papel importante na invasão do território permitindo um desembarque seguro.


     Sem hesitações e com um rumo bem definido caminhou-se de encontro à independência.


     Avançou-se para a conquista do poder sem tropas nem armas: urgia provar que com sorrisos conquista-se o Mundo.


    Imponente, no ponto mais alto, o velho castelo aguardava a cerimónia da independência- um momento mágico que transformará para sempre a história da ilha. Acrescentar à história acontecimentos de afeto que se sobreponham ao que "por amor se matou novo" segundo rezam os cânticos. 


     Reina a paz e a calma numa paisagem idílica que em nada deixa antever a separação de Portugal: o Movimento Reorganizativo da Equipa dos Navegantes de Ideias dá início ao momento histórico da Proclamação da Independência da República Democrática da Ilha do Pessegueiro e da criação dos altos cargos da Nação.


     E, é aqui que o sorriso é proclamado como estado obrigatório da nação.


    Sua Excelência o Senhor Presidente Eterno da República da Ilha  do Pessegueiro dá início à cerimónia. Não havendo oponentes ou entraves o território é proclamado independente.


      Ao Senhor Matias é-lhe atribuído o título nobiliárquico: Comandante Mor da Marinha da República Democrática da Ilha do Pessegueiro. Num breve discurso, por parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Eterno da República da Ilha  do Pessegueiro, é distinguido por mérito e são-lhe conferidas as funções de defesa do território e de manutenção das práticas por ele desenvolvidas ao longo de muitos anos. 


     Não resisti e decidi comemorar de forma solene o título: Real Princesa Fotógrafa de Sonhos Concretizados da República Democrática da Ilha do Pessegueiro- Voadora sem Penas.

      Finda a cerimónia: foi gritada Vitória.


     Uma gaivota encarregou-se das relações diplomáticas e transmitiu a boa nova ao país vizinho- o mui nobre amigo Portugal.



      Sua Excelência decidiu fazer reconhecimento dos seus territórios.


     Finalmente, evacuou os seus domínios. Os turistas, convidados para testemunhas da Independência, foram orientados de forma a abandonar o território.


     Como forma de agradecimento, Sua Excelência o Presidente Eterno, acompanhou os visitantes até ao território português.

    

      Na nova República restaram os guardiões do tempo.

 República Democrática da Ilha Do Pessegueiro

     Sua Excelência o Senhor Presidente Eterno da República da Ilha  do Pessegueiro- Rui Varela.

    Real Princesa Fotógrafa de Sonhos Concretizados da República Democrática da Ilha do Pessegueiro- Voadora sem Penas- Guida Brito.

           Comandante Mor da Marinha da República Democrática da Ilha do Pessegueiro- Senhor Matias.

Fronteiras- fronteira marítima com Portugal.
Governo- República Democrática.
Data de Formação- 12- 07- 2017
Dimensões- 340 metros de comprimento e largura máxima de 235 metros.
Bandeira- amarela.
Clima- temperado mediterrânico com fortes influências marítimas.
Habitantes- 0
Moeda- não há- o comércio foi proibido no país.
Taxa de crescimento do PIB-  0%
Turismo- depende da aprovação do Comandante Mor da Marinha da República Democrática da Ilha do Pessegueiro- Senhor Matias.
Curiosidades- não há laranjas na falésia; não há pessegueiros no país; o Vizir de Odemira pertence à história de Portugal; há sorrisos que encantam nos leitores destas singelas letrinhas.

No país não existem unidades hoteleiras, se desejar visitar-nos deve ficar alojado em Portugal. Siga o seguinte link para obter os preços mais baixos:

A República Democrática da Ilha do Pessegueiro agradece a partilha.
Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O lixo - quero desaprender-me


O lixo é um amontoado de tretas que nos enfiaram no cérebro e nos afasta dos afetos. O lixo só existe porque nascemos vazios: deixámos que os outros arrumassem ali a tralha que não precisavam.

Não percebo muito bem a vida; nem o seu fundamento.  Sei que nascemos ao contrário e completamente virados do avesso. Ao invés de nascer de cabeça e vazios de saber: devíamos ter nascido de pé no chão e plenos de saber. Um Eu caminhante com identidade própria. Trazíamos um arsenal de saber nosso e que podíamos selecionar- apagar os ficheiros indesejados.

 Isso impossibilitaria qualquer um de nos enfiar meia dúzia de antitudos pela cachimónia adentro. É que chegamos a determinada época da vida em que estamos de cabeça tão cheia que questionamos: para que quero eu saber isto? E isso? E aquilo? E desaprender é um bico de obra! Depois de isto  estar cheio os gestos ficam teimosos- fazem o que lhes apetece sem comando nem ordem. Tão excessivamente teimosos que apetece parar e não fazer rigorosamente nada: a ver se isto passa e sentimos uma lufada de ar fresco.
Ao longo da vida, enchem-nos a cabeça com minhocas, minhoquinhas - uma entulhada de lixo sem tamanho. De saber dos outros. Enchem-nos de inibidores de sorrisos, entre rotinas carregadas do não devo. Quero lá saber destas tretas! Quero cuspir caroços; saltitar de nuvem em nuvem sob a luz das estrelas; quero sorrir ao vento; quero voar: sonho com uma boleia nas asas de uma gaivota que me transporá para lá do horizonte. Quero sentir-me livre - sem o peso da consciência entupida com o que os outros acharam que eu devia pensar ou fazer. Quero emagrecer dos excessos que depositaram em mim e sentir-me leve de saber. Sinto-me tão cheia que quase não caibo dentro de mim. Pensem comigo: para que quero eu saber passar a ferro (desculpem a asneira)? E lavar a loiça? E limpar a casa? E ir às finanças? E à câmara? E pagar o IRS, o IVA ou outros? E pagar a água, a casa, a luz, o telefone e o passe do moço? E? E...?
        Que fundamento têm as horas, os meses, os anos, as estações? Não basta sorrir com a surpresa de um campo florido ou com o crepitar do lume aceso? Não deviam ser os passarinhos a acordar-me?
          Para que quero eu saber o que devo ou não devo? Para que quero eu saber que os Vossos narizes se torcem e as Vossas línguas começam no corte quando eu cuspo caroços ou sento o rabo no chão para matar a fome? Às vezes, parece que estão a tomar conta de mim e não vivem vida própria.
E os afetos? Já pensaram? Funcionam de forma contrária: nascemos plenos e morremos sós. A maioria parte: uns em busca do não sei o quê; outros porque fizemos isto ou aquilo; outros porque não temos o xpto do carro, da casa e do sei lá que mais.. por milhentos motivos tornamo-nos escassos do que deveríamos encher-nos. Às vezes, queremos um abraço e não há. Verdade?
          Quero tanto desaprender-me e virar-me do avesso. Um dia libertar-me-ei do lixo que depositaram em mim. De cabeça vazia, correrei ao vento empeçonhando uns caracóis que são só meus.
           Hoje (cá está o tempo que não deveria ter aprendido), não deixo só sorrisos: seguem meia dúzia de abraços- afagos sentidos.
Se gostou: partilhe. Aqui, partilhar é um gesto de afeto.
Sorrisos, abraços e beijinhos.

Guida Brito

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A minha janela



               A minha janela podia ser um dos lugares mais maravilhosos e encantadores do mundo: podia mas não é. Em frente a um pátio era propícia a umas boas serenatas que teimam em não se fazer ouvir; podia ser palco de estrelas mas geralmente está nublado; podia abraçar desejos à mais singela estrela cadente mas, também… podia, podia, podia…nem as fadas pairam por aqui; oiço as discussões dos vizinhos e as brincadeiras das crianças no final da tarde, uma azáfama, um corrupio audível de palavras delirantes e presas nas gargantas dos menos ousados. Aqui, nas traseiras do meu prédio e no pátio da minha janela, as palavras não têm preconceitos: soltam-se e obrigam-nos a dançar, entre sorrisos, na canseira dos afazeres do jantar. Hoje, a vizinhança está calma, cansados da praia não apresentam forças para as habituais frases do fundo da carteira; o espaço foi evadido por alguns petizes que se fazem ouvir
   -Gooooooooooooooloooooooooooooooooo…
  - Portugalllllllllllll marcaaaa. È golo, é golo, é golooooooooooooo… Portugal ganha:1/0
       Pensei recuar no tempo, espreguicei-me nas nuvens e … rapidamente petrifiquei.
  - Vai, vai Ronaldo marca, marca e é g…… Mãeeeeeeeeeee! O Ronaldo não quer marcar.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Jurei que havia de encontrar o amor...



   
   Jurei que havia de encontrar o amor: sim, aquele que nos arrebata e não nos deslarga. O fogo que arde sem se ver: o contentamento contente. Aquele que encaixa e que nem que a casa caia se deslapa. 

Não está fácil e, de vez em quando, penso: esta coisa não existe… mas dizem que quando estamos quase a desistir é quando vencemos. Arrebito as ideias mais um pouco e acredito que uma boa lapa estará por aí, algures  no meio de vós. Não é uma lapa qualquer: não me sufoca; deixa-me respirar; não respira nem sussurra antes do meu café da manhã; e, claro, usa camisas com rugas. Não se liga em coisas pequenas e deixa-se sorrir. Usa palavras sentidas e perde-nos nos afetos do aqui e agora. Sabe o que quer e não se limita. Salta, pula e quando o sonho comanda a vida: despe-se do aparenta ser (vestimenta que nunca usou).
   
Como é que se despe o que nunca se usou?- Perguntam vocês.
   Pois, por isso é que não amamos todos os que se interessam por nós: é preciso ser especial. O interesse é um lugar inóspito onde as excelentes condições favoráveis ao acrescimento assoberbado do Eu: impedem a existência do nós- respondo eu.
   Sorrisos
Guida Brito

domingo, 9 de abril de 2017

A pega- por Guida Brito



    O meu muito obrigada, aos Forcados Aposento da Chamusca, pelo carinho e por me proporcionarem o primeiro contacto com o mundo tauromáquico. Espero conseguir dignificar, com as minhas fotos, não a Vossa coragem mas a grandeza do Vosso ser.
Apesar de radiante com o convite, a minha já célebre má educação (bestealidade) antes do café da  manhã quase, quase que me fazia perder o furacão das emoções que vivenciei; não fora a simpatia e coragem do meu grande amigo (bravo e corajoso: não por enfrentar, com o corpo, touros de 500 ou 600 Kg mas por ser capaz de contrariar e atrever-se a respirar perante este terramoto matinal de 55kg de gente; antes mesmo do néctar da felicidade que necessito para me conscientizar que existem outros habitantes no planeta). Calguei quilómetros (obrigada a voar, devido ao inconveniente piso das estradas portuguesas) e cheguei sem atraso significativo.
Uma beijoca, um abraço, um café e um chapéu branco: assim fui recebida no Mundo Tauromáquico Português; sobre o qual me apresentava vazia de qualquer fundamentalismo de qualquer dos lados dos debates públicos. O meu único sentir provinha das expressões prazerosas do meu pai quando interrompia, ou adiava, a sua vida trabalhosa e se sentava, confortavelmente numa velha poltrona, para ver : a Tourada. O auge era a pega e foi isso que fui fotografar à bela Herdade da Machoa, na companhia desse grande grupo de forcados Aposento da Chamusca. Uma homenagem e uma proximidade a um grande senhor da minha vida.

Olhei os que me rodeavam e pensei: “quando chegarão os forcados?” Saltou-me tudo e fiquei completamente prostrada ao constatar que as caritas que não deixam antever o que quer que seja e muito menos a tarefa que se seguia: eram os Homens do Dia. O tentadero foi pequeno para o vendaval de emoções que se fez sentir.
Não se enganem por qualquer foto engraçada captada num milionésimo de segundo que ninguém vê ou sente e apenas uma boa máquina consegue capturar. Aqui há coragem; há respeito;  cumprimento imediato das orientações hierárquicas dos que sabem por experiência própria;  domínio sobre si, sobre o outro e o que o rodeia; uma mão ajudante que aterra na hora certa; há postura; há humildade…  estes meninos de carácter submisso e que não deixam antever o que quer que seja: respiram bravura e enfrentam o Touro Pelos Cornos.

Saltitei apavorada e de coração nas mãos entre a arena e a escada de salvação (mesmo nunca estando em perigo) e fui fotografando na esperança de retratar fazendo jus à grandeza da bravura de ser destas gentes e destes animais.

Gentes que mesmo quando as lágrimas me raiavam os olhos e o coração sangrava na incerteza do ocorrido, mantinham uma organização, calma e forma de estar que nunca tinha observado; sem vozes sobrepostas ou alaridos, cada um desempenha a sua função: o responsável pelo grupo dá ordens calmas, precisas e claras que são meticulosamente cumpridas; outros referem a regularidade; outros proferem frases engraçadas que animam e fazem imperar a normalidade das lides; outros dirigem-se aos que lhe são queridos e assistem “Hoje, já não ganhas beijinhos do namorado”… desta forma encurtam a hora dolorosa e garantem uma não ampliação das sequelas dos braços irmãos. Há confiança e respeito.

Os animais, talvez sejam os últimos animais de grande porte que nasceram livres e vivem em perfeita comunhão com a Natureza em território português, numa área que se estende por vários quilómetros quadrados; tal como pude observar. Refiro que não sou fundamentalista (sem nunca ter consultado o dicionário) entendo que esta palavra significa- pessoa que por palavras ou atos tenta subjugar e denegrir seres cuja enormidade de ser deveriam ser exemplo. Observei tentando ser isenta até das mães que, apesar de não presentes, senti em todos os momentos que vivenciei e registei com o coração e a minha singela lente fotográfica. Aqui o animal é rei, quer pela forma livre em que vive, quer pelo trato. São bem audíveis expressões como: “ Não castigues o animal, enfrenta-o”. Há uma sua clara vantagem no corpo a corpo com os meninos Homens que enfrentam. No final, tal como acontecia antigamente com todos os animais na Mãe Natureza: se perdem a batalha servirão de refeição; se a vencem serão reprodutores e garantirão a bravura das gerações vindouras.

Provavelmente este meu texto será objeto de crítica pela maioria de vós: o natural, hoje em dia, é ter 40 anos e viver uma realidade virtual no computador, no quarto fechado da casa da mãe. Aqui não se teclam com os dedos jogos ou palavras de computador: é com pontas ou sem pontas. O natural é gostar de fois gras sei lá de onde; frango grelhado a um preço de mijona; coelho à caçador; hambúrguer dos “méques”; massas à carbonara ou pizas pré-feitas que garantem um comer rápido enquanto mensageio no facebook ou afins; natural é ser vegetariano, granívoro ou outro que esconda a presença animal… o natural é esquecer que desde o talho do vizinho, à promoção do híper, passando por qualquer alimento embalado, enlatado, congelado ou sei lá que mais: o nosso alimento provém de animais que nunca viram a luz do sol; vivem enjaulados num espaço menor que eles e nasceram com o único e exclusivo fim da morte e de sustentar financeiramente meia dúzia ricaços- muito provavelmente os que têm capacidade financeira para se alimentar da carne dos touros bravos que perderam a batalha. O natural, hoje em dia, são as hormonas, a manipulação genética, os cancros que daí advêm e a hipocrisia.


Fiquei com vontade de ir ao campo pequeno: não, não quero um lugar nas bancadas vestida de salamaneques e de salto alto. Quero: o salto alto e os salamaneques mas junto da arena; ali no rodopio dos que enfrentam o bicho pelos cornos.
Sorrisos

Guida Brito

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A frase que me faz perder a noção do tempo


O tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda a parte.
Não, não é esta a frase que me troca as voltas e me torna incapaz de saber a quantas ando. Esta passou a ser entendida por leigos, como eu. O futuro encarregou-se de confirmar a grandeza de um ser tão simples que percebeu, antes de nós e antes mesmo de ocorrer, o que é tão fácil ser entendido e ingressou no mundo da geração que desponta.
Troca-me as voltas e faz-me tropeçar na relatividade do tempo. Ei-la:
“ É carregada uma hora por segundo no Youtube”
Mais confusa fico (meio abananada, diria) quando quero carregar 3 minutos de vídeo e o ato demora uma hora. Pergunto: devemos alterar as medidas de tempo a tempo de não nos perdermos no tempo ou esquecemos o tempo e navegamos nas nuvens? Já lá vai o tempo em que a noção de tempo se perdia no abraço de um gesto puro (muitas vezes com tão pouco tempo).
Sorrisos
Guida Brito

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Como é que uma mulher bonita, como tu, não tem namorado?

      
     Como é que uma mulher bonita, como tu, não tem namorado?
     Algum defeitinho tenho que ter - respondi irreverente.


     Tenho muitos, pensei cá para mim; não é um: são muitos. O meu maior problema é este nariz de carácter arrebitado, lutador e que não se inibe em ser. Maroto e atrevido acha que o ferro de engomar e a cozinha estão a léguas do ser feliz e do se te amo ”não tenho que fazer prova disso nas rugas da tua camisa”. Aliás, tenho a certeza que as rugas da tua camisa não estão “nem aí” para o que sinto por ti. Tal e qual com os tachos, eles jamais se atreverão a ripostar um: “tenho o cú queimado”. Calam-se e ficam quietinhos na gaveta da cozinha (pudera, estão na cozinha logo são amados). Amor não pode ser isso: um papel que se espera que a mulher cumpra; um servilismo sem tamanho. Não adianta um “eu faço outras coisas, retribuo de outra forma”. 

Não! Não há nada que me faça feliz se tiver que duplicar o horário das horas infelizes. Amor significa duplicar a felicidade e não diminuí-la. Não quero uma mão que vem se eu lavar a loiça da cozinha. Não quero um sexo que acontece porque não há rugas na chata da camisa. Eu não visto camisas! Não compro roupa que precise de tal ferramenta que me faz tão infeliz. Também não gosto de esperar  devido à tua “super importante profissão”. A tua é tão importante como a minha e a minha desenvolvo-a com esmero e profissionalismo; o meu trabalho será sempre “5 estrelas”, garanto sucesso, faço-o com gosto mas não te chateio - resolvo os problemas: não os passo para ti, nem invento meia dúzia de nadas que me impeçam de te abraçar.

     Quero natureza, abraços, mimos, gosto de ti, sorrisos, viagens e meia dúzia de nadas que apenas justificam o gosto de estar ali. Quero  esquecer as horas e lembrar-me, a toda a hora, o que é ser feliz. Quero esquecer que o mundo existe e caminhar nas nuvens. Quero tão pouco. Quero um pão na mesa e horas infindáveis de afetos. Não quero nada; quero apenas que existas; que um dia esbarre contigo numa qualquer esquina;  quero saber que não desististe de mim. Quero abraçar-te, mimar-te, dar-te todos os afetos que te fazem feliz; quero saltar, sorrir e fazer com os teus dias sejam curtos para ser vividos. E quero que pagues com juros (até ao último tostão) essa história do ser louco e por ti. Quero-te ali no improvável e na loucura do inesperado. Não quero um papel corriqueiro trajado de coisa nenhuma. 
Quero um pouco do nada que sabe ser feliz.



Sorrisos

Guida brito