terça-feira, 26 de setembro de 2017

As chitas , o riscado, o cretone, o vestido da vizinha e as camisas da minha avó: “talego”


Com pequenas flores ou cornucópias, em tons de azul e branco, comprava a minha avó restos de tecido. Uma vez no ano, antes da feira de Castro, fazia duas camisas. De saias: uma lhe bastava- um azul ou cinza, escuros, eram as suas cores prediletas. Não sei se a escolha de cores não dependia da imposição da moral da aldeia- já que todas as vizinhas me pareciam iguais de vestimenta. Camisas e calças janotas eram meticulosamente elaboradas e assim vestia o meu avô, em dia de vender as mulas e as vacas. À feira não se ia que não fosse de roupa nova (dia de ajuntamento da região e do abraço aos primos e compadres- que há muito não se viam). Já a vizinha, moça nova, lhe pedia um vestido (em tom de favor) com o tecido de grandes flores que lhe ofereceram e veio do estrangeiro. É que os rapazes iam todos gaiteiros e precisava ir toda jeitosa. Na azáfama que antecedia a feira, caiava-se a casa; com chitas e cretones substituíam-se as saias das arcas e o bancal da cozinha. Se fosse caso disso, ainda se comprava o resto da peça de riscado (mais barato porque tinha defeitos);  substituíam-se os velhos colchões de lã e afofava-se o de palha.


Não! Shiiiiii! Santa Barbatana! Vocês não sabem o enlevo de dormir nos colchões afofados e nos lençóis lavados na ribeira. Ainda sei o cheiro e a doçura de uma noite bem dormida.
De tudo isto, sobravam pequenos bocados de tecido: pacientemente, com as suas mãos enrugadas,  cortava, ao serão, pequenos quadrados de tecido. Com a ajuda das crianças torciam-se linhas de fazer as meias. Lembro com saudade a seca do “não te mexas”; ali ficava eu, de dedo esticado, completamente imóvel: não fosse estragar o dito cordão. Alinhavados e cosidos, os restos de tecido deixavam antever os “talegos”. Os grandes para o pão; os pequenos para o dinheiro.
Hoje, são meus os velhos “talegos”: alembradura dos bons e deliciosos momentos.
      Sinto a falta da minha avó: dos cinco tostões, do beijo, dos recados, da voz que imitava o rude. Sinto falta de quem me sabia tão bem; saudades da dura côdea na gaveta da mesa da cozinha; e, das sobras do quem nada tem e a ainda sobra para a menina.

Sorrisos
Guida Brito

domingo, 24 de setembro de 2017

Paragens no tempo

     As paragens alentejanas: no meio de nenhures servem os que dali distam alguns quilómetros a pé. Perfeitamente enquadradas na paisagem, apresentam-se como monumentos nacionais: são cultura e fazem-nos parar no tempo - num tempo que a carreira já lá vem. Daqui se parte até à vila e se fazem as compras mensais: num consumismo fiel às necessidades básicas (esquecendo o chocolate, os amendoins, os tremoços; a revista dos vips ou ou o que luziu a um olhar que não excede o fundo dos bolsos).
     Esta encontrei-a no Viseus; concelho de Castro Verde: as cores parecem morar ali e o tempo perde-se na brandura do Alentejo.

Se visitar a zona, siga o link:

Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Eu quero...

     Eu quero um mapa das nuvens e um barco bem vagaroso.
Mário Quintana

Sorrisos
Guida Brito

Regressámos e foi assim


      A saudade já se fazia sentir; os nossos corações ansiavam pelo saciar de abraços. Os sorrisos e os afagos foram servidos com requinte enquanto se iniciava mais um ano escolar. 



     De apetites renovados, o trabalho não se fez esperar: a Violeta decidiu dar a aula. Trouxe-nos a sua amiguinha Aratinga Jandaya e nós aprendemos tudo. É tão bom regressar.


      

Ficámos fascinados com as carícias da nossa atrevida: circulou pela sala cumprimentando todos.


     Deixamos-vos as fotos de um momento muito especial. Sejam bem-vindos a mais um ano escolar.




    A todos desejamos um ano pleno de saberes e afetos.
Guida Brito

terça-feira, 19 de setembro de 2017

S. Tomé



A precisar de magia, programo a minha próxima viagem. Pafernálias de papéis e afins ditaram um esvoaçar do verão que quase não vi. Como ninguém merece mais do que eu, com uma Europa quase toda percorrida, decidi voar nos sonhos e querer um regresso ao passado. Sou velha (embora o sorriso o recuse e os caracóis o disfarcem) lembram as minhas memórias. Sou do tempo em que o fim das inúmeras horas, na fronteira, ditavam um Mundo novo: a surpresa perplexa de culturas que nos faziam crer que distávamos, em muito, o para lá do horizonte- bebíamos cada instante, quase sem espaço para tanto novo. 



Agora? O pequeno almoço é continental em toda a Europa; os trapos dos manequins são os mesmos de qualquer montra, de uma qualquer rua direita ou centro xpto; a aprendizagem do inglês impede futuras memórias sorridentes… Não há barreiras e corremos, atulados em stress, para sermos os primeiros nas infindáveis filas do quero ver… nem os monumentos, já vistos e revistos em nets e outros comunicativos nos abrem a boca exclamando surpresa. A cultura nativa quase se extinguiu e a Europa está igual. Preciso abrir a boca e deixar fluir o espanto do não visto. Tenho tanta urgência em fazer: “AHHHHHH”. Preciso de uns AHS na minha vida; sim, aqueles que permitem um regresso de brilhozinho no olhar.

Abri os olhos e pestanejando, vezes sem fim, decidi descobrir um destino onde o pequeno almoço não fosse continental. E descobri: descobri S. Tomé e apeteceu-me tanto. Ali: lava-se a roupa no rio e de vista só o belo se alcança.

Pelo que li, é um destino de sonho. É o segundo país mais pequeno de África e a simpatia das suas gentes acolhem-nos num mundo só seu.  A cultura; a diversidade da paisagem (da majestosa vegetação tropical à savana); o café, o cacau, a fruta pão, a mandioca, os cocos, as jacas; as tartarugas da praia Jalé; os caminhos de terra batida que nos transportam a segredos locais; as roças; o património colonial; o clima; os macacos e os papagaios…Shiiiii! Santa Barbatana! O que eu vou amar!



Com sorte e de forma atempada, consegue-se um voo de ida e volta por menos de soo euros. É um destino muito atrativo porque ainda é pouco explorado turisticamente; o que significa: uma cultura quase intacta. Pelo que percebi existem três rotas para percorrer toda a ilha: o sul, o norte e o centro- cada uma mais bonita do que a outra. Aqui, não há pressa nem hora marcada; reina o cheirinho a diferente. Um país seguro onde se pode caminhar e ousar; pleno de paisagens virgens- intocadas. Quero perder-me no tempo, ouvir o canto dos pássaros e dar brilho aos meus caracóis: vou.  De forma a não perder os pequenos grandes recantos e conhecer o mais belo que só aos locais pertence, é bom conseguir um guia. Pesquisei e encontrei um grupo: realiza caminhadas que nos transportam ao surreal dos locais inalterados e proporciona momentos inesquecíveis. 



Sempre metódica e super curiosa, quando se trata de viajar, decidi ultimar o meu programa contactando o grupo. Não estranhem, sempre assim o fiz: se sou eu que viajo, sou eu que programo. Marco avião, dormidas, visitas… organizo o meu programa de forma tão económica que faço caber uma viagem no meu curto orçamento. 

Vantagens: os cheiros chegam mais cedo; as viagens prolongam-se no tempo; viajamos ao custo do de cá. Viajar sozinha e para longe requer cuidados redobrados com a segunda melhor pessoa do mundo (a primeira é, claro, a outra metade dos Navegantes de Ideias): eu. Enviei algumas questões ao grupo e as respostas deixaram-me estupefacta. Longe da impingisse comercial dos tempos que correm, foi notória a afamada simplicidade, cordialidade e forma de estar do povo santomense; um profissionalismo inigualável. Os contactos que mantive foram uma mais valia na organização do meu programa e vão-me permitir desfrutar melhor do meu tempo na ilha. 

Marquei, com eles, alguns passeios imperdíveis e únicos. Foi tanta a partilha que fiquei certa: levam-nos pelos trilhos rumo ao impensável. No meu regresso conto-vos tudo e apresentarei o melhor roteiro para conhecer S. Tomé. Deixo-vos o link do grupo se quiserem espreitar:



http://banbenontours.com/index.html

 Quero regressar ao passado, perder-me no tempo e deslumbrar-me no imprevisto: vou.  Regresso ao surpreendente “jamais imaginaria que pudesse ser assim”.

Sorrisos


Guida Brito

E vocês? Também deslizam?

Escorregadela, deslize, descuido ou gafe não são termos que designam ações ou palavras impensadas que involuntariamente causam constrangimento ao autor e/ou às pessoas a ele próximas.

 São obras pensadas e induzidas pelos oponentes de qualquer história ou momento. Sem dúvida, meus amigos, é esta a problemática com que se deparam os seres que têm consciência da existência das fadas. É horrível o tempo que temos que aguardar pela chegada dos seres divinos que através da magia anulam ou revertem a nosso favor os efeitos nefastos de uma gralha. Sou tão dada a estes episódios- sobre os quais não tenho qualquer controlo- que me atrevo a concordar com a velha máxima: “ se não fossem as fadas o que seria de mim?”
Sorrisos

Guida Brito

domingo, 10 de setembro de 2017

Somos dois


     Somos dois: navegantes de ideias, viajantes incontroláveis, caçadores de sorrisos velejando por onde a brisa nos levar.
   Partilhamos: ideias, afagos, o calor dos abraços, ternura, bravura, admiração, pirralhices e ADN – que apresenta falhas de normalidade mas fortes laços de coração.
    Abraçamos: ideias, estrelas, nuvens, amigos… a vida.
       

Não esqueça:

Ser autor de um blogue é um trabalho que requer muitas e muitas horas de dedicação. Navegantes de ideias é uma equipa: mãe e filho. Dois teimosos- acreditam que o esforço compensa e concretiza sonhos. Se for viajar e decidir marcar hotéis através do booking, use a nossa página para aceder. Fica o link: https://www.booking.com/index.html?aid=1335611
Sorrisos
Guida Brito

Compadres

     Os últimos acordes, após o lavar das palavras, antes de se fazer ouvir o Património Cultural da UNESCO. O Mestre orienta os Cardadores da Sete para a atuação numa das mais antigas tabernas portuguesas: "O João das Cabeças"- Castro Verde. Um momento ímpar: vozes que sorriem.

A nossa escolha para alojamento:
Sorrisos
Castro Verde

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Parece-loucura-e-talvez-não-seja

Lei da Atração: aquilo que visualizamos consistentemente, aquilo que focamos em nosso pensamento, cedo ou tarde se transforma em realidade na nossa experiência.... e mais...Hipnotismo é visualização, focar algo no pensamento: é a Lei da Atração com um super-compressor. Hipnotizados, ouvimos, cheiramos, sentimos o gosto: tocamos as sugestões que permitirmos que adentrem nossa mente — não cedo ou tarde, mas agora mesmo.
"aceite a sugestão de refletir sobre essa situação-que-parece-loucura-e-talvez-não-seja"

Richard Bach
Sorrisos
Guida Brito

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Évora em dia de chuva




Adoro passear em dias de chuva, fazê-lo no Alentejo significa assistir ao seu banho anual. Renovado e de cara lavada ganha vida, luz, cor e reflexos. É tão inquieto que que não consegue manter a mesma paisagem ao longo do ano; numa ilusória calma contrasta tons ao sabor das estações. Fotografar reflexos não é fácil e, claro, sou sempre apanhada em poses que não se enquadram nos conceitos normais da maioria dos habitantes do planeta. Ignoro os mortais e penso “Sejam felizes”. Não me acanho,  bebo, clique após clique, o carinho que o local me desperta. Hoje, dou-vos a conhecer o meu olhar sobre Évora. Podia dizer-vos: vão aqui, vão acoli e não esqueçam a Capela dos Ossos. Nada disso. Descubram. Comecem devagarinho e despertem os sentidos como se nunca nada dali ouvissem. Perfumem-se do desbravar de segredos. Nunca viajem ao som do gosto dos outros; sigam o Vosso querer e envolvam-se do Vosso olhar. Construam a Vossa viagem- a verdadeira inicia-se quando saímos do aglomerado do turisticamente lotado.


Chovia, e esta cidade, Património Mundial da UNESCO, vestiu novas roupagens sorrindo ao brilho do meu olhar.









      Se deseja pernoitar na cidade, veja a nossa escolha: 

Sorrisos
Guida Brito

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Frase do dia

     

     De tudo na vida, devemos reter o que nos faz sorrir: somos a pessoa com a qual temos que viver todos os momentos da nossa curta existência. Deve ser horrível habitarmo-nos com alguém entediado. 
"Ser feliz" depende da nossa capacidade de olhar- de sentir o lado belo da vida.
Sorrisos
Guida Brito

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A beira-mar- 4 fotos

      
      Adoro a beira-mar. Ontem, o mar estava incrível. Não lhe resisti e com a minha fiel amiga: registei momentos de um mar alentejano que, por vezes, discute com a areia. 




      Em setembro, a temperatura da água faz apetecer um bom mergulho. O mar, geralmente, está calmo e as praias são quase só nossas: em pura comunhão com a Natureza.

Se optar por passar pelo Alentejo Litoral, veja a nossa sugestão de hotéis:

Sorrisos
Guida Brito

sábado, 2 de setembro de 2017

Alcácer do Sal



Alcácer do Sal


        Outrora local de paragem obrigatória- aos que viajavam entre a capital e o sul do País. Alcácer do Sal tornou-se mítico pela sua beleza, pelos arrozais que ladeiam o rio Sado e pela afluência de gentes que, aqui, se faziam sentir Eram tantas as gentes que desenvolveu comércio próprio, aproveitando os recursos naturais: pinhoadas (doce elaborado com um dos melhores pinhões do mundo) e venda, na rua e nas “carreiras”, do camarão do rio (previamente cozido). Nesse tempo, eram raras as cegonhas residentes no nosso país; existia um casal, cujo ninho se encontrava por cima da sinalização que indicava esta localidade. Tornaram-se tão famosas que foram retratadas num jornal diário e na TV. Após a construção de uma autoestrada que sobrevoa os arrozais, perdeu o corrupio e recebe os que ali se deslocam com intento. Alcácer é a cidade mais portuguesa: presente nas recordações de um povo que na sua infância ali se adocicou- lambendo os papéis e os dedos das deliciosas pinhoadas; ou, de saquito na mão, sugando pequenos camarões.

O que visitar?
- observar as casas caiadas.
- passear pelas ruas estreitas e ser atento às suas gentes. Imperdível: rua do Bairro da Graça, Largo Luís Silveira, passagem pelo Arco do Coronel e Travessa das Espanholas.
- passear pelas duas margens do rio Sado.
- subir ao alto do castelo e visitar o museu escavado no subsolo.
- visitar os inúmeros miradouros.

- deliciar-se com uma pinhoada em folha de laranjeira. Não esqueça de dar pequenas trincas na folha que a acompanha- sabores que contrastando se completam (divinal).
- observe os inúmeros ninhos de cegonhas que, agora, ali proliferam.


Se pretende reservar hotéis em Alcácer do sal, siga o seguinte link:

Sorrisos
Guida Brito