Não é possível medir, com exatidão, a verdadeira extensão da
área ocupada pelas culturas superintensivas (olivais, salsas, bróculos e
outros): é possível observar que muito mais de metade do Alentejo já
desapareceu. Muitos milhares de hectares (muitos milhares de quilómetros quadrados) deram
lugar a estas culturas, destruindo tudo no seu caminho (serras, montados, olivais
tradicionais, património histórico… a vida). Engolem
povoações e só param a 5 metros do mar, onde as arribas impedem o seu avanço. Tudo desaparece e a vida resume-se a meia dúzia de alentejanos que residem nas povoações engolidas pela morte.
Através do Google Earth (imagens da terra, obtidas a partir
de satélite) é possível observar um Alentejo que já não existe. São imagens chocantes
que partilho convosco.
Tudo se inicia de forma discreta, do interior para a periferia, no centro dos montados e das zonas protegidas. Uma pequena fila de árvores resta perto das estradas, escondendo a verdadeira dimensão da catástrofe ambiental.
Uma pequena clareira é iniciada, a vegetação é destruída, toda a superfície do solo é decapada (numa ausência total do que quer que seja) e nivelada; dá origem a um gigantesco círculo e, posteriormente, acontece o mesmo a todas as zonas adjacentes.
A vegetação é queimada e o montado removido.
Começam a formar-se gigantescos círculos:
(https://earth.google.com/web/search/38%C2%BA05%2706%27N8%C2%BA16%2731%27W/@38.08153572,-8.27477141,75.094748a,1889.21947411d,35y,-0h,0t,0r/data=CigiJgokCV5b1b4mGUNAEaXvd6FLFENAGZiXYpUTSx_AIVYOuMvMsh_A)
Em pouco tempo, nada resta da superfície terrestre, no interior do círculo:
Seguem-se as zonas adjacentes, não restando uma única forma de vida:
Para perceber a verdadeira dimensão de uma das maiores catástrofes ambientais, a nível mundial, rodeei algumas zonas que foram completamente devastadas e calculei a sua área. No entanto, infelizmente, as áreas rodeadas são inferiores à centésima parte da devastação. É necessário, também, considerar que as imagens do google Earth não estão atualizadas, e algumas imagens têm mais de 3 anos; e, nestes 3 anos, o Alentejo foi alvo das maiores intervenções. Muitas das zonas de montado que observa: já não existem.
https://earth.google.com/web/search/38%C2%BA05%2706%27N8%C2%BA16%2731%27W/@37.99927366,-7.68851924,155.56530184a,32340.5105963d,35y,0h,0t,0r/data=CigiJgokCV5b1b4mGUNAEaXvd6FLFENAGZiXYpUTSx_AIVYOuMvMsh_A
Fotografia aérea da zona de Alvalade:Dos céus, é possível fotografar as povoações que estão completamente rodeadas do "não há vida". A Salvada é apenas um exemplo. |
https://earth.google.com/web/search/38%C2%BA05%2706%27N8%C2%BA16%2731%27W/@37.92023481,-8.33665542,85.75392785a,2711.49098118d,35y,0h,0t,0r/data=CigiJgokCV5b1b4mGUNAEaXvd6FLFENAGZiXYpUTSx_AIVYOuMvMsh_A
Muitos e muitos quilómetros quadrados foram devastados de vida. |
No Litoral Alentejano, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, através das fotografias do Google Earth, conseguimos observar que, entre Vila Nova de Mil Fontes e Odeceixe, existe uma área de 238 quilómetros quadrados (23 800 hectares) plena de estufas e culturas superintensivas. De uma das zonas mais bonitas do Mundo e de elevado interesse a nível internacional devido à biodiversidade, tanto
florística como faunística, resta uma pequena faixa: com uma largura que varia,
maioritariamente, entre os 5 e os 100 metros de largura.
https://earth.google.com/web/@37.61331637,-8.77545171,63.08160571a,2720.93149553d,35y,0h,0t,0r
A preparação dos terrenos para as novas culturas exige profundas alterações a nível da orologia. A lei permite 80 cm, imagens do Goole Earth comprovam movimentações de terras que atingem valores muito superiores.
Movimentações de terras para as novas culturas atinge, aqui, 7 metros de profundidade. |
Sempre do interior para a periferia
Por vezes, é uma estranha substância Branca que evidencia queimar todas as formas de vida. Os troncos das árvores são, posteriormente, agrupados e queimados ou desfeitos e enterrados.
Casas entre a vegetação
O aparecimento de construções, escondidas pela vegetação, constitui indicio da proximidade da destruição total das zonas adjacentes. Chegam as máquinas e, aos poucos, a desolação e a morte são o novo Alentejo.
Nesta zona, ao aproximar a imagem são visíveis várias máquinas de grande dimensão. |
Chegam as máquinas |
No litoral alentejano, as novas culturas travadas pelo mar, expandem-se para a serra da Vigia.
Serra da Vigia
A poucos quilómetros de Odemira, nesta simples imagem, encontrei 13 pontos onde se inicia a desbastação total.
Observemos o ponto 2:
Ao aproximar a imagem é nítido o desbaste total de vida.
Milhões de árvores desapareceram dos campos do Alentejo. |
Os Círculos
Cada um destes círculos apresenta uma área superior a meio quilómetro quadrado.
Com uma paciência infinita, consegui contar 887 círculos no Alentejo; são muitos mais. Sendo consciente que a área envolvente é superior e que, posteriormente, muitos perdem a forma, podemos contabilizar milhões de hectares ( muitos milhares de quilómetros quadrados) de destruição.
Na área de Beja, entre Beja e a Vidigueira, consegui observar 760 quilómetros quadrados de terrenos que foram alvo de total desbaste da superfície do solo. Esta é apenas uma parte do que ocorreu e continua a ocorrer, num atentado à vida e à dignidade do povo alentejano.
Nas primeiras intervenções do solo são poupadas algumas árvores, dando a ideia que o montado é alvo de respeito. No entanto, podemos observar que todas desaparecem e o nada mata o Alentejo.
Após o nada, surgem as plantações superintensivas, num desgaste total dos nossos recursos e deixando no seu caminho químicos altamente poluentes.
Podia continuar a mostrar-vos fotografias aéreas de um Alentejo que já não existe, deixo-vos os links e solicito a Vossa reflexão.
Milhões de hectares, muitos milhares de quilómetros
quadrados foram arrasados de vida; outros tantos iniciam-se em pequenas
clareiras no interior dos montados. Reinam plantações superintensivas que exigem mais
do que os solos lhe podem dar. No seu rasto, os químicos que povoam de cancro as
terras do Alentejo… e não consigo perceber o que lucra o meu país com isto.
Continuamos a pagar bancos, empregos não há, aumenta-se a idade de direito a
reforma, a economia continua um desastre… Quem lucra? A quem vendemos o
Alentejo? A quem vendemos o nosso país?
Porque é o Alentejo uma terra sem lei?
O problema não são os olivais superintensivos, não são os bróculos, não é a salsa, não são as amêndoas, não é a vinha... o problema é a plena ocupação dos terrenos, em simultâneo, sem planeamento, sem respeito: o problema é o desbaste total e a contaminação química que daí resulta. O problema é a extinção das condições essenciais à vida.
“Só depois da última árvore derrubada, do último peixe morto, o homem irá perceber que dinheiro não se come.” – uma frase que não se aplica: não há dinheiro; no Alentejo, a morte chega de forma gratuita.
Ler também:
“Só depois da última árvore derrubada, do último peixe morto, o homem irá perceber que dinheiro não se come.” – uma frase que não se aplica: não há dinheiro; no Alentejo, a morte chega de forma gratuita.
Ler também:
Olivais do Alentejo: o crime é cometido sem medos nem receios
Sem sorrisos
Guida Brito
Infelizmente é o que temos ... É muito triste ver e assistir ao que a Guida aqui escreveu, é a pura da verdade. Mas, tão ou mais triste do que isso, é ver os nossos responsáveis políticos assobiar para o lado que se nada estivesse a acontecer!Isto somente acontece por "eles" permitem que isso aconteça, nem a lei fazem cumprir
ResponderEliminarNão há palavras que possam ser ditas, há que fazer algo antes que seja tarde demais.
ResponderEliminarE o ministério do ambiente que temos...
ResponderEliminarTudo isto para evidenciar que a humanidade não deu certo,sinto muito se pareço cético,por fim ,só vamos cada vez mais nos distanciando de nós mesmos. Perdidos, deste modo tão ignóbil,a nossa existência, pessoal ou coletiva perde o sentido,e a vida se transforma em "prazo de validade".
ResponderEliminarÉ o pseudo ministerio que temos,ao serviço como sempre do dinheiro .
ResponderEliminarWhen farms are small and run by families, they do their best to care for the whole farm land. Big companies aren't 'farming' they are running businesses and behave as though the earth is limitless in it's ability to give.
ResponderEliminarÉ levantar o cuzinho do sofá "e ir para gritar" como dizia o Zeca,e hoje é um bom dia..
ResponderEliminarIsto é tudo muito triste. Os governos ignoram por assim conven. O povo é entretido com superficialidades, e não se interessa. A humanidade falha todos os dias. Haverão sempre as minorias que farão a diferença mas o desfecho será brutal. E as gerações futuras terão problemas que esta cria a todo o instante. É bom haver divulgação destas notícias que sensibilizam. É este o caminho.
ResponderEliminarOlá, recentemente comecei a realizar ortofotomapas com recurso a drone, o que com recurso a software especializado permite cartografar em poucos minutos alguns hectares de terreno. Se puder ajudar a dar imagens e assim ajudar na divulgação do problema, terei todo o gosto em colaborar pro-bono. Cumps
ResponderEliminarEste crimes não acontecem apesar do nosso Governo, acontecem promovidos pelo nosso Governo: vale tudo para equilibrar a balança comercial. Mas infelizmente a verdadeira catástrofe vai começar agora. China, a supremacia do capitalismo de estado sem escrúpulos, mil e quatrocentos milhões de habitantes, o país mais populoso do mundo e o maior consumidor de carne de porco. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa informou com um sorriso que a caixa de pandora está aberta, as exportações em massa vão começar. o Alentejo será em breve, não uma pocilga, mas um esgoto a céu aberto.
ResponderEliminarDe acordo com o meu papel de piloto e fotógrafo, tenho tido a oportunidade de sobrevoar e fotografar o nosso País ao longo dos últimos 10 anos, e sem dúvida que notei uma grande alteração no seu aspecto (blogue "A Terceira Dimensão"). Entristece-me constatar aquilo que irreversivelmente se estraga apenas para seguir o trilho da ganância e do consumismo ...
ResponderEliminarExemplos desta constatação são as pedreiras que já "devoraram" uma considerável parte das nossas paisagens naturais (Borba, Outão, Sesimbra, Ota e muitas mais), as explorações mineiras à superfície (Aljustrel, São Domingos, Lousal, Neves-Corvo em muitas mais) e monoculturas intensivas visíveis até ao horizonte. Tudo isto me deprime e faz-me concluir que o bicho-homem está rapidamente a cavar a sua própria sepultura apenas para satisfazer a sua sede de ganância e as suas necessidades de vaidade e capricho.
Parabéns, Guida, pelo seu trabalho de alerta às consciências, que julgo não ser em vão.
Sugiro que faça uma visita a Borba para ver o crime ambiental que aí se cometeu. Apenas um no meio de muitos que flagelaram o nosso querido País em nome do "progresso" ...
http://portugalfotografiaaerea.blogspot.com/search/label/Pedreiras
Bem-haja Duarte pelo registo que tem feito. Terá levantamento fotográfico de determinadas zonas, ao longo dos anos? Seria importante ter esse registo fotográfico e cronológico. Abraço
EliminarQue tristeza infinita! Todos os dias, todas as horas, crimes ambientais que mais parecem imagens de ficção! A imaginação cinematográfica de filmes de horror, é brincadeirinha diante da realidade devastadora do ambiente! O ser humano está doente da cabeça, do coração… Já não tem capacidade de sentir, nem animal irracional é. Não consigo classifica-lo! Não me parece que seja filho do planeta Terra, já que a odeia tanto!!!!!!
ResponderEliminarConcordo que quem é capaz de destruir dessa maneira,não parece filho do planeta Terra. Mas não concordo quando disse "o ser humano esta doente da cabeça, do coração...". Nós aqui nesta conversa pelo menos, somos seres humanos...mas não me quero confundir com seres assim de valores invertidas e opostas as nossas. As nossas são de amor, respeito e admiração a Vida e a Criação. Os valores deles são o oposto. O que podemos fazer é não nos deixar "contaminar" com o medo e negativismo, porque é isso que eles gostam. Gozar do poder e assustar o "povo".
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ResponderEliminarFelicito a Guida Brito, com um forte abraço por nos mostrar e demonstrar a imensidão da ignorância , da pouca inteligência do homem politico dos nossos dias a troco de nada ... ou talvez não... não ha duvida , é preciso tomar consciência , divulgar dentro do possível de cada um de nós - a revolta a esta impotência !
Uma tristeza enorme apoderou se de mim e decerto de muitos , depois de ler esta peça sobre o Alentejo - ultimo reduto de uma provincia saudável de espirito e de valores , cunho único em extinção , de qualidade , integridade de pessoas de bem !
Espero que a Guida Brito continue nesta sua luta que é nossa, de todos - por Portugal , para com ela podermos corroborar .obg!
Ana Margarida
No Google Earth é muito interessante olhar para esta região... e usar o Cursor do Tempo... para ver como era há 10 ou 20 anos... Lamentável ! Mas para fazer uma casa ou um quintal... ou para colher umas plantas ou insectos, é tudo muito difícil...
ResponderEliminarSinto uma impotência imensa! Invisível msm! Triste! Felicito a Guida pelo seu trabalho. Partilhei, apenas partilhei com esperança que possa chegar aos "poderosos" e acalentar ou tentar tocar corações gelados ... Infelizmente a maioria das pessoas ainda não percebeu que não levamos nada desta vida. O melhor que podemos fazer é ajudar para que o futuro dos meus filhos, netos, humanidade continue a proteger "vida" ... De todas as maneiras possíveis.
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