segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A doença da moda


Cancro - Navegantes de Ideias

- De que morreu?
- Da doença da moda.




Não foram necessárias mais palavras para perceber que o cancro, de forma aniquiladora e sem réstia de tempo, fez mais uma vítima. E, um a um, na solidão do ser vítima de um todo tão grande vamos perecendo, incapazes de nos unirmos no Basta. Em sua defesa, limitamo-nos a partilhar meia dúzias de laços pelo Facebook e afins, rezando (sabe-se lá a quem) pela recuperação dos que já perderam a luta. 

É sempre na casa do vizinho que a dita começa; e, isso remete-nos para o egoísmo do temos que aproveitar os momentos antes que o tarde seja presente. Quando chega ao nosso lar, os outros fazem o mesmo: partilham meia dúzia de laços e correntes duvidosas e, durante uns dias, o negro invade os murais, contrastando com o azul que de profundo pouco tem. Um a um, vamos sucumbindo incapazes de adotar ações válidas que inibam o que o causa.

Posso falar do Alentejo (é a zona que conheço) mas sei que a situação se estende a todo o país: a morte da mãe Natureza. 

Por aqui, deu-se descrédito à razia dos campos; à poluição dos aquíferos, à contaminação dos solos, à contaminação do ar, ao desaparecimento da fauna e da flora… Não temos rios saudáveis, não temos água, as florestas estão a ser dizimadas, as abelhas diminuem drasticamente… aos poucos, temos perdido o que é essencial à sobrevivência. 

Dizem eles (os que lucram em demasia com o defunto) “o desenvolvimento é crucial, as consequências são inevitáveis e há que fazer face à necessidade de resposta alimentar da população mundial”. Como se o que produzimos com a carrada de químicos proibidos e em quantidades superiores ao suportável, fosse parar à Etiópia ou a um país de pobreza extrema. 

Não vai, não! É vendido a países chamados desenvolvidos, a preços do despejam-nos os bolsos, numa guerra do parece que é barato e o excedente vai parar ao lixo. Ao lixo! 

Deixamo-nos enganar porque os umbigos cresceram em demasia e a inveja, a superioridade, a chefia, o carro de amostra e a roupa do aparente dominam, num consumismo desenfreado, a sociedade portuguesa.


Adoro “o desenvolvimento é crucial”: quem quer este tipo de desenvolvimento que arrasa com as condições essenciais à vida?



E, depois, acrescentam a modos de inocência “a economia, a economia, a economia, o défice, o défice….”. Desculpem? Será a economia mais importante que a vida na Terra? Será o dinheiro mais importante do que a vida dos nossos filhos? 

Será o dinheiro transformável em ar, em peixe ou em água?

Numa região, onde do cancro nem se ouvia falar: hoje, parte um; amanhã, parte outro; são tantas as famílias que aderiram à doença da moda que já nos devia ter feito pensar e já nos devia ter tirado o rabo do lugar, para tentarmos mudar o rumo do fim que se adivinha.

Na nossa pequenez, permitimos a dor na vida do outro, esquecendo que a solidão nos consumirá amanhã.

Lembram-se de Fortes Novas? Continua oculta debaixo da fumaça que observa na imagem. 

Um povo que o permite é um povo morto. 
Assim, somos nós.

Sem sorrisos
Guida Brito


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