Dias depois de ter reservado uma viagem de camião pela Namíbia, Botsuana e Zâmbia (uma viagem da autoria de Pedro Quirino, https://africando.pt/; vendida em exclusivo para uma agência de viagens online) fascinei-me pela frase: “Um dos lugares mais remotos e singulares do planeta”. Exatamente o meu destino de férias favorito.
Assim como, sem saber como, tinha reservado duas viagens com a assinatura do mesmo autor (maravilhoso). Pensei “Guida Brito, isto não vai dar certo” ; sim, eu conheço-me de ginjeira e sei que as gafes, os atrasos e os idem aspas fazem de mim uma sua boa companhia.
Depois da reserva, como é habitual, pesquisei Socotra,
esse lugar onde ninguém vai. Para minha surpresa, Socotra:
- foi conquistada por Tristão da Cunha e Afonso
de Alburquerque, a mando do rei D. Manuel, foi portuguesa durante 4 anos;
Sabendo-me, reservei a ida para Abu Dhabi com 3 dias de antecedência; encontrar-me-ia com a minha amiga Chris (que conheci na história que um dia escreverei). Do aeroporto, partiríamos de autocarro para o
Dubai. Como sempre o “em conformidade” não faz parte da minha vida. Eu fiz tudo
direitinho; a Chris perdeu um voo de ligação.
Que tolos são os nossos pensamentos xenófobos: nunca me senti tão segura, Abu Dhabi recebe-nos de “mãos abertas”; apenas comparável com Derry na Irlanda do Norte e com o Japão. - hoje,
pertence ao Iéman (embora gerida pelos Emirados Estados Unidos) e situa-se no
Mar Arábico, perto do Corno de África;
- na época em que a visitei, apenas um voo humanitário, com saída de Abu Dhabi uma vez por semana, permitia visitar esta pérola esquecida;
- Camões passou por “Socotorá”, o clima agreste da ilha inspirou-o a escrever o poema: Junto a Um Seco, Estéril e Fero Monte (penso que ele se manteve no mesmo lugar e negou-se visitar a tão deslumbrante e icónica ilha - como amo o que a maioria declina, o local pareceu-me perfeito);
- tal como Madagáscar, cedo se desprendeu do continente africano e a vida
desenvolveu-se seguindo um rumo próprio, uma diversidade única e deslumbrante –
fui conhecer o nunca visto. Sim. Socotra, tão arrebatadora e envolvente, fará, para sempre, parte da minha caixinha de memórias para que a possa desfolhar em pleno deleite. São muitas as histórias e o tão belo não me permitirá escrever um só artigo.
Claro que me enganei no caminho, centenas de vezes, e fui respondendo que não precisava de ajuda a quem tinha a certeza contrária.
Não vos consigo contar tudo no aqui e agora, terão que aguardar pelos próximos escritos e pelas muitas fotografias que tentam retratar o infotografável : que bons foram esses dias.
Agradeço a Maria Rita por autorizar a publicação da foto de capa que, a meu ver, diz tanto da que já foi nossa ilha.
Talvez nos pudéssemos ter encontrado no Casino
do Mónaco, mas nunca teríamos olhado uma para a outra. Eu,
completamente, fascinada pelas obras dos meus pintores e escultores preferidos,
pedi ao Guarda que me barrou a entrada (por vestir calções e uma camisola tão
sujinha que tive que a virar do avesso): por favor, deixe ver aquelas obras que
tanto amo; faça de conta que não me viu entrar e quando eu chegar ao fim da
sala de entrada, o senhor chama-me e eu saio – o guarda desviou-se e assim vi o
que tanto me fascina. Se
por acaso Maria Rita estivesse ali, estaria vestida de princesa, (jamais me
olharia) e eu só tive olhos para as maravilhosas obras de arte.
Penso que este encontro era inevitável: - eu levei para o acampamento uma lanterna sem pilhas,
Maria Rita levou um lustre da autoria do arquiteto do lustre da ópera de Reykjavik; - ambas perdemos as fontes de iluminação; - eu adoro contar as minhas gafes em pleno delírio
(sou alentejana), Maria Rita envolve-nos em gargalhadas brincando com a sua
dificuldade em viver, acampada, no meio do nada; - a minha facilidade em escolher um WC inexistente,
contrasta com a sua necessidade de levar metade do grupo, com toalhas e
tolhinhas, escondendo-se do não há gente;
-
eu lavava-me com areia nas divinais poças e
cascatas, Maria Rita andava sempre muito cheirosa; - eu perco tudo, Maria Rita perde
a bagagem; - eu viajo sem dinheiro e sem cartões, quando
penso na Maria Rita só me vem à memória um lustre, para uma tenda de campismo,
no meio de nenhures, desenhado pelo autor do lustre da Ópera de ReiKjavik.
Obrigada, Maria Rita; pela sua alegria e pelo seu carinho, sem dúvida que a sua presença, nesta viagem, marcou toda a diferença. Obrigada, a todos os participantes e ao Pedro Quirino; pela Vossa paciência do ando tão devagar. Sorrisos; Guida Brito ( https://alentejoturismo.pt/a-autora/ ) Ler mais: Eu viajo sem dinheiro e sem cartões
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