segunda-feira, 19 de junho de 2017

Tu és uma gaivota


 Mudar o outro não é o caminho: aprender-te é ensinar-te o que sou. Guida Brito


     “Tu és uma gaivota… E gostamos de ti porque és uma gaivota, uma linda gaivota. Não te contradissemos quando te ouvimos grasnar que és um gato, porque nos lisonjeia que queiras ser como nós; mas és diferente, gostamos que sejas diferente… demos-te todo o nosso carinho sem nunca pensarmos em fazer de ti um gato. Queremos-te gaivota… contigo aprendemos uma coisa que nos enche de orgulho: aprendemos a apreciar, a respeitar e a gostar de um ser diferente… És uma gaivota e tens de seguir o teu destino de gaivota “ in  História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar- Luís Sepúlveda

12º dia-não superado- Nós 2/ 3€ dia/ 30 dias

        O impensável aconteceu: dia não superado. Eu conto tudo. 
     Aos poucos, vão-se esgotando os restos da despensa. Embora escassos, têm permitido o sucesso da meta a que me propus. O arroz, a massa e principalmente o leite, têm sido ingredientes chave. O maior problema vai ser comprar azeite: gordura que não dispenso- é a mais saudável. O que existe em casa deve temperar mais duas ou três saladas. Vamos ter que nos organizar e pensar numa solução. Errar nas contas ou comprar azeite não constitui um problema grave para mim. Podia, facilmente, excluí-lo e isto parecia o que não é. Não quero: quero saber o que é viver assim; quero acabar com o consumismo impensado; quero acabar com os desperdícios; quero fazer valer cada centavo do meu vencimento (descobri que trabalhei muito para conseguir as sobras que foram parar ao lixo); quero preparar o meu filho para um futuro que não sei e torná-lo o mais autónomo e batalhador possível. Sei que existem muitas famílias que vivem com muito menos do que eu- e sem a segurança do posso acabar com isto; gente que vive ao nosso lado e a quem exigimos posturas que só são possíveis a quem não se desvia de determinada forma existencial. O meu filho "leva da brincadeira", entre aspas, uma aprendizagem que só se consolida na experiência. Aprendeu a gerir de forma controlada escassos meios; aprendeu a desenrascar-se; aprendeu que o muito se esgota e o pouco dá para muito; aprendeu a fazer... aprendeu tanto. Adorei o dia em que tinha deixado apenas pão para o lanche; não havia manteiga; não havia queijo; não havia doce; não havia o que normalmente há no mero gesto de abrir o frigorífico. O meu filho não exigiu, não pediu: havia nectarinas, fez doce. Podia dar-vos n exemplos do sucesso desta "brincadeira", entre aspas. Meus amigos, os nossos filhos estão habituados que a água escorre dos dedos da mãe quando a gritam da cadeira do computador ou do lugar, sentado, do sofá. Habituaram-se ao prato na mesa e ao abrir do frigorífico. E, nós entramos na rotina do é mais fácil. Num mundo correrio: facilita satisfazer, cansa contrariar. São hábitos tão "rotinos" que se tornaram inatos e deixaram de ser pensantes. Em 12 dias, o meu filho tornou-se muito mais homem e isso valida: todos os tostões que não gastei e, toda, a trabalheira desta aventura. Não facilitar é o melhor professor que qualquer jovem pode ter.

         Adiante.
     Já sabem: pequenos almoços e lanches baseiam-se no leite, cereais, pão e bolachas (que tenho cozinhado); os almoços provêm das quantidades calculadas, em excesso,  do jantar.
        A hora das compras é a que transborda sorrisos. Hoje, visitei dois supermercados. Primeiro comprei asa de peru- esqueci-me da foto mas consta nas contas. Corri às nectarinas e à couve branca. Sobrava o suficiente (pensava eu) e decidi comprar grãos. Feliz, elaborei um requintado jantar que vai dar para três refeições- já tenho frigorífico; não há problema.
     Cozido de couve e grão. O sumo nunca falta. 
(Vou deixar de escrever, aqui, as receitas: irei colocá-las na etiqueta "Receitas da minha cozinha")

     Após o jantar, fui organizar escritos e talões de gastos; ouvi o resmungar do velho mealheiro e fiquei vermelha como um pimentão: gastara um cêntimo em excesso! Shiiiiii... Santa Barbatana! Atirei-lhe com a caneta e, até hoje, ninguém mais o ouviu: quando não há é para todos.

     Sorrisos
Guida Brito
   

domingo, 18 de junho de 2017

sábado, 17 de junho de 2017

Barulho


Sorrindo

       
      Tenho muito bons alunos. Nem sempre tenho tempo de partilhar os seus escritos mas tenho um enorme orgulho nas suas produções. A grande maioria, escreve e pontua com uma correção invejável e pouco comum nesta faixa etária. Embora, por vezes, me façam sorrir (e muito) com a sua desatenção. São muitas, muitas e muitas, as horas de trabalho que um professor do primeiro ciclo tem que dedicar às avaliações. Noites mal dormidas que sorriem com pequenas distrações dos pirralhitos- aliviam o cansaço.
       Escolher dois espaços públicos de uma planta e referir a sua função- era o desafio. Uma aluna. muito trabalhadora, decidiu falar sobre todos os espaços e escreveu:
      "Na escola aprende-se; na igreja há missa; na papelaria fazem bolos; na câmara ????; e na gelataria há gelados."

11º dia- Nós 2/ 3€ dia/ 30 dias

     Não se altera o que nos faz feliz: um mergulho antes do almoço é renovador. Embora em tempo curto, o momento já é uma certeza.
    O dia foi normal dentro da nossa anormalidade de gastos: três euros são os nossos gastos diários. Sorrindo e somando momentos. Ser feliz é uma forma de estar na vida: os sorrisos dependem do nosso querer.

Pequeno almoço- iogurte, leite, cereais, pão, doce e manteiga. Idem aspas para os lanches.


 Almoço- o peixe, no forno, acompanhado de salada e com uma bela sopa. O meu pão ficou divinal.
 Ampliámos as propriedades da salada acrescentando, à diversidade de legumes, cebolinho picado(da horta da nossa janela).


     Antes do jantar, passámos nas compras. A necessidade, urgente, de cereais levou-nos à primeira escolha. Passagem pelo talho: uma das promoções veio-nos parar às mãos. Acertámos o preço com cenouras: olha a balança; olha a frutaria; olha a balança; olha a fru...

     Jantar


     Entrecosto no forno e arroz branco. Para acompanhar: usámos o cor de laranja do fruto pintado.

     Contas feitas: 0.06€ para o mealheiro.
     Sorrisos
Guida Brito

quinta-feira, 15 de junho de 2017

10º dia- Nós 2/ 3€ dia/ 30 dias

        Hoje, a escolha foi peixe- a ideia é uma alimentação a preços idiotas mas equilibrada. O principal é provar que conseguimos sobreviver com os cêntimos que gastamos em café e afins ou que esquecemos nos fundos dos bolsos dos casacos. Nós por cá, estamos a sobreviver ( não é a palavra certa: fazemos uma alimentação correta) com a modesta quantia de três euros diários. Fizemos as contas e, surpreendentemente, concluímos que gastamos menos de trinta cêntimos por refeição. Com o que poupamos iremos de férias a preços, também eles, idiotas.
      A melhor hora do dia: a hora das compras. Comprei quatro batatas mas só usei três. Os tomates ajudam no sabor, nos sumos e nas saladas. O movimento entre a frutaria e a balança deveu-se ao pimento. Shiiii! Santa Barbatana.
     Advinham-se problemas com o azeite e os cereais- necessitamos de nos organizar para dar certo. O dia foi calminho.
     Pequeno almoço- um pouco de tudo o que há em casa - os sconnes desaparecem a uma velocidade vertiginosa. 
     Almoço- as iscas: as minhas foram consumidas após um belo mergulho na Lagoa.
      


     Jantar- carapau no forno.  Azeite qb no fundo, a batata, o peixe, uma cebola, dois tomates e metade do pimentinho. Que pena que não existia pão para a sopinha! Sumo: sempre. 
     Sobremesa- não havia doce mas o Rui fez um de nectarina. Sconnes com doce.
     Lanches- cereais, leite e sconnes.

     Recordam-se do fermento: utilizei-o na massa do pão. Vejam a diferença: belo e alentejano.


Contas feitas e sobrou 0.01€: mealheiro. 


Sorrisos
Guida Brito

O João sonhador- simplesmente tocante: acrescento eu.

     Era uma vez um menino chamado João e ele sonhava muito. Nos seus sonhos, ele era polícia, bombeiro, astronauta... Em casa, no verão, ele dormia muito: portanto, ele sonhava muito.
     Um dia, foi à rua e encontrou o seu melhor amigo, o Rodrigo, e começaram a falar:
    - Então, como é que estás?
    - Estou bem- respondeu o Rodrigo.
    - Ando a sonhar muito.
    - Oh! Mas tenho que ir rápido.
    E, assim, o João voltou a casa, comeu e dormiu, sonhou e acordou. E sonhou muito. Agora, o seu passatempo é sonhar.

Homem de Ferro (8 anos).

Onde quer que estejas, Rodrigo, o amigo continua a sonhar-te- beijinhos, Guida.



Guida- Zaine (10 anos)


Beijas o meu amor
Beijo o teu coração

Cantas a música do meu olhar
Canto o teu desejo

Acordas as minhas cores
Acordo o teu coração
Zaine

(Zaine, estou tão feliz: acordou o teu gosto pela escrita, pela leitura e pelo desenho. E que belo acordar! Beijinhos. Guida)