sábado, 21 de dezembro de 2019

Alentejo: alvo fácil da ganância alheia


Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias

Os Montes surgiram devido à tentativa de moldagem dos habitantes a novas regras sociais. A fuga dos inadaptados, às exigências de uma sociedade injusta e de elites, fomentou que, aqui e ali, há muito tempo, surgissem pequenas habitações, pertencentes aos homens livres: os Montes alentejanos.






Iniciou-se um novo e nobre povo, cujas características se mantêm até aos dias de hoje: humilde, sábio, respeitador, simples mas livre. Em plena comunhão com a natureza, vivia das ervas da planície e das margens da ribeira, de pequenas hortas e do pastoreio.

Hoje, são, maioritariamente, idosos que ali habitam: alvos fáceis da ganância alheia. Na solidão dos pequenos povoados, a sua voz é abafada e a sua simplicidade apelidada de ignorância. 

Hoje, o povo alentejano vê as novas plantações invadir o perímetro dos povoados, vê-as entrar em casa; vê as águas interditas a uso público e os seus cursos desviados; vê a planície decepada das ervas que aprendeu a usar na sua alimentação; vê as árvores milenares serem vendidas ao desbarato, no OLX; vê os sobreiros e as azinheiras serem arrancadas ou queimadas; sabe as praias contaminadas; chora o ar gorduroso e nauseabundo; sente os químicos que o matam; e, na sua velhice, agasta-se com a nova doença que aqui chegou: o cancro. 

Cala-se envergonhado de uma culpa que não tem.
Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias

E, a lei? A lei, nas suas exceções, por vezes, legaliza um genocídio sem precedente; por vezes, não é aplicada. Em nome do desenvolvimento económico, do alto interesse financeiro: ceifa-se, aos poucos, em morte lenta, todas as formas de vida, incluindo as humanas.


Em plena Europa, a dúvida persiste: quem o inflige? Portugal ou Espanha?

Sem sorrisos;
Guida Brito


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