Imagens do Google Earth confirmam o desaparecimento de todo
o Parque Nacional do Sudoeste alentejano.
A manhã era soalheira e decidi fotografar o litoral
alentejano. Não tinha na minha memória, a existência de tantas sebes que impediam
o vislumbre da paisagem.
Parei aqui e acolá e visualizei algumas estufas.
A planície
e a altura das mesmas impedem a constatação do maior desastre ecológico
ocorrido em Portugal. Intrigada com a existência de sebes por todo o litoral
alentejano, decidi aceder às imagens do Google Earth e… fiquei chocada.
Visível
do espaço mas invisível da terra: todo o Parque Natural do Sudoeste Alentejano,
de Vila Nova de Milfontes a Odeceixe, desapareceu.
Integralmente, o Parque Natural está ocupado por estufas ou culturas intensivas. Uma destruição maciça e plena de toda a fauna e flora. Consultei a internet (claro) e, de imediato, na página Rumo ao Sul, li:
"Estendendo-se ao longo de mais de 100kms de costa, desde
Porto Covo no Alentejo, até ao Burgau no Algarve, o Parque Natural do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina é o troço de litoral europeu melhor conservado,
com várias espécies de fauna e flora únicas, sendo por isso visitado por muitos
zoólogos e botânicos, oriundos de todas as partes do mundo."
Era. Já não há: conforme podemos observar pelas imagens.
Fui surpreendida, ainda, pela existência de inúmeros gigantescos círculos. Não há relatos de "avistamentos" de ovnis: fiquei curiosa.
Descobri que se os terrenos forem trabalhados em círculo facilitam a rega. Quando aproximamos a imagem, alguns círculos evidenciam sinais de fogueiras de grandes dimensões.
A remoção total dos solos é evidente; assim como alterações a nível da orologia. E não! Os sulcos não são de 30 ou 40cm, como querem fazer crer as empresas envolvidas: são da altura de mais de metade de mim. E eu não meço 80cm; sou pequena mas nem tanto.
,
O Parque Natural do Sudoeste Alentejano, integrado na rede Natura 2000, desapareceu. Era uma área de especial proteção e protegida por rígidas leis:
"Esta Área Protegida, com uma grande diversidade de habitats costeiros, foi classificada a fim de preservar a sua diversidade traduzida na presença de uma flora enriquecida pela presença de vários endemismos e de uma fauna em que a avifauna e ictiofauna detêm um papel destacado. O Decreto-Lei n.º 241/88, de 7 de junho, procura preservar os valores naturais existentes e disciplinar a ocupação do espaço.
...elevado número de espécies da flora e da fauna, incluindo algumas espécies de peixes prioritárias e endémicas"
...interface mar-terra com características muito específicas que lhe conferem uma elevada diversidade paisagística, incluindo alguns habitats que suportam uma elevada biodiversidade, tanto florística como faunística."
(ICNF)
Por muito que pesquise nos sites institucionais e das empresas relacionadas com estes crimes: a postura veiculada e sustentada por todos, relativamente ao Ambiente, é, no mínimo, comovente. E a palavra dita é tão forte que: os que se atrevem a mostrar as realidades são envergonhados e julgados em praça pública.
Várias questões "se me achegam à alembradura"... Estas explorações que destruíram, na integra, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano estão licenciadas? Foram autorizadas? Por quem? As Câmaras têm conhecimento do ocorrido? O que fizeram para travar a calamidade? Há análises aos terrenos e às águas relativamente ao uso dos produtos químicos? Não há produtos químicos, então: de que se alimentam aquelas plantas ? Por que motivo não apresentam bicharocos?
QUEM AUTORIZOU A DESTRUIÇÃO DE UMA DAS MAIS BELAS PAISAGENS DO MUNDO?
Eu sei que alguns me vão atirar com as palavras "desenvolvimento do Alentejo" e "economia".
Economia? O que é que a região ou o país lucram com este crime?
As empresas não empregam pessoas da região. Recorrem a empresas de trabalhos temporários; cuja função é alugar seres humanos oriundos de zonas muito pobres. Assim, estas empresas, associadas à devastação que ocorre no Alentejo, desvinculam-se dos trabalhadores e não são responsabilizadas relativamente à precariedade e à exploração dos mesmos. São tão beneméritas que ainda lhes alugam (de forma obrigatória) uns contentores sobrelotados em condições desumanas. Sem qualquer privacidade ou higiéne, ali se encontram nas parcas horas que sobejam de um violento dia de trabalho: na mesma posição em ar irrespirável.
Como contra, queixam-se as empresas, gastam muita luz. Um gasto a evitar: muitos já beneficiam de controlo de horas a que podem aceder à electricidade. Empresas que veiculam (li no jornal O Público): "os trabalhadores portugueses fazem muitas exigências e não querem trabalhar". Encobrindo, assim: a utilização de químicos nefastos, proibidos e em quantidades inaceitáveis; a devastação de património e o envolvimento direto no aluguer e exploração de seres humanos.
Até a gasolina utilizada, provém de uma bomba estrangeira implantada na região para o efeito. Afinal, exportamos ou importamos? Não estão a confundir Economia com Enriquecimento ilícito e com base no crime, por parte de quem até já tinha mais que suficiente?
Desenvolvimento do Alentejo?
Como é que se pode confundir desenvolvimento com destruição?- Pergunto eu.
Pergunto muito mais: Onde está o nosso governo? Onde está a oposição?
O País e os nossos governantes estão ocupados em decidir: se um pai, de uma criança doente oncológica, pode ou não fumar na rua do Hospital.
Mas...
Onde está a QUERCUS? Onde estão as ligas de proteção do ambiente?
Será que todos estão no quentinho da posição do cargo que ocupam e reluz na sociedade?
Sou eu que vejo em excesso ou são Vocês que estão cegos?
De qualquer das formas: O Parque Natural do Sudoeste Alentejano já não existe.
Se continua com a história da Economia e Desenvolvimento: sente-se e chame-me inculta. Se pretende demonstrar a sua indignação: partilhe o link da publicação nas redes sociais, Exija responsabilidades e o fim destes crimes.
Escrevi este artigo há mais de um ano; o não terem sido tomadas quaisquer medidas, permitiu uma dimensão brutal que vai além do que qualquer um de nós imagina: Genocídio é a palavra que se adequa. Após muitos meses de pesquisa, escrevi o artigo que se segue. É muito extenso para ser lido via internet, as pessoas ocorrem ao que é imediato, no entanto, fica o desafio: ser capaz de o ler. Longo, duro, doído, comovente mas verdadeiro, mostra a Agonia, a Doença e o Desalento que se vive no Alentejo; espera pela sua leitura, clique no link para ler:
Sem Sorrisos
Guida Brito