quarta-feira, 14 de março de 2018

A descoberta do Alentejo


Papoila
Sou contra o desenvolvimento? Jamais. Não podemos impedir a atividade humana mas há que controlá-la de forma a garantir a sustentabilidade. E é aqui que Portugal falha. Uma falha de tal forma gravosa que, no meu entender de gente simples, levará a uma crise muito mais grave do que aquela que conhecemos na atualidade. Temo o deserto poluído que se adivinha, em poucos anos.
Insecto com polen

Vi, há pouco tempo, um programa sobre um Atol na Lagoa Azul (Oceano Pacífico). E, fiquei fascinada, se pudesse escolher era num como ali que gostaria de viver. Aprenderam com a destruição dos atóis vizinhos (o que é raro num povo). No espaço, existem todas as atividades humanas (turismo, pesca, viveiros de mariscos e outros, indústria…) mas controladas de forma a que a Natureza se reproduza e renove, no normal caminho da manutenção da biodiversidade. Os habitantes vivem num paraíso com o que chega para sorrir; não há excessos: há um total respeito para com todas as formas de vida. Nada lhes falta.
Olival

Pensei no Alentejo e na sua história. Um povo que, na sua pobreza, sempre soube que as ervas das margens da ribeira engradeciam o sabor do peixe que pescava; um povo que soube que o sistema de poisio garantia sustentabilidade; um povo que respeitou dunas e falésias… respeitou, de forma nobre, o que garantia a sua subsistência e das formas de vida que com ele repartiam a região. E foi esta forma simples de vivência, e o paraíso de uma paisagem que lhe fazia jus, que levou à Descoberta do Alentejo. 
Mosca

E quando digo “Descoberta do Alentejo” refiro-me aos que desocupam zonas já destruídas e ocupadas pela poluição (antigos paraísos) e caminham na ânsia de mais.
Inseto

Numa ganância desmedida, alimentada por sonhos de emprego e água do Alqueva, surgem olivais superintensivos; surgem árvores de fruto XPTO; surge Fortes e os que não sabem; surgem estufas; desaparece um Parque Natural… poluem-se  ribeiras; desaparecem cursos de água; destrói-se a nossa história… altera-se a paisagem; destrói-se um povo que é humilhado na sua simplicidade. Um caminho, a passos largos, para a incapacidade de vida na região.
Montado

O que trocámos? O que conseguimos nesta troca manhosa de dar terras pela nossa vida? Um prato cheio? Quantos de Vós sentem mudança na facilidade de viver sem preocupações?
Joaninha

A água do Alqueva não chegou às torneiras dos alentejanos mas chegou às produções intensivas que nos devastam. Agora, diz o país: vamos aumentar o Alqueva para que corra nas torneiras. Será? Ou será que a seca assustou os que plantam de forma desmedida?
Insecto a retirar pólen

E os empregos? Não chegaram para nós (não se refletiram no nosso prato); são os trabalhadores precários em regime de escravatura que ocupam (em número muito maioritário) as nossas aldeias, numa comunhão de costumes que inferioriza e excluí o idoso povo alentejano.
Flor

Ouvi há dias que, na região de Beja, foi firmado um contrato de exploração intensiva de árvores de fruto; numa enormidade de kms quadrados que se juntarão aos milhares existentes; milhões e milhões de euros; a troco de 80 empregos de forma faseada. 
80??????? 
De forma faseada????? 
Provavelmente daqui a 10 anos ( o Alentejo não dura tanto) começam a empregar os primeiros: ordenado minímo e o dobro das horas previstas na lei. Para mim, desculpem, serão utilizados mais muitos milhões para destruir o que resta de um região que outrora foi descoberta por ser um paraíso ( a falta de vírgulas é propositada).
Sementes na cápsula

Só posso concluir que deixamos destruir, o nosso paraíso, para que os que nos destroem possam, um dia, visitar o Atol da Lagoa Azul.
Malmequer

Não queremos oliveiras? Queríamos, sim. Queríamos oliveiras e demais atividades humanas num país que controlasse os excessos e garantisse a não destruição de tudo o que nos rodeia. 
Joaninha
Queríamos oliveiras num país que acabasse, de forma imediata, com o cancro que já se instalou nos pulmões de Fortes. Queríamos oliveiras num país sem estufas nas falésias. Queríamos oliveiras num país com parques naturais. Queríamos oliveiras num país que tivesse aprendido: com o mar Aral; com Pripyat – Ucrânia; com Centralia - Pennsylvania (EUA); com Pennsylvania (EUA); com Wittenoom – Austrália; com Pizzeria - Oklahoma (EUA); com a represa das Três Gargantas – China; com  Gilman - Colorado – EUA; com Fukushima – Japão.
Campo florido

Queríamos um paraíso onde a atividade humana pudesse ser desenvolvida de forma a garantir a sustentabilidade. 
Inseto a retirar pólen da flor
Queríamos um país com coragem. Queríamos o Alentejo.
Sugestão de leitura:
Sem sorrisos
Guida Brito


terça-feira, 13 de março de 2018

Igreja Nossa Senhora das Salvas- Sines

Igreja
A igreja é linda. O lugar merece uma vista mais atenta: magnífica a paisagem sobre a baía e o Porto de Pesca.

rua

igreja e ruínas

Sorrisos
Guida Brito

sábado, 10 de março de 2018

Aljustrel

Campos alentejanos
     Conhecida pela mina, a vila de Aljustrel foi, durante muito tempo, para a maioria, sítio de passagem em andar apresado. 

Oliveira
         Nunca eu, por ali, havia passado; com exceção para a última carreira que fazia a ligação estudantil, entre Beja e os povoados do distrito. 
Igreja
    Decidi-me, aventurei-me e fiquei deslumbrada. 
paisagem
       Jamais, jamais sonhei a beleza de tão recôndido lugar. 
Vila
       Deixo-vos um cheirinho que, certamente, vos despertará quereres e vos guiará entre ruas e ruelas.
Nossa Senhora do Castelo



Marco geodésico

 Nossa Senhora do Castelo

 Nossa Senhora do Castelo

 Nossa Senhora do Castelo


Estátua
Sorrisos
Guida Brito

quinta-feira, 8 de março de 2018

Soneto para a Mulher

Mulher de calções
       Ele vinha tão feliz, com o conseguido, e eu fiquei tão encantada que nem vi o que emendar. Disse-lhe: "Eu não faria melhor e não encontro nada que precise de correção ou remendo". Ele: voou, pulou, riu e gritou- looolll. Amanhã, escreverá de novo e com muito querer. Por vezes, nós, os adultos, caímos no erro de ver e valorizar o que é menos importante. 
Poema

Soneto de Mulher


camões - adaptação

A Mulher é arte que cresce sem crescer;
É um Sentimento que se sente sem sentir;
É chama que arde sem arder;
É amor que foge sem fugir;

É resistência que não resiste;
É uma estrela que brilha sem se ver;
É uma alma amada e triste;
É um pensamento forte que forte não sabe ser;

Uma flor que nunca floriu;
Alguém que nunca se viu;
Um sorriso que sorri

Uma presença que não está presente;
Valentia desvalente
É o universo de amor que eu só sei de cor!

Maili (9anos)

terça-feira, 6 de março de 2018

Roupa estendida

cuecas
     
Por terras do Alentejo, antigamente, a roupa era lavada, ao domingo, na ribeira. Lembro com saudade: o cheiro dos lençóis e a noite, bem dormida, na cama afofada. Era seca no pasto ou nas velhas pedras que vigiavam a planície. Segunda-feira, era declarado o "dia sem nódoas" e seguíamos frescos e airosos, em amena cavaqueira,logo pela manhã, a caminho da escola.


Alentejo
      Mudam-se os tempos, poluem-se as ribeiras e o Mundo gira para um espaço sem volta. Roupa suja: lava-se em casa; usam-se cheiros duvidosos que imitam, de forma longínqua, o que de bom perdemos. Mais coisa, menos coisa: destruímos a realidade e procuramos, em nome do desenvolvimento, imitar o que já não há. Somos seres sem sentido.
Mulher a estender roupa
   
  No Alentejo, alguns velhos hábitos ainda resistem. Talvez seja isso que faz desta região um espaço de pureza única. O estender roupa ainda prolifera, com encanto, nas janelas, nas portas, nos estendais do quintal... só no Alentejo: sabemos a cor das cuecas da vizinha.

Panos de cozinha

 Deixo-vos alguns dos meus registos.

Panos de cozinha



Calças e avental

Piçarras

Namorados
Sorrisos
Guida Brito

domingo, 4 de março de 2018

O Inverno chegou ao Alentejo

estrada
     Choveu no Alentejo e os campos vestiram-se de verde: há muito que o pasto chorava o cheiro a terra molhada. 
Estrada, verde e céu
     A Natureza não se fez de rogada e vestiu-nos o olhar de plena sedução. Por aqui, respira-se os tons da alegria e o saber de uma primavera que não se demora.
Campo e céu
 As imagens falam por si: cative-se.
Campo verde e céu com nuvens



Estrada molhada

Cavalo no campo
 Ops!!!!!! Desculpem.
Cavalo a fazer chichi
Guida Brito

sábado, 3 de março de 2018

Camões- numa escola do Alentejo

Tulipa
Há quatro anos que os meus alunos escrevem poesia. Iniciaram a sua escrita aquando da aprendizagem da primeira letrinha: a letra i.  Escrever com amor e ilustrar: deu voz aos quereres de gente miúda. Hoje, decidi explicar o que é um soneto. Apresentei Camões: apaixonaram-se. Jamais esperaria as magníficas adaptações do soneto "Amor é fogo que arde sem se ver". Partilho o poema da Violeta, nove anos,

Amor é água que cresce do céu

Amor é água que cresce do céu
É o que nós sentimos dentro de nós
É um profundo abraço vindo do mar
Começa a crescer quando lhe tocamos

É um beijo vindo do coração
É um poder que permite dar a mão
É nunca ficar triste, só contente
Um acontecimento especial entre nós

É querer estar livre, viajar neste mundo
Abraçar quem vence a um vencedor
É ter quem nos beija e abraça

Mas cuidar desta vida deve ser do pior
Então, volto a perguntar
O que é o amor?

(Violeta, 9 anos, 4ºano)

Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 2 de março de 2018

Messejana - a vila azul e branca


 Igreja
São muitas as histórias que fazem com que a Vila de Messejana seja sobejamente conhecida do povo português. No entanto: são poucos os que já visitaram esta linda vila alentejana. Em tons de azul e branco cativa na sua simplicidade. 
rua

Um azul da cor do céu e um branco nuvem: intercalam-se criando fantasia e sedução. Mística e singela: integra a simplicidade do interior alentejano. 
Casas com barra azul e branca
Um "bom dia" ou um "de quem é filha?" recebem-nos à chegada e confirmam a simplicidade de gentes afáveis. 

rua da igreja

Sem dúvida: este, é um dos mais belos povoados (quer pelas suas cores; quer pela simpatia das suas gentes; quer pelas rendas que adornam paredes; árvores e postes de eletricidade; quer pelas igrejas; quer pelo património urbanístico; quer...). 
Poste de telefone com renda

Messejana tem tudo: até a graça de uma história, de uma praia. Messejana, não é a vila praia. Messejana é a vila azul e branca: catita, airosa e sedutora.
Igreja

Rendas em poste de eletrecidade

Leia também: https://navegantes-de-ideias.blogspot.pt/2018/02/o-lavadouro-de-messejana.html

Sorrisos
Guida Brito