Sou contra o
desenvolvimento? Jamais. Não podemos impedir a atividade humana mas há que
controlá-la de forma a garantir a sustentabilidade. E é aqui que Portugal falha.
Uma falha de tal forma gravosa que, no meu entender de gente simples, levará a
uma crise muito mais grave do que aquela que conhecemos na atualidade. Temo o
deserto poluído que se adivinha, em poucos anos.
Vi, há pouco
tempo, um programa sobre um Atol na Lagoa Azul (Oceano Pacífico). E, fiquei
fascinada, se pudesse escolher era num como ali que gostaria de viver.
Aprenderam com a destruição dos atóis vizinhos (o que é raro num povo). No
espaço, existem todas as atividades humanas (turismo, pesca, viveiros de
mariscos e outros, indústria…) mas controladas de forma a que a Natureza se
reproduza e renove, no normal caminho da manutenção da biodiversidade. Os
habitantes vivem num paraíso com o que chega para sorrir; não há excessos: há
um total respeito para com todas as formas de vida. Nada lhes falta.
Pensei no
Alentejo e na sua história. Um povo que, na sua pobreza, sempre soube que as
ervas das margens da ribeira engradeciam o sabor do peixe que pescava; um povo
que soube que o sistema de poisio garantia sustentabilidade; um povo que respeitou
dunas e falésias… respeitou, de forma nobre, o que garantia a sua subsistência
e das formas de vida que com ele repartiam a região. E foi esta forma simples
de vivência, e o paraíso de uma paisagem que lhe fazia jus, que levou à Descoberta
do Alentejo.
E quando digo “Descoberta do Alentejo” refiro-me aos que desocupam zonas já destruídas e ocupadas pela poluição (antigos paraísos) e caminham na ânsia de mais.
Numa ganância
desmedida, alimentada por sonhos de emprego e água do Alqueva, surgem olivais
superintensivos; surgem árvores de fruto XPTO; surge Fortes e os que não sabem;
surgem estufas; desaparece um Parque Natural… poluem-se ribeiras; desaparecem cursos de água;
destrói-se a nossa história… altera-se a paisagem; destrói-se um povo que é
humilhado na sua simplicidade. Um caminho, a passos largos, para a incapacidade
de vida na região.
O que trocámos?
O que conseguimos nesta troca manhosa de dar terras pela nossa vida? Um prato
cheio? Quantos de Vós sentem mudança na facilidade de viver sem preocupações?
A água do
Alqueva não chegou às torneiras dos alentejanos mas chegou às produções
intensivas que nos devastam. Agora, diz o país: vamos aumentar o Alqueva para
que corra nas torneiras. Será? Ou será que a seca assustou os que plantam de
forma desmedida?
E os empregos?
Não chegaram para nós (não se refletiram no nosso prato); são os trabalhadores precários
em regime de escravatura que ocupam (em número muito maioritário) as nossas
aldeias, numa comunhão de costumes que inferioriza e excluí o idoso povo
alentejano.
Ouvi há dias
que, na região de Beja, foi firmado um contrato de exploração intensiva de
árvores de fruto; numa enormidade de kms quadrados que se juntarão aos milhares
existentes; milhões e milhões de euros; a troco de 80 empregos de forma faseada.
80???????
De forma faseada?????
Provavelmente daqui a 10 anos ( o Alentejo não
dura tanto) começam a empregar os primeiros: ordenado minímo e o dobro das
horas previstas na lei. Para mim, desculpem, serão utilizados mais muitos
milhões para destruir o que resta de um região que outrora foi descoberta por
ser um paraíso ( a falta de vírgulas é propositada).
Só posso concluir
que deixamos destruir, o nosso paraíso, para que os que nos destroem possam, um
dia, visitar o Atol da Lagoa Azul.
Não queremos
oliveiras? Queríamos, sim. Queríamos oliveiras e demais atividades humanas num
país que controlasse os excessos e garantisse a não destruição de tudo o que
nos rodeia.
Queríamos oliveiras num país que acabasse, de forma imediata, com o
cancro que já se instalou nos pulmões de Fortes. Queríamos oliveiras num país
sem estufas nas falésias. Queríamos oliveiras num país com parques naturais. Queríamos
oliveiras num país que tivesse aprendido: com o mar Aral; com Pripyat – Ucrânia;
com Centralia - Pennsylvania (EUA); com Pennsylvania (EUA); com Wittenoom –
Austrália; com Pizzeria - Oklahoma (EUA); com a represa das Três Gargantas –
China; com Gilman - Colorado – EUA; com
Fukushima – Japão.
Queríamos um
paraíso onde a atividade humana pudesse ser desenvolvida de forma a garantir a sustentabilidade.
Queríamos um país com coragem. Queríamos o Alentejo.
Sugestão de
leitura:
Sem sorrisos
Guida Brito
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ResponderEliminarCaro “Gota a Gota”, li atentamente a sua mensagem. Só não a publico porque me atribui um nome que não o meu e expõe as suas ideias de forma pouco educada. Apenas a assertividade trará algum contributo ao assunto. No entanto, se a sua exploração se enquadra num quadro de tal respeito pela sustentabilidade (como me refere) deve ser nomeada e deve ser partilhado a Vossa forma de estar para que outros vos aprendam e Vos sigam. Esse quadro é o interesse do Alentejo. Terei todo o prazer em aceitar o seu convite, sujar os meus sapatinhos e escrever sobre o que me pede. Queira, por favor, enviar-me o seu contacto. Obrigada.
ResponderEliminarCaro “Gota a Gota”, tem razão; li mal e pensei que me era atribuída uma das suas frases. De facto, não foi pouco educado (ignorando as barbaridades). Vou pedir-lhe o favor de retirar o nome que me atribuiu e enviar-me de novo a mensagem para que eu a possa publicar. E repense: seria bom mostrar o que prima pela diferença. Boas práticas devem ser distinguidas. Que não pague o justo pelo pecador.
ResponderEliminarA reposta era para ser lá no outro mas aproveitando este mais recente, aqui fica. Este novo Alentejo contínua a ter tudo isto e mais o outro...
ResponderEliminarCara Sra. Guida Brito, li com atenção os seu post acerca dos olivais da região de Beja e é uma pena, porque embora aqui apresente algumas situações preocupantes de abuso sobre o património arqueológico, florestal, humano e natural, essa não é uma prática comum a todos os que aqui laboram. Como tal generalizar por toda a comunidade que se dedica à plantação, produção e transformação de um produto de qualidade, inclusivamente “apelidando-o” de ruim qualidade não me parece próprio de alguém que se apresenta como uma defensora do Alentejo, dos seus produtos, da sua gastronomia e da sua cultura.
Para início de conversa poderemos começar logo pela parte em que tal como muitos outros que não entenderam que deveriam insistir na terra que os viu nascer e educou, deveria sair daqui e decidiu fazer uma “imigração” do interior para o litoral. E depois um dia quando se lembra resolve dar uma voltinha pela estrada de alcatrão e “desancar” quem aqui ficou ou quem resolveu regressar ou que não sendo daqui decidiu que seria aqui e investiu parte das suas economias, algumas acumuladas de uma vida e que todos os dias se levanta para trabalhar, para andar no campo faça sol ou faça chuva, com os pés no pó e na lama e não dentro de um automóvel por uma estrada de alcatrão.
Aquilo que a senhora recorda como técnicas ancestrais e que nos acompanharam ao longo dos séculos, não tem mais de 80 ou 90 anos e começaram precisamente pelas mãos de um ditador, pois esta paisagem bucólica das planícies a perder de vista despidas de árvores foi a origem da campanha do cereal iniciada por Salazar que indiscriminadamente fez com que os Olivais e os Montados desta região fossem arrancados, um património perdido que nunca mais será recuperado.
Incrível como alguém que apenas circulando de automóvel pela estrada (lembro-lhe que é o IP8, pior que muitas privadas que dão acesso a alguns lagares da região) consegue perceber a forma como foram preparados os terrenos, a sua orologia, a sua drenagem, a quantidade de químicos e os químicos utilizados e a ausência de espécies silvestres e da fauna. É realmente algo inimaginável ou então terá ido ao Google Earth como fez com o Litoral Alentejano.
Seria até importante referir que a foto do cemitério de rochas que refere, não é um cemitério de rochas provenientes dos terrenos onde são visíveis os olivais, mas sim dessa tal estrada onde devia circular hoje, o celebre IP8 que foi suspenso e que ali está inacabado, tal e qual como no dia em que as máquinas dali saíram. A orografia dos terrenos onde são instalados os olivais mantem-se e grande parte das rochas de lá retiradas são usadas nas valas de drenagem, valas essas que são feitas onde sempre foram, algumas reavivadas que pelo assoreamento e o entulhamento de material (pasto, lenha e lixo proveniente da casa de muitos), tinham deixado de correr no antigo leito. Poderia ainda dizer que esses olivais mais recentes das fotos que apresenta, estão hoje num terreno devidamente cuidado, que era mato e pedras, pedras essas que alimentaram uma britadeira durante mais de 20 anos entretanto desactivada a pouco mais de 1km do local. Cara Margarida não pode valer tudo para se atingir o objectivo pretendido, muito menos usar a mentira como forma de mudar opiniões e sentimentos.
As regras para a plantação e exploração de um olival são bem apertadas e mediante uma quantidade enorme de documentos que só quem olha da estrada, vai ao Google Earth e decide consultar meia dúzia de notícias, a maior parte de encomenda, poderá soltar tamanhas inverdades. O uso de químicos obedece a regras bem definidas, bem como o abate de árvores, tanto oliveiras como azinheiras ou sobreiros, nas fotos que apresenta até é visível entre as linhas das oliveiras o coberto vegetal fruto do não uso de química nesse local, que lhe permite evitar a erosão servindo esse mesmo coberto vegetal de agregante dos solos. Essas fotos mostram ainda em como algumas árvores, como a azinheira foram poupadas pelo proprietário, e estão lá onde estavam antes da plantação, portanto até contradiz o que pretende demonstrar que é que tudo é arrasado. Noutra foto é bem visível em como a linha de água foi mantida intocável pelas máquinas onde é visível o coberto vegetal, pasto e juncos.
ResponderEliminarAcho extraordinário que alguém que nos comentários diz que trabalhou no IP8 e que quando saia fora do caminho (IP8) as rodas do automóvel ficavam azuis, nunca dei por tal acontecer aos meus que têm circulado muitas vezes por dentro desses olivais, deve ser o hábito da borracha dos meus aos “químicos”, já não lhes provoca reacções alérgicas. O mesmo que não teve a coragem de a desmentir pela foto do cemitério de rochas, que aquilo não era um cemitério de rochas proveniente dos olivais, mas sim do abandono das obras do IP8 onde ele trabalhou.
Depois temos um outro que trabalhava num dos blocos de Alqueva e que até realizou uns estudos, mas que ninguém conhece, aproveita a ocasião para dizer mal da empresa onde ou para quem trabalha ou trabalhou, para dizer mais algumas inverdades tentando fundamentar o exposto pela autora, percebe-se bem quais as razões de tão incomodo por parte de alguns sectores da sociedade e até um “rasgozinho” de inveja próprio de uma certa esquerda.
Quanto à mão de obra que refere, o SEF tem visitado diversas herdades na região e o que lhe posso dizer e que tenho conhecimento é que a quantidade de trabalhadores ilegais que têm sido identificados, não é nada daquilo que se pretende criar na opinião pública. No entanto entendo que deverão ser TODOS recebidos com dignidade e condições para viver nos períodos sazonais em que cá permanecem. E aí deverá ser toda a comunidade a acolhe-los e não estigmatizá-los (chamar-lhes escravos quando o não são, não deve de ser o caminho certo). No entanto estes fluxos migratórios em regiões onde há trabalho deverá ser visto como uma mais-valia cultural para a região, aliás só há estes fluxos migratórios porque precisam de trabalhar para viver, enquanto os de cá preferem estar em casa a receber o rendimento mínimo e a fazer uns biscates. Os agricultores têm de recorrer à mão-de-obra disponível, há prazos a cumprir para fazer e para colher.
Vivo em Beja e nunca precisei de ter as janelas e as portas fechadas devido aos cheiros de químicos provenientes dos olivais como refere, não sei de onde retirou essa informação em relação à cidade, mas nunca ouvi por aqui qualquer tipo de reclamação do género, certamente foi mais uma visita ao Google Earth. Os cheiros a glifosatos mais perto da minha casa são provocados pelos serviços camarários que os aplicam em passeios, junto da porta de cada um, nas bermas de estradas e linhas de água dentro da cidade e até junto ao circuito de manutenção da variante onde se pratica desporto. Se tiver nos próximos dias saudades da terra que a educou e viu nascer poderá ver a erva morta na berma do mesmo, com toda esta chuva, e até poderá tirar uma foto para recordação.
Sabe Sra. Guida Brito, dentro de tudo isso que refere haverá situações que terão de ser resolvidas judicialmente, como em qualquer outra actividade em que há abuso sobre a natureza, sobre as pessoas, sobre o património arqueológico e cultural, caberá certamente às entidades competentes resolver a situação, deverão resolver e responsabilizar criminalmente quem anda fora da lei. A Sra. Guida refere alguns crimes aqui produzidos como se fossem todos os agricultores e a agricultura ligada ao Olival, como o uso abusivo de químicos, abate de árvores sem licença, alteração do relevo da paisagem, desvio de ribeiras, morte da flora e fauna, exploração humana, se tem provas só tem uma coisa a fazer em vez de perder tempo a escrever barbaridades no seu Blog, reúna as provas e participe às autoridades competentes.
ResponderEliminarSe quiser um dia sair do alcatrão e sujar os sapatinhos de pó ou lama haverá certamente na região quem lhe mostre o que aqui se vai fazendo bem feito, modernizando a agricultura e tornando-a competitiva, mas ao mesmo tempo salvaguardando oliveiras milenares, azinheiras que continuam a ser salvaguardadas desde o tempo da “outra senhora”, preservando a nossa cultura e a nossa história.
Até lá e uma vez que pouco tem contribuído para o desenvolvimento de interior e da região que a educou e viu nascer, nós os que por aqui ficámos a resistir, a trabalhar e lutar com todas as nossas forças agradecemos-lhe muito mais que divulgue aquilo que aqui se produz com qualidade, entre esses produtos está o azeite e a azeitona de mesa. A forma como é feita a colheita, o seu transporte e a brevidade com que chega a azeitona aos diferentes lagares da região leva a que haja uma melhor transformação do produto acrescentando-lhe qualidade. Os prémios ganhos, são a prova de que o investimento e o esforço feito pelos mais de 1500 investidores que estão instalados nas terras de Alqueva (em que cerca de 150 são estrangeiros de 18 nacionalidades diferentes, explorando perto de 23 mil hectares, o que representa um forte contributo em termos de investimento estrangeiro na região), tem sido digna e merecedora da confiança daqueles que decidiram um dia construir Alqueva. Se achar que é pouco, pode ainda lutar daí de Sines, do LITORAL, e fazer força para que terminem aquela estrada a que chamou cemitério, arranjem aquela por onde circulou mas que como vinha a olhar para o lado nem deu pelos buracos, ponham os comboios a circular como no resto do país, olhem para o nosso aeroporto, para o nosso hospital e sobretudo por aqueles que aqui vivem, no INTERIOR, abandonados pelos que um dia decidiram partir, deixando velhos, casas, montes e herdades onde se já tinha deixado de ver o verde dos trigais, e tinha lugar o amarelo dos pimpilhos; o branco da magarça; o roxo da sevagem; os cinzas que antecedem a chuva e o vermelho das papoilas...