Infelizmente, se essa é a postura do meu país além-fronteiras, no meu entender (é a minha opinião que veiculo) a mesma não se verifica no seu interior. Assistimos, cada vez mais, a políticas e ações, por parte do governo, que distam do bem-estar e da qualidade de vida do seu povo: a políticas que caminham no sentido contrário à Constituição Portuguesa e que, ao invés de proteger os seus cidadãos, vedam os direitos fundamentais e universais à pessoa humana.
Sim. Falo do Alentejo. Falo do azeite. Falo do azeite, dos legumes pseudobiológicos e dos frangos… Falo num povo singelo que se tornou cobaia e refém da Europa (sempre no meu entender). A devassa e a extinção é tão grande, atingiu proporções tão gigantescas que ninguém sabe a área ocupada. Espantaram-se com os frangos? Já não como frangos; em meia dúzia de dias assisti ao desaparecimento de um montado secular e viçoso que, inexplicavelmente, adoeceu, morreu e desapareceu, após a compra dos terrenos por parte de uma grande empresa. Não; não são os sobreiros de Alvito nem os que outrora existiam no seio dos olivais superintensivos; são mais uns que até passam despercebidos na enormidade bárbara que ocorre no Alentejo.
Desaparecer misteriosamente, de um dia para outro, parece ser comum às velhas árvores da região. Na calada da noite, olivais milenares e os recentes olivais intensivos são dizimados ou, conforme comprovam as imagens, carregados em camiões e vendidos fora de Portugal; dando lugar aos olivais superintensivos. Por todo o Alentejo: o crime é cometido sem medos nem receios. As políticas governamentais e a oposição caminham rumo à sua continuidade e à plantação de, além dos milhares de hectares já existentes, mais 500 quilómetros quadrados desta praga que invadiu o Alentejo. No seu caminho: a devastação plena, até das vidas humanas.
Segundo informações recebidas, o milenar olival da Pêga (tem entre 2500 a 3000 anos) tem um fim próximo. A seu lado, já desapareceram, inexplicavelmente, olivais de grande dimensão
Estou cansada de ouvir os representantes do governo a veicular informações (no meu entender, sempre no meu entender) que são incompletas, desinformativas e acrescentaria mais uns adjetivos, não fosse o bom senso e a forma de ser que anda sempre em mim.
Ouvi o Senhor primeiro Ministro transmitir a informação que o Olival é a cultura que melhor se adapta ao Alentejo e que o mesmo necessita de desenvolvimento.
E, de facto, tem toda a razão do Mundo. Esqueceu-se de dizer ou de verificar se é o Olival que está a ser plantado por terras do Alentejo e a forma como está a ocorrer. Não é, Senhor Primeiro Ministro; não é Olival que por aqui ganha terreno.
Eu explico-lhe: tal como nós, as plantas ganham defesas relativamente às doenças: as oliveiras seculares do Alentejo são organismos muito resistentes e que quase não necessitam de intervenção para produzir a excelência da azeitona; o que conferia ao azeite português a qualidade do “Melhor do Mundo”. Segundo as informações que me chegaram, de base fidedigna, essas oliveiras são certificadas em Espanha e seguem para Itália. As que ocupam o Alentejo, numa área tão grande que nem o senhor sabe a enormidade dos kms quadrados, são organismos modificados geneticamente e que necessitam de químicos altamente mortíferos para o ambiente e para a vida humana, em quantidades que vão muito além do permitido por lei. São tantas (dez vezes mais ao veiculado como aceite, no site do Ministério da Agricultura) que quase não cabem no terreno e que, no seu caminho, destroem todo o património Ambiental e Histórico, não respeitando a Constituição Portuguesa e, mais grave que isso, espalhando doenças que levarão à extinção humana.
A propósito: os produtos que dali derivam não deviam mencionar que foram obtidos a partir de organismos modificados geneticamente e distar de outras culturas….????? Se eu procurar, estou certa de que encontrarei a lei.
São tantas, mas tantas, que isolam povoações e só param a um metro das casas das pessoas.
De que desenvolvimento e benefícios estamos a falar? O desenvolvimento não deveria ter por base a melhoria das condições de vida? Dá dinheiro: a quem e para quê? Para que quero o
desenvolvimento e os dinheiros, se morrer aos poucos e ver os meus definharem com um dos muitos cancros que aumentaram, de forma rápida e vertiginosa, no
Alentejo?
Não é preciso ser doutora para ver que nem um inseto se esmaga no para-brisas do carro, ao atravessar os kms das áreas ocupadas por estas culturas (as abelhas, a par de outros, foram considerados os seres vivos mais importantes do planeta: sem eles não há vida); não preciso de análises para saber que o ar de Fortes, de Alvito e de outras regiões adjacentes, é gorduroso e irrespirável, basta lá ir; não preciso de estudos para saber que há alterações a nível da orologia e arranque de sobreiros, basta olhar e ver; não preciso de estudos para saber que que existe uma impermeabilização total nos terrenos do Parque Nacional do Litoral Alentejano… tudo é visível, a olho nu.
E muito lhe escreveria sobre o Tema; não escrevo: o Senhor sabe melhor do que eu que esse pseudodesenvolvimento está a arrasar o Alentejo e, mais grave que isso, a arrasar todas as formas de vida. É culto estudado e com tão grande responsabilidade que jamais descuraria o saber o que se passa no País. Lá estou eu com os pseudos; pois, Desenvolvimento deveria ter por base: a melhoria das condições de vida; o crescimento económico; a preservação dos nossos recursos ambientais, a curto e longo prazo, garantido o direito à vida e as liberdades fundamentais do ser humano. A realidade do Alentejo em muito daí dista.
O que
lhe solicito é que cumpra o seu dever de me proteger tal como fez com aquele
cidadão, em Moçambique. Quero um ar respirável, quero ver o outro lado da rua,
quero água não contaminada, quero a manutenção dos recursos, quero a defesa do
Património histórico e ambiental; quero vida no Alentejo e no meu País.
De facto, estou perplexa com o que se passa no meu país. Já houve tempo em que a oposição fazia algum trabalho e isso era eco e regulava, um pouco, as irregularidades, diminuindo em muito os abusos de poder. Esta semana, fui surpreendida pelas declarações do Senhor Gonçalo Valente, Presidente da Distrital de Beja do PSD; li, por aí:
“A Distrital de Beja do PSD sai, em nota de imprensa, em defesa das culturas intensivas e super-intensivas, depois de nas últimas semanas ter reunido com a OLIVUM, ACOS e AABA.
Gonçalo Valente, presidente da Distrital de Beja do PSD, afirma que as críticas, relativamente a estas culturas, surgem mas estão “ausentes” de informação documentada (como se fosse preciso um documento para saber que o ar que respiro é gorduroso, dá náuseas e é irrespirável)
“segundo Gonçalo Valente, nas culturas intensivas e super-intensivas os pontos “positivos” são superiores aos “negativos” e garante que, tendo em conta as associações auscultadas…” (www.vozdaplanície.pt)
E, ainda, li
“deveras irresponsáveis e extremistas” quando se refere às pessoas que se queixam da privação dos seus direitos (direito a respirar, direito a água potável, direito à saúde… essas coisas que estão em último plano no Alentejo).
Senhor Gonçalo Valente, a ser verdade o que li, o senhor reuniu apenas com a parte da qual o Povo Alentejano se queixa. Não se documentou, não viu, não leu estudos, não se muniu de análises credíveis (nem outras), não ouviu quem se queixa, não ouviu os organismos que alertam para um fim do Alentejo. Foi lá, falou com eles, eles dizem que está tudo bem e o senhor acreditou e chamou-nos irresponsáveis e extremistas.
Como é que o senhor quer ser credível e ser eleito se, num primeiro ato, desrespeita a Constituição? Sim, na minha opinião começou por desrespeitar o primeiro artigo, passou para o nono… e por aí adiante.
Lembro-lhe:
Artigo 1.º
República Portuguesa
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado
São tarefas fundamentais do Estado:
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correto ordenamento do território;
Artigo 10.º
Sufrágio universal e partidos políticos
2. Os partidos políticos concorrem para a organização e para a expressão da vontade popular, no respeito pelos princípios da independência nacional, da unidade do Estado e da democracia política.
Artigo 13.º
Princípio da igualdade
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Artigo 24.º
Direito à vida
1. A vida humana é inviolável.
Artigo 25.º
Direito à integridade pessoal
1. A integridade moral e física das pessoas é inviolável.
2. Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos.
Artigo 26.º
Outros direitos pessoais
2. A lei estabelecerá garantias efetivas contra a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações relativas às pessoas e famílias.
Pessoalmente, considero que as pessoas que vivem em Fortes, em Alvito e outros locais estão a ser torturadas, vítimas de maus tratos, vivem em condições cruéis, degradantes e desumanas. Considero que a Vontade popular não é a expressa nas políticas adotadas. Considero que os nossos recursos, o Ambiente e a Natureza não estão a ser defendidos. Considero que a Vida está a ser ameaçada, no Alentejo e no País.
E, infelizmente, não vejo a defesa de um produto que era de excelência. Todos, certamente, se lembram das experiências da escola sobre a densidade dos líquidos. O azeite era espesso, não deslizava com facilidade, tinha sabor a azeite, e, nunca, se misturava com o vinagre. Azeite e vinagre criavam bolhas; água e azeite separavam-se na integra.
Comprei vários azeites e fiz essas experiências:
- alguns azeites, ao serem misturados com o vinagre, formaram uma espécie de manteiga;
- não consegui nenhum azeite que se separasse, na integra, da água; alguns criaram uma espécie de película branca, entre o azeite e a água; o que será aquilo?
Eu sei que a China e mais não sei quem vão precisar de azeite mas… não estaremos a vender “gato por lebre”? O que lhes vendemos não provém de oliveiras, provém de espécies não portuguesas e que foram alvo de modificações do ADN, portanto organismos transgénicos. Ainda me questiono: que desenvolvimento temos?
Um desenvolvimento que me faz pagar produtos ao preço do ouro. Já viram o preço da salsa? Entre 50€ a 125€ o kg -a que provêm do Parque Natural do Litoral Alentejano. Salsa? Coentros? Alface? Bróculos? Num Parque Natural? Escrevi tanto que já não há espaço para o Amendoal e para os americanos que vêm a caminho.
Sou alentejana, portuguesas e se a constituição permite que expresse a minha vontade e a minha opinião: sou contra. O Desenvolvimento do Alentejo tem que passar pela recuperação dos seus recursos naturais (e são muitos), com total respeito pela Natureza, pelo Ambiente; pelo Património Histórico e pela vida. Sou contra a destruição do Alentejo, sou contra o arranque de árvores seculares, e sou contra as culturas superintensivas. Sou contra estes crimes e a Constituição Portuguesa também o é.
Conselhos de leitura sobre este tema:
https://navegantes-de-ideias.blogspot.com/2018/01/o-fim-da-planicie-e-morte-do-azeite-um.html
https://navegantes-de-ideias.blogspot.com/2018/02/destruido-todo-o-parque-natural-do.html
Sem sorrisos
Guida Brito