Amei esta
época da minha vida. Fiz tantas loucuras.Lembrei-me, neste tempo de crise, de
uma crise pela qual passei.
Era uma jovem e os jovens tudo podem. Depois três meses sem receber, nem sei porquê, e após muitos pedidos e reclamações restavam-me cerca de 50 escudos, se tanto, na minha rica carteirinha.
Era sexta-feira, bebi um cafezito e
comprei um bilhete de autocarro: Ribeira Grande- Ponta Delgada. Entrei na
Direção Geral de Educação e sentei-me, faltavam 5 minutitos para a dita fechar.
Quando inquirida sobre a minha presença, abri a carteirita, mostrei todo o
espaço que se encontrava repleto de vácuo e disse:
- Há 3 meses que trabalho sem receber, gastei o último tostão no
autocarro, não tenho que jantar nem como voltar para casa. Preciso das devidas
mesadas.
- Vamos fechar, volte segunda feira.
- Não tenho como ir, nem como voltar; não se incomode por minha causa.
Feche a portita, eu continuarei aqui sentada, segunda-feira sou a primeira a
ser recebida.
Voltei, calmamente, para o meu assento.
- Saia lá, minha senhora.
- ...
- Olhe que eu, hoje, estou com pressa: tenho um jantar de amigos.
- Não se preocupe, pode sair. Se restar do seu jantar, por favor, guarde
e traga na segunda, eu vou precisar.
Enrolei-me na minha rica mantinha, descalcei os sapatitos e alapei-me.
Veio uma funcionária, mais uma e mais uma... Começaram as promessas,"vamos resolver", "Pode sair que já está"...
- Nã, eu daqui nã saio, nã quero dormir na rua, prefiro dormir aqui. Até
fico quentinha, trouxe a minha mantinha. Essa resposta (que o dinheiro estava na
conta) já a recebi vezes sem conta e o dinheiro: nada.
As horas iam passando, não sei como não me deram um tiro. Aquilo azedou.
E a alentejana nas calmas, sem sapatitos, enrolada na sua mantinha.
Mais ou menos às 20 horas, foi chamada ao local a senhora Diretora
Regional. Pobrezita, já estava a jantar em família, pensando iniciar um
delicioso fim de semana. Ainda não conhecia os alentejanos.
- Minha senhora, pode ir que já tem o dinheiro na conta.
- Nã, eu daqui nã saio. Essa resposta já a recebi vezes sem conta. Só
saio quando o gerente do banco me telefonar a informar que a conta está na
conta.
(...)
Lá recebi um telefonema a informar que a conta tinha a conta certita. Voltei para o meu lugar e tornei e alapar-me.
- Nã! Eu daqui não saio. O gerente tem que me provar que é, de facto, o
gerente do banco.
Foi o pânico, a última gota, os gritos, a confusão... E eu sentadinha.
E as horas passavam.
Perto da meia-noite, recebi o tão esperado
telefonema. O senhor gerente teve a gentileza de confirmar a sua identidade,
fornecendo-me todos os dados relativos à minha conta, aos quais só eu tinha
acesso. Agradeci, calcei os sapatos e nas calmas dobrei a mantinha e saí.
"Boa noite e bom jantar para todos." Se não me assassinaram, neste
dia, foi por pura sorte.
Pergunto:
hoje, quem aguentaria 3 meses sem receber? É a diferença entre o antes e
o presente.
Sorrisos
Guida Brito
Adorei.
ResponderEliminarObrigada, Isabel, Sempre a ler-me. Gosto. Beijinho.
EliminarMaravilhoso, como tu.
ResponderEliminarObrigada, Anna.
EliminarGrande Guida , assim e q e , a vida pôs te a prova em muitas situações por isso e que tu es uma grande mulher :)
ResponderEliminarObrigada, Céu. Beijinhos
ResponderEliminar