Era tarde ou talvez não. A imagem
refletida no espelho devolvia os sorrisos, os amores, as carências, as
amarguras, as alegrias, os momentos, as tristezas; marcas do tempo, marcas da
vida- se assim lhe quisermos chamar: a importância do corpo é relativa. Não se
poupou de adornos que realçavam o que de melhor
há em si (como se o “si” fizesse parte do corpo). Um salto alto, uma
saia justa direccionavam o olhar para umas pernas esbeltas: escondiam a carência
de abraços, a carência de ti.
Sorriu, realçando os momentos
patentes no rosto, lembrava-se… Encontrou-o a meio caminho da meia idade (uma
meia idade indefinida- nunca sabemos o quão curta ou longa é a vida). Não o
encontrou: encontraram-se- e, essa, era a diferença que marcava esta história
da sua vida. Sentiram-se antes de se olhar; souberam-se antes de acontecer.
Nunca conversaram, nunca se olharam mas sabiam-se e cada um tinha consciência
do outro: não raras vezes se avivavam à memória. Roçavam como quem não quer que
aconteça. Ocupavam-se, quebrando a solidão até ao dia em que soltassem as amarras
do destino que teimava em os afastar (o destino só acontece quando fugimos do
vulgar e decidimos ousar). Cada um vivia como se não soubesse do outro: uma
ignorância certa do abraço que, um dia, os iria tocar.
- Espero-te mas já estás aqui-
sorriu.
Provavelmente iriam ver o mar, o
mar é tão grande… e o que sentiam era do tamanho do mar.
Sorrisos
Guida Brito
metade "auto-retrato"...
ResponderEliminarLindo...