sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Do tamanho do mar



Era tarde ou talvez não. A imagem refletida no espelho devolvia os sorrisos, os amores, as carências, as amarguras, as alegrias, os momentos, as tristezas; marcas do tempo, marcas da vida- se assim lhe quisermos chamar: a importância do corpo é relativa. Não se poupou de adornos que realçavam o que de melhor  há em si (como se o “si” fizesse parte do corpo). Um salto alto, uma saia justa direccionavam o olhar para umas pernas esbeltas: escondiam a carência de abraços, a carência de ti.
Sorriu, realçando os momentos patentes no rosto, lembrava-se… Encontrou-o a meio caminho da meia idade (uma meia idade indefinida- nunca sabemos o quão curta ou longa é a vida). Não o encontrou: encontraram-se- e, essa, era a diferença que marcava esta história da sua vida. Sentiram-se antes de se olhar; souberam-se antes de acontecer. Nunca conversaram, nunca se olharam mas sabiam-se e cada um tinha consciência do outro: não raras vezes se avivavam à memória. Roçavam como quem não quer que aconteça. Ocupavam-se, quebrando a solidão até ao dia em que soltassem as amarras do destino que teimava em os afastar (o destino só acontece quando fugimos do vulgar e decidimos ousar). Cada um vivia como se não soubesse do outro: uma ignorância certa do abraço que, um dia, os iria tocar.
- Espero-te mas já estás aqui- sorriu.
Provavelmente iriam ver o mar, o mar é tão grande… e o que sentiam era do tamanho do mar.
Sorrisos

Guida Brito

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