Esta pequena estória com pormenores sórdidos que
aconteceram mesmo, tem de ser encarada no tempo em que aconteceram. A
educação era outra, o comportamento dos navegadores eram na base da violência
para com os seus marinheiros e com outros Povos que encontravam.
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Vasco da Gama (VG) foi escolhido para essa viagem por D. João II em detrimento de Bartolomeu Dias e do elegante e conciliador Pedro Álvares Cabral. O Rei entendia que com os Muçulmanos de religião "inimiga" não devia haver muito diálogo para encher os porões de especiarias. Toda a violência contra as populações visitadas estava legitimada pelo Rei e até pelo Papa. VG era o capitão ideal para esses desígnios. Era homem experiente, abrutalhado e insensível. |
Escolheu a tripulação da nau São Gabriel no basfond lisboeta. Vadios, ladrões, chulos e até presos das cadeias foram seleccionados. |
Para as limpezas gerais das naus foram arrebanhadas
das ruas de Lisboa crianças vadias e abandonadas de idades entre os 10 e os
15 anos e outras compradas a familias pobres e miseráveis.
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VG navegou para Sul e depois para Ocidente para
apanhar os melhores ventos ganhando velocidade e a seguir voltando para
Nascente até ao então Cabo das Tormentas.
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Foi na primeira parte da viagem que aconteceram
grandes dramas e até tragédias humanas terríveis.
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Dentro da nau, de apenas 20 metros de comprimento
por 8 de largura maxima, acotovelavam-se muitos marinheiros, crianças,
oficiais e um religioso, Frei Pedro da Covilhã.
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No meio do Oceano e já no Hemisfério Sul o
alimento começou a escassear, a maior parte apodreceu com a humidade.
Imaginemos aquele ambiente vivido durante cerca de 100 dias. As tempestades e
os ciclones provocaram estragos nas velas e deitara abaixo o moral e havia
desespero. Grassava a fome e até as solas das botas eram disputadas para
serem cozinhadas. Sentia-se no ar revolta e desejo de regressar.
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Aos marinheiros que morriam de noite de doença eram-lhes arrancados bocados de carne do corpo inerte para matar a fome dos mais desesperados. |
As ratazanas alimentavam-se dos mortos e elas por
sua vez eram caçadas pelos marinheiros em grandes lutas.
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Alguns atiravam-se ao mar, nao suportando tanto
sofrimento.
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Os marinheiros para se entreterem faziam jogos e os
que perdiam ou pagavam ou eram esfaqueados e mortos e logo jogados borda
fora. Outros para pagar dívidas de jogo vendiam as esposas e filhas deixadas
lá longe na Pátria.
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Muitos marinheiros agarravam nas crianças e pela força ou ameaçadas por facas eram sistematicamente seviciadas e violadas. Os seus possuidores vendiam-nas em jogos. |
Perante tanta atrocidade muitas das crianças optavam
por se darem a marinheiros mais fortes para se sentirem protegidas. Se alguma
delas ficava mais ferida e se queixava aos oficiais das sevícias sofridas era
imediatamente morta ou atirada viva para o mar.
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Que fazia VG perante estas atrocidades ?
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O religioso da nau bem reportava a VG o que se
passava com essas crianças.
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Bruto, apenas respondia, em risada com os oficiais:
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--Que encostem o rabo à murada!
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No restante, nada fazia. Fingia que nada sabia, nada
via. Estava tudo previsto devido as suas experiências em viagens anteriores.
Tinha de chegar à India e voltar com os porões cheios de especiarias, não
importava o preço a pagar em vidas ou os sacrifícios.
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Os horrores atenuaram-se quando a nau arribou à Baía
de Santa Helena, uns 200 kms antes do temeroso Cabo das Tormentas, tendo
antes VG enfrentado uma sublevação na qual esteve preso, sendo libertado por
intervenção do irmão, o comandante de outra nau que estranhou ver VG
dirigir-se para Norte em direcção à Pátria.
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Naquela Baía foram recebidos por mulheres negras
indígenas nuas que aceitaram de boa vontade os avanços sexuais repetidos dos
marujos em troca de botões, espelhos e bugigangas. As prolongadas orgias
só terminaram quando se aproximaram deles um grupo de homens negros com ar de
más intenções.
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Carregaram água potável, tinham trocado tecidos e
roupas por diversos animais vivos e partiram
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cheios de medo na direcção do Cabo das Tormentas,
rebaptizado da Boa Esperança por D.Joao II.
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José Jorge Cameira
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