“Bruce revela-se – mostra-se, talvez como
há muito não o fazia. Confessa-nos que afinal é possível pacificarmo-nos com o
passado e olhá-lo de frente – e fez um dos discos mais bonitos da sua carreira;
um dos mais cinemáticos de sempre.”
Não há muitos discos que me
batam assim – que me levem de imediato não só para zonas longínquas e mal
iluminadas dentro de mim, mas também para lugares feitos de sonhos e paisagens
de asfalto, sem linhas de horizonte.
As canções do novo “Western
Stars” revelam um Bruce springsteen que deixa para já, as guitarras e de novo a
E Street Band, para se sentar num calejado banco e, de frente para nós, do alto
dos seus 69 anos de vida desfiar um leque de narrativas e personagens que vão
surgindo devagar – ao sabor da sua voz grave -, e de acordo com a importância
de cada uma delas.
Bruce continua a gostar muito
do velho oeste e a admirar as lutas das classes norte-americanas mais
desfavorecidas, mas neste novo álbum está claramente mais em paz consigo, com
os seus e com os outros – que somos todos nós.
E este é um tempo de elevação.
Não há a força braçal americana, não há filas de desempregados nem duelos de
cowboys. Há um Bruce narrador de conversas feitas à volta de mesas de madeira
patinadas pelo velho Bourbon e, de paisagens coloridas de azul e laranja,
pinceladas a espaços por redondos rolos de feno.
Ancorado numa sonoridade de
quase filigrana, Bruce revela-se – mostra-se talvez como há muito não o fazia.
Confessa-nos que afinal é possível pacificarmo-nos com o passado e olhá-lo de
frente – e por isso fez um dos discos mais bonitos da sua carreira; um dos mais
cinemáticos de sempre.
Seja percorrida a galope num dócil puro-sangue lusitano,
sentado na caixa de uma velha pick-up ou no selim de uma clássica e pesada
pasteleira, a Costa Alentejana está agora ainda mais bonita – porque acabou de
receber um magnífico conjunto de excelentes histórias que vão juntar-se a todas
as outras que por lá ouvimos e vivemos. E, estas são contadas á maneira do
velho Bruce.
A foto regista o final de um
pequeno encontro em Lisboa, em 2016.
- Achas que podemos fazer uma
selfie?
- “ya -sorrindo”
- Para mim é a foto de uma
vida.
- “a sério? Tira duas; assim
vives duas vidas”
- e eu tirei