terça-feira, 9 de julho de 2019

Jair Bolsonaro podia ter dito quase tudo; menos o que disse

À conversa com António Jorge


Vivemos e continuamos a produzir tempos em que vale quase tudo – e cada vez mais  a palavra “vale” tem um papel ora de intruso ora de alívio de consciência – mas vale o que vale. E depois existe o gosto (não me refiro ao popular like digital, mas ao sabor da coisa) e a ignorância.  E, se o primeiro não se discute, dizem, já a segunda não devia ser permitida.






Jair Bolsonaro podia ter dito quase tudo; menos o que disse.

Podia ter dito por exemplo que, com João Gilberto nasceu toda uma nova maneira de fazer música. Que João deu modernidade à música, que criou a sua filigrana e, que Caetano e Chico são o que são porque houve João. Que o autor de “Chega de Saudade” tirou as gorduras à Bossa Nova e a espalhou mundo fora e que, de alguma forma representava a generosidade em toda a sua plenitude.

O recém eleito presidente do Brasil podia inclusivamente ter ido mais longe: muito mais longe e dizer que “o seu violão era uma verdadeira orquestra” e que João Gilberto deu toda uma nova identidade ao Brasil. 

Se tudo isto falhasse, como falhou,  porque quase tudo vale o que vale, podia  ter citado Caetano Veloso “ninguém com tão pouco transformou tanto” ou mais institucionalmente  Marcelo Rebelo de Sousa, presidente das republica portuguesa – “quem viveu essa época, e mesmo quem não a viveu, não esquece a novidade de João Gilberto, nem o seu legado”.

Jair Bolsonaro podia ter dito quase tudo, menos o que disse – “era uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?”.
Vale o que vale é certo, mas é que os ignorantes também têm um coração.
AJ
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Bruno Ferreira (Levanta-te e ri) sentado à conversa com António Jorge, na Lagoa de Santo André




1 comentário:

  1. Vivemos e continuamos a produzir tempos em que vale quase tudo – e cada vez mais a palavra “vale” tem um papel ora de intruso ora de alívio de consciência – mas vale o que vale. E depois existe o gosto (não me refiro ao popular like digital, mas ao sabor da coisa) e a ignorância. E, se o primeiro não se discute, dizem, já a segunda não devia ser permitida. AJ

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