Vivemos
e continuamos a produzir tempos em que vale quase tudo – e cada vez mais a palavra “vale” tem um papel ora de intruso
ora de alívio de consciência – mas vale o que vale. E depois existe o gosto (não
me refiro ao popular like digital, mas ao sabor da coisa) e a ignorância. E, se o primeiro não se discute, dizem, já a
segunda não devia ser permitida.
Jair Bolsonaro podia ter dito quase tudo; menos o que disse.
Podia
ter dito por exemplo que, com João Gilberto nasceu toda uma nova maneira de
fazer música. Que João deu modernidade à música, que criou a sua filigrana e, que
Caetano e Chico são o que são porque houve João. Que o autor de “Chega de Saudade”
tirou as gorduras à Bossa Nova e a espalhou mundo fora e que, de alguma forma
representava a generosidade em toda a sua plenitude.
O
recém eleito presidente do Brasil podia inclusivamente ter ido mais longe:
muito mais longe e dizer que “o seu violão era uma verdadeira orquestra” e que
João Gilberto deu toda uma nova identidade ao Brasil.
Se tudo isto falhasse,
como falhou, porque quase tudo vale o
que vale, podia ter citado Caetano
Veloso “ninguém com tão pouco transformou tanto” ou mais institucionalmente Marcelo Rebelo de Sousa, presidente das republica
portuguesa – “quem viveu essa época, e mesmo quem não a viveu, não esquece a
novidade de João Gilberto, nem o seu legado”.
Jair
Bolsonaro podia ter dito quase tudo, menos o que disse – “era uma pessoa
conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?”.
Vale
o que vale é certo, mas é que os ignorantes também têm um coração.
AJ
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