quinta-feira, 8 de março de 2018

Soneto para a Mulher

Mulher de calções
       Ele vinha tão feliz, com o conseguido, e eu fiquei tão encantada que nem vi o que emendar. Disse-lhe: "Eu não faria melhor e não encontro nada que precise de correção ou remendo". Ele: voou, pulou, riu e gritou- looolll. Amanhã, escreverá de novo e com muito querer. Por vezes, nós, os adultos, caímos no erro de ver e valorizar o que é menos importante. 
Poema

Soneto de Mulher


camões - adaptação

A Mulher é arte que cresce sem crescer;
É um Sentimento que se sente sem sentir;
É chama que arde sem arder;
É amor que foge sem fugir;

É resistência que não resiste;
É uma estrela que brilha sem se ver;
É uma alma amada e triste;
É um pensamento forte que forte não sabe ser;

Uma flor que nunca floriu;
Alguém que nunca se viu;
Um sorriso que sorri

Uma presença que não está presente;
Valentia desvalente
É o universo de amor que eu só sei de cor!

Maili (9anos)

terça-feira, 6 de março de 2018

Roupa estendida

cuecas
     
Por terras do Alentejo, antigamente, a roupa era lavada, ao domingo, na ribeira. Lembro com saudade: o cheiro dos lençóis e a noite, bem dormida, na cama afofada. Era seca no pasto ou nas velhas pedras que vigiavam a planície. Segunda-feira, era declarado o "dia sem nódoas" e seguíamos frescos e airosos, em amena cavaqueira,logo pela manhã, a caminho da escola.


Alentejo
      Mudam-se os tempos, poluem-se as ribeiras e o Mundo gira para um espaço sem volta. Roupa suja: lava-se em casa; usam-se cheiros duvidosos que imitam, de forma longínqua, o que de bom perdemos. Mais coisa, menos coisa: destruímos a realidade e procuramos, em nome do desenvolvimento, imitar o que já não há. Somos seres sem sentido.
Mulher a estender roupa
   
  No Alentejo, alguns velhos hábitos ainda resistem. Talvez seja isso que faz desta região um espaço de pureza única. O estender roupa ainda prolifera, com encanto, nas janelas, nas portas, nos estendais do quintal... só no Alentejo: sabemos a cor das cuecas da vizinha.

Panos de cozinha

 Deixo-vos alguns dos meus registos.

Panos de cozinha



Calças e avental

Piçarras

Namorados
Sorrisos
Guida Brito

domingo, 4 de março de 2018

O Inverno chegou ao Alentejo

estrada
     Choveu no Alentejo e os campos vestiram-se de verde: há muito que o pasto chorava o cheiro a terra molhada. 
Estrada, verde e céu
     A Natureza não se fez de rogada e vestiu-nos o olhar de plena sedução. Por aqui, respira-se os tons da alegria e o saber de uma primavera que não se demora.
Campo e céu
 As imagens falam por si: cative-se.
Campo verde e céu com nuvens



Estrada molhada

Cavalo no campo
 Ops!!!!!! Desculpem.
Cavalo a fazer chichi
Guida Brito

sábado, 3 de março de 2018

Camões- numa escola do Alentejo

Tulipa
Há quatro anos que os meus alunos escrevem poesia. Iniciaram a sua escrita aquando da aprendizagem da primeira letrinha: a letra i.  Escrever com amor e ilustrar: deu voz aos quereres de gente miúda. Hoje, decidi explicar o que é um soneto. Apresentei Camões: apaixonaram-se. Jamais esperaria as magníficas adaptações do soneto "Amor é fogo que arde sem se ver". Partilho o poema da Violeta, nove anos,

Amor é água que cresce do céu

Amor é água que cresce do céu
É o que nós sentimos dentro de nós
É um profundo abraço vindo do mar
Começa a crescer quando lhe tocamos

É um beijo vindo do coração
É um poder que permite dar a mão
É nunca ficar triste, só contente
Um acontecimento especial entre nós

É querer estar livre, viajar neste mundo
Abraçar quem vence a um vencedor
É ter quem nos beija e abraça

Mas cuidar desta vida deve ser do pior
Então, volto a perguntar
O que é o amor?

(Violeta, 9 anos, 4ºano)

Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 2 de março de 2018

Messejana - a vila azul e branca


 Igreja
São muitas as histórias que fazem com que a Vila de Messejana seja sobejamente conhecida do povo português. No entanto: são poucos os que já visitaram esta linda vila alentejana. Em tons de azul e branco cativa na sua simplicidade. 
rua

Um azul da cor do céu e um branco nuvem: intercalam-se criando fantasia e sedução. Mística e singela: integra a simplicidade do interior alentejano. 
Casas com barra azul e branca
Um "bom dia" ou um "de quem é filha?" recebem-nos à chegada e confirmam a simplicidade de gentes afáveis. 

rua da igreja

Sem dúvida: este, é um dos mais belos povoados (quer pelas suas cores; quer pela simpatia das suas gentes; quer pelas rendas que adornam paredes; árvores e postes de eletricidade; quer pelas igrejas; quer pelo património urbanístico; quer...). 
Poste de telefone com renda

Messejana tem tudo: até a graça de uma história, de uma praia. Messejana, não é a vila praia. Messejana é a vila azul e branca: catita, airosa e sedutora.
Igreja

Rendas em poste de eletrecidade

Leia também: https://navegantes-de-ideias.blogspot.pt/2018/02/o-lavadouro-de-messejana.html

Sorrisos
Guida Brito

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Um Alentejo doído pela seca


Barragem seca



Estamos na fase final do inverno: não há verde e apenas meia dúzia de capitosas flores teimam em florir. A vegetação das margens dos cursos de água encontra-se seca;  os açudes e as barragens esqueceram a sua serventia.  
Barragem seca

Predominam as cores outonais e o cinza faz esquecer a constante mudança da paisagem alentejana. Não há verdes poemas e o sol espreita, raramente entre as nuvens, almejando que o arco-íris refrate a sua cor. 
Seca no Alentejo

Perdi a esperança: as campainhas, os bunhos, as “escravaninhas”, as primaveras, as orquídeas selvagens e restante vegetação empurram a primavera para os tons de 2019 (quiçá).  Um Alentejo doído pela seca; um Alentejo sem cor.
Seca no Alentejo

Guida Brito


domingo, 25 de fevereiro de 2018

O Lavadouro de Messejana

tanques de lavar a roupa
Outrora, o poço e o lavadouro eram o centro de vida da aldeia. Entre o corrupio dos gaiatos, lavava-se a roupa e a vida alheia. Lavavam o olhar as jovens casadoiras, enternecidas com a insistência e as piruetas motoqueiras do jovem mais atrevido. Do alvorecer ao anoitecer, chegavam quartas, roupas, namoros e dois dedos de conversa. O lavadouro de Messejana é um dos mais bonitos do Alentejo: encerra, certamente, em si, memórias dos tempos que já lá vão. Um Alentejo com história.
poço e tanques de lavar a roupa


Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Nógado - doce tradicional alentejano.



Prato verde com doce

Uma receita com origem na tradição Árabe. Elaborada com frutos secos, fazia as delícias de miúdos e graúdos. No Alentejo, mãos sábia e mentes persistentes desafiam a pobreza da região: farinha e folhas de laranjeira conferem sabores únicos e enriquecem a mesa. Na minha casa, existe uma receita com muitos séculos: ponderei e decidi mantê-la na família. É tão velha que ainda utiliza como unidade de medida a casca de ovo.  
Doce em folha de laranjeira


A que vos apresento é fácil de fazer e em nada perde sabor.
Ingredientes

Massa
- 350 g de farinha de trigo

- 1 pitada de sal

- 3 ovos

- raspas de limão ou laranja

- 1 colher de sopa de banha


Para fritar a massa:

- azeite


Outros:

- 10 dl de mel

- folhas de laranjeira
Nógado em folha de laranjeira


Confecção:
1. Junta-se à farinha os elementos acima mencionados. 

2. Amassa-se tudo muito bem; tendem-se uns rolinhos finos  que se  cortam em pedaços muito pequenos. 

3. Deixe levedar em sítio quente. 

4. Fritam-se em azeite bem quente.

5. Junta-se a massa frita ao mel em ponto de rebuçado. 

6. Depois de bem misturado, deita-se sobre as folhas de laranjeira.

Ao comer, dê pequenas trincas na folha de laranjeira: complementa o sabor.

Sorrisos
Guida Brito


domingo, 18 de fevereiro de 2018

Fortes Novas, Alentejo: desenvolvimento ou exterminação?



Poluição
     Portugal, Alentejo: cerca de quarenta velhos foram condenados a viver enclausurados, nas suas casas, de janelas fechadas, 24 horas por dia; condenados a respirar o negro; condenados a uma alimentação parca e pobre. Problemas respiratórios, tosse, lacrimejar de olhos, ardor na garganta chegaram em tons de dor. Sem ar, sem água e sem alimento, rezam pedindo a morte e que esta  não se demore.  Falo em quarenta mas minto. Não são quarenta: são mais. Quarenta velhos e um menino (de doze anos) são os mais violentados num dever que devia ser sagrado: o direito à vida.
Chamo-lhe: velhos. Os idosos são cuidados com afeto e esmero. Os velhos agoniam ansiando a morte. Aos idosos, a sociedade proporciona o bem; aos velhos, a mesma sociedade, retira-lhes o ar, a água e o sustento: mata-os em vida (devagarinho e com dor).
Poluição em Fortes
     Vou fazer o contraproducente: escrever muito sobre um tema. Dizem que, por terras da internet, se é muito: ninguém lê. Vamos testar a Vossa capacidade de concentração. Sugiro: aquiete-se na leitura e mexa-se na indignação.

     Após escrever sobre os graves crimes(na minha leiga opinião) ambientais e contra o património (consequência dos olivais superintensivos no Alentejo), recebi milhares de mensagens e pedidos de escritos. Um despertou-me o agastamento e decidi investigar.
“ Os letrados chamam-lhe desenvolvimento; eu rezo para que a morte chegue e em breve”- o relato vem de Fortes Novas; Figueira de Cavaleiros; Alentejo.
 Couve de Fortes

     Outrora pacata, num Alentejo profundo, brindou  a um Alqueva que lhe prometia água- ignorando a morte lenta, escrita em cada gota do grande lago que lhe garantia, um dia, matar a sede. As hortas, as cabras… permitiam a sobrevivência, garantiam o sustento e fizeram jus ao sonho de educar os filhos. Gente que vivia das parcas reformas portuguesas e que necessitava da terra para matar a fome. Chegou o olival e o desenvolvimento, de forma moderada, aconchegado  sonhos de emprego e de futuros risonhos; trouxe o lagar, o maior do mundo; trouxe a esperança. Dias curtos de quem só sonhou. Tudo se foi tornando maior, e maior, e maior… ocupando todos os espaços, gritando em nome da economia e do desenvolvimento. Os sonhos não sorriram e os empregos não se conhecem por ali. Mas veio a fábrica; veio a fábrica transportando o negrume,  a dor e a morte (dizem eles e parece que têm razão). 
Vinha seca
     Com a poluição, as hortas morreram e com elas o alimento de uma população pobre; o ar deixou de ser respirável e a água passou a ser negra. 
Vinha seca
     O negro invade-os ainda em vida.
Poluição atmosférica

     Começaram a queixar o seu tormento mas gente velha não é ouvida.  Queixam-se, choram e esperneiam- esperneiam dentro de casa (na rua, o ar é irrespirável e o fumo negro nauseabundo não permite ver qualquer horizonte).
Água poluída

     Referem uma unidade fabril de extração de óleo de bagaço de azeitona (proveniente dos olivais superintensivos) como causa dos seus males. Labora dia e noite, entre nove a doze meses por ano; e, cerca de, cinco chaminés, de forma intensiva, lançam na atmosfera não se sabe bem o quê; sabe-se que num raio de dez quilómetros, a vida não é um bem que se preze; sabe-se que, a viver num raio de 400 metros, esta gente é enterrada em vida.
Poluição no interior de uma casa- Fortes

      Petrifiquei perante a sua dor. Fui ouvindo; fui lendo.
“ trinta vacas morrem envenenadas após beber água”…” brutal fuga de água contaminada por uma ribeira abaixo”

“… as casas e as viaturas ficam cobertas por um resíduo oleoso e cinzas e não se pode estender roupa” – fica suja e a cheirar mal.

“os filtros não são substituídos porque a sua substituição impede o rendimento máximo da fabrica - só se vier a inspeção…”

“ devido aos olivais, no solo, a poluição acumulada é tanta que se chover o Sado morre e chega ao mar”
Poluição dos solos

     Ouvi e vi fotografias que comprovam as águas negras, as roupas sujas, o negrume que se cola a tudo- mesmo no interior das casas. Vi que não se via  devido à densidade do ar.
     E li, li tudo o que encontrei de artigos, jornais, emails, respostas…
     Li que a poluição abarca muito mais que o raio de 10km. Em Santiago do Cacém, numa albufeira em Monte Novo dos Modernos, a autarquia retirou 700kg de peixes mortos. Chamada a GNR:

“Os militares, ao deslocarem-se à albufeira, verificaram que a água se encontrava completamente “negra” e com cheiro a “bagaço de azeitona”…”

“ Após efetuadas diligências de investigação, a GNR apurou  que os motivos da contaminação da albufeira foram motivados por “descargas provocadas por uma empresa que se dedica à compra e venda de biomassa, atividade para a produção de azeite e fabrico de pellets de bagaço de azeitona a partir de bagaço seco”

 “ fonte da GNR afirma que a empresa está referenciada… no domínio da poluição hídrica, de solos e de atmosfera”

     A GNR:
“detetou… durante uma acção de fiscalização… e da acção resultou a elaboração de cinco autos de contra-ordenação por existência de lagoa sem proteção, abandono e injeção de resíduos no solo, falta de auto-controlo de emissões para a atmosfera, acções  de condução ao perecimento e evidente depreciação de azinheiras e sobreiros e operação de gestão de óleos usados em violação das normas estabelecidas”
(…)
Carro com óleo

    
     Relativamente à empresa em questão- li que, através de um porta-voz ,foi garantido: “o que sai das chaminés da fábrica, “mais bem preparada da península Ibérica, é apenas vapor de água”. E acrescenta: “As consequências para a qualidade  de vida das pessoas são “o outro lado da moeda” sublinhando que “é impossível haver actividade económica sem impactes ambientais negativos”

     Ops! Senhores, se é vapor de água, qual é o impacto ambiental negativo que referem? Contaminam as águas, os solos?

     Se reconhecem consequências na qualidade de vida das pessoas, posso perguntar:  o que estão a contaminar?
     Ajudaram a matar a sede e a fome a esta gente? Pagam tetos nas casas com telhado constituído apenas por telha? Fornecem alimento à população? O que fizeram? Qual é a Vossa contribuição para minimizar este enterro vivo?
      Já ajudaram as pessoas a saber de onde provêm os cheiros nauseabundos; a cobertura oleosa que se pega a tudo, os fumos que carregados de partículas impedem a visão? Ajudaram a saber o que é o “preto” que invade a aldeia? 
     Apraz-me dizer: E os velhos nunca mais morrem para ficarem calados de vez! Quem diria que mesmo fechados em casa, sem ar, sem comida e sem água, resistiam tanto.


Poluição dos solos

    Ouvi o programa do Hernani de Carvalho sobre o tema em questão.

     Senhor Presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, permita-me partilhar a minha modesta opinião: não gostei de o ouvir. Eu sei que a população o defende e reconhece que está do lado deles; eu é que não fiquei convencida. Vão tentar encontrar soluções? Quando os velhos morrerem? E até lá, eles respiram, bebem e comem o quê? São velhos: morrem já morridos da vida que não vivem. Da forma como falou, senti que de um lado estava o dinheiro e do outro estavam os votos. O “não  é da competência da autarquia” precisava ser melhor  definido. Precisava que, nas mesmas condições que os habitantes, o senhor e os que nada decidem vivessem lá uma semanita. Sabe que, segundo o que li, a fábrica que labora aí foi transferida de Vila Velha de Ródão. O Ministério do Ambiente considerou-a quase uma luz divina sem qualquer poluição. O Presidente da autarquia juntou-se à população e,  da sua ação, resultou o fecho da fábrica pelo tribunal, por: incumprimento, por parte da empresa, dos valores limite de emissão aplicáveis aos poluentes, partículas, monóxido de carbono e compostos orgânicos”. A situação foi considerada de extrema gravidade pelo tribunal. Este senhor deixou obra: permitiu a vida na região. E não era da sua competência.

     Pelo Alentejo, assiste-se a um surto de presidentes de autarquias e câmaras que querem deixar obra: o que se traduz em rotundas repletas de obras de arte. Não tenho nada contra a arte, antes pelo contrário,  apenas acho injusto  trocar o ar, a água, a vida, o património pela sua existência. Não sei se é obra sua: não pude deixar de reparar que recentemente foram colocadas duas em Figueira de Cavaleiros.
Figueira de Cavaleiros

     Uma das quais tem semelhanças com o povo de Fortes: ambos não têm. O povo de Fortes não tem água, não tem ar, não tem comida; a rotunda não tem estradas. Não tem; olhei, olhei, fui lá e não tinha: não havia estrada.  Está ali, numa imponência desmedida, no meio de nenhures.
Olivais superintensivos



    Senhor Presidente, não ligue à minha Ironia mas não fale, aparentemente feliz, em Desenvolvimento do Alentejo, numa alusão aos olivais superintensivos e azeites daí provenientes. O que o senhor chama de desenvolvimento, eu chamo de destruição e o Povo de Fortes fala em exterminação (morte). Não tem conhecimento que tudo foi arrasado pelo Alentejo: património histórico; património ambiental (fauna, flora); recursos Hídricos; ar….? E agora arrasa com a vida humana. O senhor ocupa uma posição, um cargo, eleito pelo povo, que lhe permite fazer mais e melhor. E o povo é poucochinho a pedir: quer água, ar e comida. Percebeu que a sua região beneficiou com duas rotundas (uma sem estradas) e ficou sem tudo o resto que é essencial à vida;?Nem empregos (os trabalhadores não são dessa zona). Vai dizer-me, também, que os habitantes que representa não querem trabalhar? Tenho a certeza que consegue fazer mais e melhor. Urgente… urgente era garantir, no imediato: direito a respirar; direito a comer; direito a beber e direito a sair de casa. Depois vinham as soluções: “os sopradores” (como referiu o Hernani). Eu não dormiria se os que me elegeram, e acharam digno para o cargo, estivessem enterrados em vida. A população precisa de 1000 euros para fazer análises independentes e fidedignas; a sua autarquia vai colaborar de forma monetária?Quando? (Pode  vender uma rotunda- a que não tem estradas).
Olivais superintensivos

     Ouvi, também, não a voz,  a mensagem do senhor administrador da empresa em questão: Nuno Branco. De Inglaterra, manifestou a voz da empresa... De Inglaterra? O senhor vive em Inglaterra? Não trabalha em Fortes? Como é que chega a horas ao trabalho? Burrice a minha: trabalha nos computadores? Mas conhece Fortes, certo? Ah? Já viveu com estas pessoas para constatar a sua realidade? Não? Ups. Em modos do Alentejo: lança pescadas mas não percebe nada daquilo. Tem um cargo e é gente importante. Que se lixem os velhos (digo eu).
Laranjas podres

      Para chegar aí, à Inglaterra, e trabalhar nos computs teve que estudar muito, certo? Se lhe explicarem o senhor percebe as coisas, correto? Ok.  Descobri que não lhe contam tudo; o senhor não vai lá e eles, provavelmente, mentem-lhe. Reparou que quando a Jornalista reproduziu a sua mensagem em duas ocasiões (“a fábrica labora 4 a 5 meses por ano” e “o vento sopra naquela direção quatro a cinco vezes no ano”) se ouve imenso barulho de fundo. São os velhos, senhor. São os velhos a manifestar a sua dor. A fábrica labora o dobro do tempo e o vento não gosta deles, leva tudo para lá. Sopra de tal forma e tantas vezes que já aconteceu que o rapazito de doze anos que vive a 100 metros da fábrica, não pôde sair de casa nas férias escolares.E isso é o de somenos. Tem filhos, senhor? Os seus têm ar? E comida e água? Aposto que sim. Férias? Bahamas, Dubai ou outro sorridente E tem pais? São velhos ou idosos?


Horta seca devido à poluição
     Explico-lhe mais. Não se fie nas análises efetuadas e que garantem o quão bom é o vapor de água que sai das chaminés: há testemunhos que foram efetuadas no dia do ano em que estes habitantes podem lavar a roupa (num dia bom), a 1 quilómetro de distância e no lado contrário ao vento. Esta gente vive a 400 metros. Seria difícil aquilo dar alguma coisa. 
Roupa estendida em Fortes

     Se quer mesmo saber, senhor: deixe a Inglaterra; largue os computs e chegue de forma pontual, presencialmente, ao seu local de trabalho. Mude-se para uma daquelas casinhas, com ou sem teto, leve a família e viva com as mesmas economias que o velhos do local. E não leve só a famelga, leve os donos, os acionistas…. Troquem de lugar com o povo numa semanita mesmo que de vento de dia bom. 
Casa de telha


     Por fim, lamento a decisão da IAPMEI de não efetuar nova vistoria: as análises estavam boas e a empresa mandou fotos de um funcionamento com zelo. As que os velhos tiram devem ter ido parar ao lixo.  Discriminação? Não falamos de idosos; falamos de velhos. Irra que nunca mais morrem! 
     Ainda me estão a ler? Pensam que já terminei? Não. Há uma questão que me assola. Temos o maior lagar do mundo; o melhor azeite, premiado não sei onde. 
Pêssegos de Fortes

Horta de Fortes
     Falta a explicação dos “Azeites de Portugal” : as hortas morrem  e o que lá se produz é incomestível; o que fazem ao diabo das azeitonas que, produzidas mesmo ao lado, as dizem tão boas, tão boas? A couves vão para o lixo e as azeitonas reluzem saúde e bem estar? Será que é mesmo bom o azeite?


Serão só quarenta velhos condenados à morte ou serão os primeiros de nós?
Partilhar, este texto, significa fazer eco da sua e da nossa voz.
Sem sorrisos
Guida Brito