Um parafuso solto, qualquer que seja o seu tamanho, não constitui um problema grave; qualquer mulher sabe que uma lima de unhas, um garfo, uma colher, uma tampa de lata vazia ou o que se lhe assemelhe resolve o problema: olhamos o tamanho do dito e sabemos, de imediato, qual o objeto (que se situa nas imediações) que cabe na ranhura e o aperta até à exaustão. Verdade?
Em último caso: qualquer faquinha resolve os mais atrevidos que decidem avançar sem autorização; não cabem no buraco ou, simplesmente, decidem não funcionar.
Eles não; eles necessitam comprar um móvel, retiram os nossos vestidos dos armários e pensam em mudar de casa. Cheguei à simples conclusão que os homens são todos iguais (funcionam todos da mesma forma); basta-nos escolher o embrulho e tentar esquecer o interior repleto de nunca sabemos o quê.
Acho que tudo acontece ao fazerem 18 anos; nós somos
mulheres desde que nascemos: habituamo-nos a resolver com a prata da casa, a
orientar e a solucionar sem que, para o consumar, necessitemos de parar o mundo e
ver como está a lotação no planeta ao lado.
Nós resolvemos; eles gastam-nos o tempo e a nossa paciência se não aprendermos a sorrir cada vez que se solta um parafuso- seja ele fácil ou difícil de enfiar no buraco.
Nós resolvemos; eles gastam-nos o tempo e a nossa paciência se não aprendermos a sorrir cada vez que se solta um parafuso- seja ele fácil ou difícil de enfiar no buraco.
Soltou-se um parafuso cá em casa: eu vi mas o Carnaval…
decidi que sambar na avenida (mesmo que vestida de cogumelo) seria muito mais
sorridente do que pôr o atrevido no lugar, por meio de meia dúzia de torcedelas.
Esqueci-me que o homem da casa já fez 18 anos e, ultimamente, faz jus ao número que
ostenta com cara de gente feliz. Viu o parafusinho e pensou exatamente isso: sou o homem da
casa. Retirou o dito; retirou a bucha; retirou a calha; escangalhou a persiana
que deixou de funcionar e anda atrás de mim, há dias, para irmos comprar um
parafuso. Hoje, foi o dia.
Impensável ir a uma loja onde tudo é mais barato: “Mãe, não
são de qualidade”. Acedi; embora ciente que eu tinha apertado aquela
coisa e não comprava cousa nenhuma. Lá pediu o menino o que por acaso não
havia: só mais comprido. Pergunta-lhe o dono do botequim (homem - o embrulho é
que era diferente):
- Podes cortar; tens uma serra elétrica?
- Quanto custam?
Ai! Ai, ai, ai, ai! A porra do parafuso vai esgotar o saldo
do mês, dos meses seguintes e estragar-me as férias. Comecei a ver as Lofoten
lá muito longe mas jamais pensei que um
simples parafuso me obrigasse a comprar móveis e a mudar de casa. Recusei a compra da serra e sugeri que
experimentassem se o diabo do parafuso cabia no buraco da porca que parecia com
profundidade suficiente para o receber, mesmo que comprido. E cabia, servia na
perfeição. Não satisfeito, o homem da minha casa pediu uma bucha nova; betume
para tapar o buraco na parede que, entretanto, tinha alargado e arame para dar
uso a uma máquina de soldar que tinha acabado de comprar.
Não havia betume, o
senhor sugeriu prego liquido (as coisas que eu oiço por ter sambado na avenida).
O prego líquido era ótimo mas necessitava de comprar uma pistola para o poder
usar; era excelente ter um berbequim para esburacar depois de tapar. Não sei
como me contive para não gritar; apeteceu-me chorar os sorrisos que larguei
enquanto sambava longe do parafuso que podia ter torcido e não torci. Nem vos conto a parafernália de ferramentas e afins que me entrou pela casa adentro devido a uma
simples torcedela que eu devia ter dado e não dei. Satisfeito, o meu mais que
tudo cá da casa sugeriu:
- Mãe, preciso de um móvel para colocar as minhas
ferramentas. O melhor sítio para as colocar era no teu armário, retiras os teus
vestidos. O ideal seria trocar de casa: mais um quarto fazia-nos muita falta.
Não sabem vocês que começamos com uma simples chave de
fendas que por não caber em todos os parafusos foi substituída por um conjunto
delas; que, por sua vez, também foi substituído por um conjunto de qualidade.
Sendo tudo isto insuficiente para responder à necessidade de apertar um
parafuso, por ano, adquiriu algumas facas cheias de utensílios que poderá, um dia, necessitar: tudo isto acompanhado por uma caixa de ferramentas. Face à
necessidade de organização, a Caixinha já se torna insuficiente, requer a
mudança de casa.
Perguntam vocês: o parafuso está no lugar? Não, entretanto a fita partiu-se e é preciso comprar. Pensando bem acho que nem sequer quero o parafuso no lugar: se vou mudar de casa não preciso da persiana a funcionar.
Aposto que o tema do próximo Carnaval é “ Parafusos soltos e vestidos por arrumar” ou " Desenroscou-se um parafuso? Temos casas para alugar."
Sorrisos
Guida Brito
É o lobby do parafuso ahahahahah
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