Como sempre: as palavras do leitor estão a negro e as minhas a azul.
Sabe Sra. Guida Brito, dentro de tudo isso que
refere haverá situações que terão de ser resolvidas judicialmente, como em
qualquer outra actividade em que há abuso sobre a natureza, sobre as pessoas,
sobre o património arqueológico e cultural, caberá certamente às entidades
competentes resolver a situação, deverão resolver e responsabilizar
criminalmente quem anda fora da lei.
Nunca referi: que a responsabilização criminal
deveria ser exercita por outrem que não as entidades competentes. Claro que não
se quer a sua substituição. O que se pretende é que a lei seja aplicada com
justiça; em igualdade de direitos e deveres para com todos os cidadãos. Referi,
tão somente, que no país parecem existir duas leis: a constitucional (que se
aplica ao cidadão comum); e o seu contrário (que se aplica a grupos
económicos). O que quis referir é que se eu (Guida Brito) lavrar e plantar
olival (ou outro) em dezanove hectares repletos dos mais importantes, a nível mundial,
vestígios pré-históricos (e posso dar como exemplo centenas de crimes que
comprovadamente ocorreram) sou “morta” em praça pública por todos (antes mesmo
de ser julgada). Se for um grande grupo económico: não há caras, não sabemos
quem foi e justifica-se com “desenvolvimento”. Cada vez mais, as pessoas sentem
este “racismo”: sentem um país que difere no trato; consoante se trate de um
consórcio (grupo ou pessoas com um nível económico em muito superior), ou um
cidadão comum que trabalha de sol a sol.
A Sra. Guida refere alguns crimes aqui
produzidos como se fossem todos os agricultores e a agricultura ligada ao
Olival, como o uso abusivo de químicos, abate de árvores sem licença, alteração
do relevo da paisagem, desvio de ribeiras, morte da flora e fauna, exploração
humana…
Senhor, nunca falei em agricultores nem
agricultura- em minha opinião, ambos diferem do que ocorre, maioritariamente,
pelo Alentejo.
Quem está a explorar o Alentejo não são os
agricultores; são, como o senhor o diz, “1500 investidores que
estão instalados nas terras de Alqueva (em que cerca de 150 são estrangeiros de
18 nacionalidades diferentes, explorando perto de 23 mil hectares”.
… se tem provas só tem uma coisa a fazer em vez
de perder tempo a escrever barbaridades no seu Blog, reúna as provas e
participe às autoridades competentes.
Senhor, se fossem barbaridades o senhor não me teria enviado tantos comentários e tantos
escritos. Ter-me-ia ignorado e o mesmo teria feito a classe política. No meu
blogue, escrevo a minha opinião baseando-a em factos e na lei. Vivemos num país
democrático que me confere esse direito. As autoridades possuem centenas de queixas e
centenas de provas do que de facto ocorre; temos que aguardar as suas decisões.
Quero crer que se fará justiça e o justo não pagará pelo pecador. Infelizmente,
essas decisões serão muito tardias.
Serão
tardias para a destruição de um património que não se recupera (a nossa
história que a todos pertence).
Serão tardias para uma devastação que de facto
ocorreu. Repare: 23 mil hectares são 230 quilómetros quadrados; onde ocorreu,
quase em simultâneo, a remoção de toda a camada superficial dos solos. Não restou
caracol, lesma, lebre, planta, pedra, hipótese de lince… mesmo as explorações
com postura verde participaram neste desbaste. O nosso país devia ter
controlado e devia garantir o fim da sua continuidade. Antes da sua ocorrência, deveria
ter sido elaborado um estudo de impacte ambiental e a sua consequência na vida
das pessoas e na biodiversidade. Em Portugal: arderam 442 mil hectares e
decapou-se a camada superficial do solo em 23 000 hectares: 4650 quilómetros
quadrados. Nas zonas de incêndio, a Natureza vai recompor-se.
Serão muito tardias, infelizmente, para Fortes.
Serão muito tardias para uma das habitantes que há dias escreveu:
“É com enorme tristeza que faço este
comentário para mim acabaram se as palavras estou a viver o pior tormento que
nenhum ser humano nunca deveria sentir pois sou a primeira pessoa a descobrir
que tenho os meus pulmões entupidos em fumo e pó a descoberta é um sentimento
de revolta muito grande com tudo o que nos rodeia a todos os meus vizinhos que
se previnam porque a morte é lenta mas dolorosa”.
Estamos a falar da morte
de seres humanos. Que raio de país deixa que isto ocorra? Tenho a certeza que
nenhum dos investidores quer que o seu dinheiro mate a gente simples que ficou
no Alentejo. Tenho a certeza que ninguém quer este rótulo no azeite. Ninguém
quer a D. Rosalinda ou os outros habitantes, que ainda não sabem o que têm,
recordado no azeite da sua mesa. Já viu as imagens diárias daquele lugar? Dói,
dói muito. Não vi reações ao assunto; vi fugidas de responsabilidades por todos
os lados.
Não se devia parar e resolver no imediato?
Não se devia acabar com a
causa do fumos e poeiras que não deixam ver o outro lado da rua (nem respirar)?
Não se devia permitir que estas pessoas vivessem?
O primeiro investidor que se
levantar, em defesa destas pessoas, fará a diferença e fará acreditar que o
Alentejo, finalmente, caminha para o desenvolvimento de mãos dadas com a
sustentabilidade e o respeito.
Se quiser um dia sair do alcatrão e sujar os sapatinhos de pó ou lama haverá certamente na região quem lhe mostre o que aqui se vai fazendo bem feito, modernizando a agricultura e tornando-a competitiva, mas ao mesmo tempo salvaguardando oliveiras milenares, azinheiras que continuam a ser salvaguardadas desde o tempo da “outra senhora”, preservando a nossa cultura e a nossa história.
Até lá e uma vez que pouco tem contribuído para o desenvolvimento de interior e da região que a educou e viu nascer, nós os que por aqui ficámos a resistir, a trabalhar e lutar com todas as nossas forças …
…agradecemos-lhe muito mais que divulgue aquilo
que aqui se produz com qualidade, entre esses produtos está o azeite e a
azeitona de mesa.
A forma
como é feita a colheita, o seu transporte e a brevidade com que chega a
azeitona aos diferentes lagares da região leva a que haja uma melhor
transformação do produto acrescentando-lhe qualidade.
Os prémios ganhos, são a prova de que o
investimento e o esforço feito pelos mais de 1500 investidores que estão
instalados nas terras de Alqueva (em que cerca de 150 são estrangeiros de 18
nacionalidades diferentes, explorando perto de 23 mil hectares, o que
representa um forte contributo em termos de investimento estrangeiro na
região), tem sido digna e merecedora da confiança daqueles que decidiram um dia
construir Alqueva.
Se achar que é pouco, pode ainda lutar daí de
Sines, do LITORAL, e fazer força para que terminem aquela estrada a que chamou
cemitério, arranjem aquela por onde circulou mas que como vinha a olhar para o
lado nem deu pelos buracos, ponham os comboios a circular como no resto do
país, olhem para o nosso aeroporto, para o nosso hospital e sobretudo por
aqueles que aqui vivem, no INTERIOR, abandonados pelos que um dia decidiram partir,
deixando velhos, casas, montes e herdades onde se já tinha deixado de ver o
verde dos trigais, e tinha lugar o amarelo dos pimpilhos; o branco da magarça;
o roxo da sevagem; os cinzas que antecedem a chuva e o vermelho das
papoilas...
E, hoje, temos isto, por 230 Quilómetros quadrados:
Peço desculpa, consigo viver com buracos na
estrada. Não consigo é viver: se me sentar perante a morte de seres humanos (o que ocorre
em Fortes).
No fundo, temos opiniões quase idênticas. A
diferença é que o senhor decidiu atacar-me em vez de defender o Alentejo; em
vez de mostrar, por atos, "a minha exploração é verde" e "Eu não quero um Alentejo onde não se possa respirar e viver com qualidade de vida".
Releia, um dos escritos que me enviou:
Tal como a Guida
defendo a Biodiversidade, nem poderia ser de outra forma, o campo é o local
onde gosto mais de estar. Mais ainda a informo que sou a favor dos olivais
intensivos, mas são os superintensivos que estão na moda, por terem apenas como
maior vantagem a mecanização, vejamos que aturar pessoas nem sempre é fácil.
Também sou a favor que deveria haver espaços entre as plantações que
permitissem maior diversidade no entanto não tem sido essa a visão técnica.
Aliás pedem-nos muitos papéis mas o acompanhamento no terreno é quase nulo, o
que permite certos abusos por parte de quem está para abusar. vejamos por
exemplo, não se salvaguarda uma oliveira milenar, só é salvaguardada se a
pessoa dona do terreno tiver essa sensibilidade.
Não me parece que
esteja em lei o nº de oliveiras/ha, se é que se pode chamar oliveiras aquilo”
Agradeço a sua participação, referindo que os
meus sapatinhos terão todo o prazer em sair do alcatrão e sujar-se de pó; ou
seja, aceito o convite.
Estes comentários, estão relacionados com este texto:
Muito obrigada, Gota a Gota
Sorrisos
Guida Brito
Muito boa a resposta. Não desista nunca cara Guida! Quando tento defender o ambiente também sou apelidada de retrogada e contra o avanço e a riqueza e tal. No entanto, e mesmo sabendo que a frase já está batida: When the Last Tree Is Cut Down, the Last Fish Eaten, and the Last Stream Poisoned, You Will Realize That You Cannot Eat Money. Ou então: when we destroy something created by man, we call it vandalism. Yet when we destroy something created by nature, we call it progress.
ResponderEliminarInfelizmente é assim que anda o mundo.