Caro Gota a Gota, só tenho uma palavra: disse
que ia publicá-lo e fi-lo. No entanto, o senhor mandou-me toneladas de escrita
e quando autorizei a publicação dos comentários: todo o blogue bloqueou e é
impossível visualizá-los. Não querendo perdê-los, decidi dar lugar a uma
vontade de algum tempo e criar: Tem a Palavra o Leitor. Nesta etiqueta,
publicarei todos os escritos que me sejam enviados (magadinhas1@gmail.com), desde que as pessoas se identifiquem. Abro
uma exceção no seu caso. Hoje, publico a sua primeira mensagem. De forma a que
isto não se torne monótono para o leitor, intercalo a sua mensagem com
comentários meus. O senhor (deduzo que o seja- a escrita evidencia alguém do
sexo masculino) está a negro e os meus
comentários a azul. Agradeço-lhe todas as mensagens que me enviou.
“A reposta era para ser lá no outro mas
aproveitando este mais recente, aqui fica. Este novo Alentejo contínua a ter
tudo isto e mais o outro..."
"Cara Sra. Guida Brito, li com atenção os seu post acerca dos
olivais da região de Beja e é uma pena, porque embora aqui apresente algumas
situações preocupantes de abuso sobre o património arqueológico, florestal,
humano e natural, essa não é uma prática comum a todos os que aqui laboram.”
Fico feliz por o saber. Penso que
essas pessoas devem abrir as suas portas, com orgulho, e mostrar que é possível
manter e respeitar o Alentejo. Infelizmente, não são poucas as situações de
abuso: são muitas e muitas.
“Como tal generalizar por toda a
comunidade que se dedica à plantação, produção e transformação de um produto de
qualidade, inclusivamente “apelidando-o” de ruim qualidade não me parece
próprio de alguém que se apresenta como uma defensora do Alentejo, dos seus
produtos, da sua gastronomia e da sua cultura.”
1. Não generalizei; nunca disse que todos os que
se dedicam à plantação são responsáveis pela destruição que tem ocorrido.
2. Nunca disse que o azeite era ruim. O que referi é que o site
do Ministério da Agricultura veicula que:
“Para azeite devem ser plantadas entre 200 e 300
árvores/ha, devendo as linhas distarem 7 m entre si, para facilitar a colheita
mecânica.”
“Para conserva podemos plantar mais de 300 árvores/ha”.
É o próprio Ministério que diz que as 2000
árvores por hectare e plantadas com menos de metade dos 7m entre linhas não se
adequam ao azeite.
E depois pergunto.
Pergunto se as hortas morrem como pode o azeite ser bom? E perguntar devia ser
um hábito comum a todos os cidadãos. É o interesse, a preocupação e as perguntas
da população que moderam a atuação dos governos e demais entidades. Ajudam a
limitar os excessos. Vivemos, supostamente, num estado democrático, logo:
devemos usar o nosso direito de participar ativamente.
3. Nunca me apresentei como
defensora do Alentejo. Mas se deduz que o sou quando me lê: é uma honra. Muito
obrigada.
“Para início de conversa poderemos começar logo pela parte em que tal como muitos outros que não entenderam que deveriam insistir na terra que os viu nascer e educou, deveria sair daqui e decidiu fazer uma “imigração” do interior para o litoral.”
O senhor não sabe; não sabe nada de mim; não sabe se isso corresponde à
verdade. A única coisa que sabe é que há algum tempo que eu não ia a Beja. E se
só quem ficou pode opinar ou intervir, por que motivo há, na região, tantos
investimentos estrangeiros?
“E depois um dia quando se lembra resolve dar uma voltinha pela estrada
de alcatrão e “desancar” quem aqui ficou ou quem resolveu regressar ou que não
sendo daqui decidiu que seria aqui e investiu parte das suas economias, algumas
acumuladas de uma vida e que todos os dias se levanta para trabalhar, para
andar no campo faça sol ou faça chuva, com os pés no pó e na lama e não dentro
de um automóvel por uma estrada de alcatrão.”
Jamais seria capaz de desancar em alguém. Li muito, consultei leis, artigos… e dei a
minha modesta opinião. Nunca esperei que tivesse esta repercussão: milhares de
leitores, mensagens… Conheço, por experiência, a azáfama que refere. Sei o
quanto é duro e conheço, também, o que é mais duro que isso. No entanto, tenho
tanto respeito pelos que ficaram, como pelos que partiram e, sem viver a vidas,
choraram a saudade e os seus, de sol a sol. Por vezes, não há escolhas nem
caminhos. Nenhuma das situações diminui o carácter de uma pessoa:
engrandece-as.
“Aquilo que a senhora recorda como técnicas ancestrais e que nos acompanharam ao longo dos séculos, não tem mais de 80 ou 90 anos e começaram precisamente pelas mãos de um ditador, pois esta paisagem bucólica das planícies a perder de vista despidas de árvores foi a origem da campanha do cereal iniciada por Salazar que indiscriminadamente fez com que os Olivais e os Montados desta região fossem arrancados, um património perdido que nunca mais será recuperado.”
Não tenho informações sobre o assunto para me pronunciar. Se ocorreu
devíamos ter aprendido algo com a destruição.
“Incrível como alguém que apenas circulando de automóvel pela estrada (lembro-lhe que é o IP8, pior que muitas privadas que dão acesso a alguns lagares da região) consegue perceber a forma como foram preparados os terrenos, a sua orologia, a sua drenagem, a quantidade de químicos e os químicos utilizados e a ausência de espécies silvestres e da fauna.”
O senhor não sabe isso; não sabe se apenas passei. E garanto-lhe que
levei muitas noites a consultar leis, fotografias antigas e outros documentos.
“É realmente algo inimaginável ou
então terá ido ao Google Earth como fez com o Litoral Alentejano.”
Google Earth é um programa
de computador desenvolvido e distribuído pela empresa estadunidense do Google
cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre,
construído a partir de mosaico de imagens de satélite obtidas de fontes
diversas, imagens aéreas (fotografadas de aeronaves) e GIS 3D. Além de fidedigno é a Fonte mais
credível e real. No caso que refere, as fotografias
mostram a plena ocupação por estufas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano.
Relativamente a Beja, as mudanças a nível da paisagem foram demasiado rápidas e
o Google Earth ainda não atualizou essa zona.
“Seria até importante referir que a foto do cemitério de rochas que refere, não é um cemitério de rochas provenientes dos terrenos onde são visíveis os olivais, mas sim dessa tal estrada onde devia circular hoje, o celebre IP8 que foi suspenso e que ali está inacabado, tal e qual como no dia em que as máquinas dali saíram.”
Tem razão, a fotografia foi mal colocada. E as rochas amontoadas no lado
oposto?
“A orografia dos terrenos onde são instalados os olivais mantem-se e
grande parte das rochas de lá retiradas são usadas nas valas de drenagem, valas
essas que são feitas onde sempre foram, algumas reavivadas que pelo
assoreamento e o entulhamento de material (pasto, lenha e lixo proveniente da
casa de muitos), tinham deixado de correr no antigo leito.”
Senhor, se as rochas foram retiradas houve alteração da orologia. Eu não
sei a quem pertencem as terras que fotografei. E que com elas não se perceba:
aqui há criminoso. As fotografias, tiradas aleatoriamente, apenas demonstram
que aquele cenário se repete por milhares e milhares de hectares. Aliás, se
existisse apenas esta exploração ou explorações intervaladas, com respeito pelo
ambiente, pessoas e património, estávamos num cenário de desenvolvimento do
Alentejo. O seu conjunto é que retira, da terra e das nossas vidas, mais do que
podemos dar. E se não perguntarmos e não nos interessarmos: retira-nos tudo.
Nunca disse que a Vossa exploração cometeu crimes; disse que há muitos e graves
crimes no Alentejo. E há, na minha opinião. Opinei- direito em democracia. A
crer na sua explicação e em tudo o que me escreveu; a Vossa exploração tem uma
postura Verde. Deve mostrá-lo e distinguir-se dos demais. Quando olhamos, vemos
tudo revirado: não sabemos quem, como ou onde.
“Poderia ainda dizer que esses olivais mais recentes das fotos que
apresenta, estão hoje num terreno devidamente cuidado, que era mato e pedras,
pedras essas que alimentaram uma britadeira durante mais de 20 anos entretanto
desactivada a pouco mais de 1km do local.”
O que o senhor chama de mato e pedras, eu chamo Natureza. Mas quero
acreditar que a Vossa empresa possa ter beneficiado o local. As minhas fotos
não foram para vos atingir, particularizar ou menosprezar, eu não vos conheço e
não sei como funcionam. Sei que toda a paisagem está daquela forma e deixou no
rasto uma destruição irrecuperável. E continua. Os nossos governantes não
limitaram a ação humana e deviam tê-lo feito. Deviam garantir um
desenvolvimento sustentável que não está a ocorrer. Se quer a minha modesta
opinião: urgia que quem respeita o que é de todos, desse um passo à frente na
transparência. Se mostrasse com orgulho- sendo que “mostrar-se com orgulho” não
é, de todo, colocar palavras bonitas no site que as representa. Importa mostrar
atos e reflexos dos mesmos.
“Cara Guida Brito não pode valer tudo para se atingir o objectivo
pretendido, muito menos usar a mentira como forma de mudar opiniões e
sentimentos.”
Caro Gota a Gota, transparência não é denegrir a minha imagem. Um ataque,
a mim, em nada vos beneficiará (antes pelo contrário). Li tudo o que me enviou
e com muita atenção. Sei filtrar; há partes
que escreve que me fazem sentido. Mostra que se sente injustiçado e pensou-se
particularizado: não o foi. Relevo o que diz sobre mim, é fruto de estar
zangado. No entanto, seria muito importante abrir as portas, nomear-se e
mostrar que, pelo menos, pela Vossa exploração podemos estar descansados. Não
sou só eu que questiono: eu apenas escrevi uma preocupação generalizada.
Escrevi o que se Vê por toda a paisagem.
Leia o meu escrito que motivou esta mensagem: https://navegantes-de-ideias.blogspot.pt/2018/01/o-fim-da-planicie-e-morte-do-azeite-um.html?showComment=1521281959384
Sorrisos
Guida
Brito
Pois e todos se querem fazer de bons agricultores ou bons produtores entao pergunto eu onde esta o respeito pela natureza? Uma coisa e ter qualidade no que se produz outra e matar tudo a sua volta sem qualquer pingo de respeito que é o que se ve a fazer a cada dia que passa,falasse tanto do glifusato tantas preocupações e depois estes senhores aplicam glifusato +oxifluorfena no meu curso de olivicultura nao foi isto que ensinaram ,porque naquela altura ainda havia quem se preocupasse com a natureza,nao ha nem formigas nao há caça nao ha nada sera que estes senhores nao pensam que tem filhos e um dia terao netos, que mundo vao deixar para os que vêm? Nem agua nos poços ja temos capaz para beber e os ignorantes somos nos que se preocupamos em poder veber a vontade e respirar ar puro enquanto estes senhores so pendam nos euros que metem aos bolsos e que a grande naioria deles nem aqui no alentejo vive so investiu aqui pra deixar ca todo o lixo
ResponderEliminarDona Guida em primeiro lugar agradeço a publicação desta parte da minha contra argumentação em relação ao que tinha escrito em "O fim da Planície e a Morte do Azeite". No entanto entendo que deveria colocar o resto, pois a minha argumentação só completa fará sentido. Já lhe o disse que logo que estejam reunidas as condições será convidada a visitar aquele de que faço parte. Se o entender até poderá ficar algum tempo num dos vários observatórios da avifauna que que vamos instalar dentro do olival e terei todo o gosto de lhe explicar tudo o que lhe provocar alguma duvida.
ResponderEliminarNão tenho nada a ver com os olivais das fotos, nem tão pouco sei a quem pertencem. As criticas que fiz à forma da sua peça foi apenas em função do que conheço e do que a Guida escreveu.
Tal como a Guida sou também a favor de um Alentejo onde se possa respirar e viver com qualidade de vida.
Tal como a Guida defendo a Biodiversidade, nem poderia ser de outra forma, o campo é o local onde gosto mais de estar.
Felizmente como tem chovido não posso lá estar como pretendia e por isso lhe posso dedicar algum tempo a responder, isso não implica que o possa fazer daqui para a frente.
Em relação ao texto acima:
A Guida refere logo no titulo da sua peça "O fim da planície e a morte do azeite", ao anunciar a sua morte, é desprestigiar a sua qualidade, quando na realidade não é isso que está a acontecer, já o disse e reitora a evolução nas técnicas de recolha e transporte do fruto acrescenta-lhe qualidade.
O Google Earth por muito fidedigno que seja não nos dá determinada informação que por vezes se quer fazer crer, como a presença de químicos, as suas quantidades, a existência ou a perda de espécies da fauna e flora, etc.
As rochas foram retiradas durante mais de vinte anos e não foi por causa do olival, foi por uma britadeira que aí funcionou ao longo desse tempo. O amontoado de rochas no lado oposto ao do IP8 foram precisamente os restos deixados pelo fim da empresa de brita.
Mais ainda a informo que sou a favor dos olivais intensivos, mas são os superintensivos que estão na moda, por terem apenas como maior vantagem a mecanização, vejamos que aturar pessoas nem sempre é fácil. Também sou a favor que deveria haver espaços entre as plantações que permitissem maior diversidade no entanto não tem sido essa a visão técnica. Aliás pedem-nos muitos papéis mas o acompanhamento no terreno é quase nulo, o que permite certos abusos por parte de quem está para abusar. vejamos por exemplo, não se salvaguarda uma oliveira milenar, só é salvaguardada se a pessoa dona do terreno tiver essa sensibilidade.
Não me parece que esteja em lei o nº de oliveiras/ha, se é que se pode chamar oliveiras aquilo, parece-me que deverá ser mais um aconselhamento por parte do Ministério da Agricultura, as técnicas mudaram e até é capaz de haver alguma desatualização.
As hortas morreram mas não deve ter sido das oliveiras, eu tenho uma bem viva junto ao olival.
Nunca foi minha intenção ofender nem denegrir a Guida Brito, a minha reação foi exclusivamente a uma generalização feita com a qual não concordo por motivos óbvios e onde não me incluo.
Mais uma vez reitero que na devida altura será convidada a visitar a minha exploração agradecendo desde já a apresentação integral do que lhe enviei.
Pelo Alentejo, pela Biodiversidade e pelo Desenvolvimento, será este o nosso desafio no futuro, encontrar um equilíbrio e tenho a certeza, não será pelos olivais que irá começar alguma vez o desequilíbrio.
Obrigado
Caro Gota a Gota, os seus escritos são demasiado longos e não é fácil publicá-los: quando o tentei fazer bloquearam o acesso aos comentários. Vou publicar o restante; no entanto, este é um trabalho moroso. Agradeço, desde já, o convite que terei todo o prazer em aceitar.
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