Vale de Vargo, Serpa, 1940 - uma estória trágica
mas verídica.
Irei contar sem citar nomes, obviamente, embora quase todos os intervenientes já tenham falecido.
Dois residentes e naturais da Aldeia, também
cunhados, andavam sempre discutindo, uma guerreia pegada. Naquela tarde de
domingo, na taberna frente à Igreja a discussão azedou e até meteu empurrões e
insultos.
Um deles, mais nervoso, decidiu acabar com aquela
moenga, já chegava de irritações, estava farto e cansado.
Então, falou com uma outra pessoa da Aldeia que
sabia ter falta de dinheiro e ofereceu-lhe 20 contos para dar um tiro com a sua
caçadeira no cunhado. E disse-lhe: "o meu cunhado costuma vir no comboio até
Pias e vem a pé para Vale de Vargo, "esperazo" ali à entrada e
rebentas com ele. Faz isso e ganhas os 20 contos".
Uma fortuna naqueles tempos!
Assim aconteceu, exactamente. O homem foi morto, o
assassino recebeu o dinheiro e com ele comprou umas casas e uns terrenos na
Aldeia, as pessoas de lá até estranharam.
Veio a GNR e prendeu uma outra pessoa que se sabia
também ter conflitos com o morto. O cunhado não era suspeito, então, era
família, não podia ser ele!
No dia do julgamento em Serpa o Juiz pergunta ao
réu:
- Então foi o senhor que o matou?
- Não fui, mas tenho pena não ter sido eu.
O Juiz condenou-o à prisão, mas ao fim de uns meses
foi solto por falta de provas.
Era, portanto, um crime sem castigo.
Passaram-se anos e a estória do crime parecia estar
esquecida.
Contudo em 1999, quase 60 anos depois da tragédia,
num Lar de Serpa houve uma discussão entre 2 idosos internados que eram de Vale
de Vargo.
No meio de um grande alarido, entre os dois, um diz ao outro:
- Ou te calas ou ainda te dou um tiro nos cornos
como dei há uns anos ao...!
O outro ouviu e contou aos familiares de Vale de Vargo. Quando o vieram visitar, veio a GNR mas nada puderam fazer, o crime tinha sido cometido havia já muitos anos e, além disso, o idoso e criminoso faleceu passados uns meses de doença.
Recolhida na Aldeia por
José Jorge Cameira
2018