- De que morreu?
- Da doença da moda.
Não foram
necessárias mais palavras para perceber que o cancro, de forma aniquiladora e
sem réstia de tempo, fez mais uma vítima. E, um a um, na solidão do ser vítima de
um todo tão grande vamos perecendo, incapazes de nos unirmos no Basta. Em sua
defesa, limitamo-nos a partilhar meia dúzias de laços pelo Facebook e afins,
rezando (sabe-se lá a quem) pela recuperação dos que já perderam a luta.
É
sempre na casa do vizinho que a dita começa; e, isso remete-nos para o egoísmo
do temos que aproveitar os momentos antes que o tarde seja presente. Quando
chega ao nosso lar, os outros fazem o mesmo: partilham meia dúzia de laços e
correntes duvidosas e, durante uns dias, o negro invade os murais, contrastando
com o azul que de profundo pouco tem. Um a um, vamos sucumbindo incapazes de
adotar ações válidas que inibam o que o causa.
Posso falar do
Alentejo (é a zona que conheço) mas sei que a situação se estende a todo o
país: a morte da mãe Natureza.
Por aqui, deu-se descrédito à razia dos campos; à
poluição dos aquíferos, à contaminação dos solos, à contaminação do ar, ao
desaparecimento da fauna e da flora… Não temos rios saudáveis, não temos água, as
florestas estão a ser dizimadas, as abelhas diminuem drasticamente… aos poucos,
temos perdido o que é essencial à sobrevivência.
Dizem eles (os que lucram em
demasia com o defunto) “o desenvolvimento é crucial, as consequências são
inevitáveis e há que fazer face à necessidade de resposta alimentar da
população mundial”. Como se o que produzimos com a carrada de químicos
proibidos e em quantidades superiores ao suportável, fosse parar à Etiópia ou a
um país de pobreza extrema.
Não vai, não! É vendido a países chamados
desenvolvidos, a preços do despejam-nos os bolsos, numa guerra do parece que é
barato e o excedente vai parar ao lixo. Ao lixo!
Deixamo-nos enganar porque os
umbigos cresceram em demasia e a inveja, a superioridade, a chefia, o carro de
amostra e a roupa do aparente dominam, num consumismo desenfreado, a sociedade
portuguesa.
Adoro “o
desenvolvimento é crucial”: quem quer este tipo de desenvolvimento que arrasa
com as condições essenciais à vida?
E, depois,
acrescentam a modos de inocência “a economia, a economia, a economia, o défice,
o défice….”. Desculpem? Será a economia mais importante que a vida na Terra?
Será o dinheiro mais importante do que a vida dos nossos filhos?
Será o
dinheiro transformável em ar, em peixe ou em água?
Numa região, onde do
cancro nem se ouvia falar: hoje, parte um; amanhã, parte outro; são tantas as
famílias que aderiram à doença da moda que já nos devia ter feito pensar e já
nos devia ter tirado o rabo do lugar, para tentarmos mudar o rumo do fim que se
adivinha.
Na nossa pequenez,
permitimos a dor na vida do outro, esquecendo que a solidão nos consumirá
amanhã.
Lembram-se de Fortes
Novas? Continua oculta debaixo da fumaça que observa na imagem.
Um povo que o
permite é um povo morto.
Assim, somos nós.
Sem sorrisos
Guida Brito