Ninguém imaginaria que a promessa
de água do grande lago Alqueva, à planície seca e árida, fosse o início do fim.
Há cerca de 10 anos, no interior, surgiram as primeiras culturas intensivas de olival (400 árvores por hectare); no litoral, aproveitou-se as águas do Mira, apareceram as estufas e as monoculturas, iniciou-se a decapagem dos terrenos do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Aqui e ali, a vinha, as nogueiras, as amendoeiras, o olival, os brócolos, a salsa (vendida entre 50 a 125 euros/kg)… ficando, sempre, para depois, a chegada da água às torneiras das casas. Hoje, ainda, é água de cor negra e imprópria para uso humano ou animal que corre nas casas do Alandroal.
De forma subtil, foram
desaparecendo sobreiros, azinheiras (árvores protegidas por lei), surgiram
graves alterações a nível da orologia, foi destruído todo o património
ambiental e histórico (arrasadas Villas Romanas e Celtas, importantes vestígios
pré-históricos….)… Antas, únicas, aparecem desmembradas na periferia dos
terrenos da planície.
Na sede do quero mais e quero
para mim o que é de todos, deu-se continuidade a um arraso sem planeamento, sem
bom senso, sem vigilância, sem respeito pelos bens comuns e pelos outros seres
humanos, sem arrependimentos por parte dos prevaricadores.
O Olival intensivo que exigia
muito mais do que o Alentejo lhe podia dar, deu lugar ao superintensivo ( 2000
pseudoárvores) que aspira, no seu caminho, lágrimas de sangue e vidas humanas.
Seguiu-se o olival híperintensivo, sem cabimento nem perceção.
Solos mortos
Todos os solos do Alentejo, estão
a ser decapados, todas as árvores arrancadas, toda a vegetação desaparece e, no
chão daquilo a que chamam oliveiras ou desenvolvimento económico, a terra nua
ganha terreno em milhares de quilómetros. Muitos terrenos foram decapados 3
vezes: iniciaram com vinhas, foram arrancadas para dar lugar ao olival
intensivo; por sua vez arrancado para dar lugar ao superintensivo (sempre
subsidiadas pelo estado e antes que o lucro financeiro fosse uma realidade).
Estão aprovados mais 70 000
hectares (700 quilómetros quadrados) e a triplicação das, incontáveis, centenas
de quilómetros quadrados no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina, para culturas hiperintensivas, numa região em que a água é
insuficiente para o consumo humano e se encontra contaminada com substâncias
cancerígenas.
Sem sorrisos
Guida Brito