sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Alentejo: o começo do fim



Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias


Ninguém imaginaria que a promessa de água do grande lago Alqueva, à planície seca e árida, fosse o início do fim.






Há cerca de 10 anos, no interior, surgiram as primeiras culturas intensivas de olival (400 árvores por hectare); no litoral, aproveitou-se as águas do Mira, apareceram as estufas e as monoculturas, iniciou-se a decapagem dos terrenos do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. 



Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias






Aqui e ali, a vinha, as nogueiras, as amendoeiras, o olival, os brócolos, a salsa (vendida entre 50 a 125 euros/kg)… ficando, sempre, para depois, a chegada da água às torneiras das casas. Hoje, ainda, é água de cor negra e imprópria para uso humano ou animal que corre nas casas do Alandroal.

De forma subtil, foram desaparecendo sobreiros, azinheiras (árvores protegidas por lei), surgiram graves alterações a nível da orologia, foi destruído todo o património ambiental e histórico (arrasadas Villas Romanas e Celtas, importantes vestígios pré-históricos….)… Antas, únicas, aparecem desmembradas na periferia dos terrenos da planície.

Na sede do quero mais e quero para mim o que é de todos, deu-se continuidade a um arraso sem planeamento, sem bom senso, sem vigilância, sem respeito pelos bens comuns e pelos outros seres humanos, sem arrependimentos por parte dos prevaricadores.


O Olival intensivo que exigia muito mais do que o Alentejo lhe podia dar, deu lugar ao superintensivo ( 2000 pseudoárvores) que aspira, no seu caminho, lágrimas de sangue e vidas humanas. Seguiu-se o olival híperintensivo, sem cabimento nem perceção.

Solos mortos

Todos os solos do Alentejo, estão a ser decapados, todas as árvores arrancadas, toda a vegetação desaparece e, no chão daquilo a que chamam oliveiras ou desenvolvimento económico, a terra nua ganha terreno em milhares de quilómetros. Muitos terrenos foram decapados 3 vezes: iniciaram com vinhas, foram arrancadas para dar lugar ao olival intensivo; por sua vez arrancado para dar lugar ao superintensivo (sempre subsidiadas pelo estado e antes que o lucro financeiro fosse uma realidade).

Estão aprovados mais 70 000 hectares (700 quilómetros quadrados) e a triplicação das, incontáveis, centenas de quilómetros quadrados no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para culturas hiperintensivas, numa região em que a água é insuficiente para o consumo humano e se encontra contaminada com substâncias cancerígenas.

Sem sorrisos
Guida Brito


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Os animais de estimação



Não dou conta dos caracóis; Guida Brito; Navegantes de Ideias
Estou certa que a grande maioria das pessoas que possuí animais de estimação, os mima, os abraça, os beija, os estrafega…




Estou certa que os perdoam pelo sapato ruído, pela camisa rasgada e até pela mijinha fora do local desejável. 

Estou certa de um amor puro que não olha a horas para a passeata da manhã. 

Estou certa que sem tempo há tempo para um sentar esquecido e um colo de afagos. 

Estou certa de tanto. Estou certa de um amor maior.

Não dou conta dos caracóis; Guida Brito; Navegantes de Ideias


O que não estou certa é se existe algum ser humano a quem atribuem o mesmo número de afagos, de beijos e de estrafegos; o que não estou certa é se existe algum ser humano que beneficie do vosso tempo descansado…  que perdoem da mesma forma… que beneficie de um sentar esquecido e um colo de afagos.



Teremos perdido a capacidade de amar o próximo? Teremos perdido a capacidade de acreditar e querer?

Não dou conta dos caracóis.
Sorrisos;
Guida Brito


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Dinheiro de gente pobre: não é aceite (Oh! Minha Santa Barbatana!)

Oh! Minha Santa Barbatana! - Guida Brito - Navegantes de Ideias


Muito embora o vento gélido me enrugasse a pele, a ausência de chuva levou-me a transpor o pial da porta. 






Caminhei um pouco e, após contar os cêntimos, decidi colmatar a falta de muitos dias: um café.

Decidida e sorridente (sobejavam dois cêntimos), entrei na tasca mais próxima e, de forma quase cantada, pedi um cafeziiiiiiinhooooo.
Retirei as quase quarenta moedas e coloquei-as no balcão.

Ao entregar-me o café, a senhora, esbaforida, comentou:
- Não vai entregar-me isso.



Confesso que não percebi; meio estupefacta, balbuciei:
- Isto é… dinheiro…
- Não me diga que me vai entregar essa porcaria?

Respirei fundo e pedi paz, calma, luz e bom senso à Minha Santa Barbatana. 

Ela devia estar no dia certo: mesmo sem os habituais andar de joelhinhos, velinhas ou afins concedeu-me cinco minutos de não levantes os caracóis. Sorri e, educadamente, na paz da Santa, respondi:
- Minha senhora, pelo amor da Santa, não quero que aceite esta …#”%6##. Tome lá o seu cafezinho que eu fico com o dinheirinho. E truca: saí, aos saltitos, sorridente como entrei.




Mealheiro: foi o seu destino. É por isso que viajo: gasto noutro país o que aqui não é aceite.

Curiosa, consultei a lei. Segundo o Banco de Portugal:

“o aceitante só está obrigado a receber, num único pagamento, 50 moedas (com exceção do Estado, das instituições de crédito e do Banco de Portugal”

Eu tinha razão; mas quem quer obrigar alguém a aceitar o nosso dinheiro?
Cafés há muitos, sua palerma!

Oh! Minha Santa Barbatana!
Sorrisos;
Guida Brito
(Santa Barbatana é a Santa que me controla e me impede de levantar os caracóis. A minha Santa brincalhona. O seu uso, nos meus textos, tem, unicamente e exclusivamente, essa função. Não pretende diminuir, menosprezar, denegrir outros seres humanos nas suas crenças ou convicções - por todos tenho o maior respeito: crente que na diversidade nos completamos.)



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Portugal assume que perdeu a independência ou que é a República das Bananas?

Guida Brito; Não dou conta dos caracóis; Navegantes de Ideias


A crer num meio de comunicação televisivo: a 1 de Dezembro comemora-se a Implantação da República. 



Parece que há por ali familiares governativos: sim, daqueles que não pagam deslocações aos funcionários, mas recebem-nos por viverem onde não vivem e por irem onde não vão; no assinar é que está o ganho. Provavelmente, a famosa televisão soube por portas e travessas e deu a notícia em primeira mão.

A falta de referência à Independência e quando se comemora, levou-me a pensar o que há muito temia.

Numa primeira abordagem,  conjugando a ocorrência com  o facto de uma Área de Serviço de Espanha apresentar, num mapa, Portugal como sendo uma província espanhola; com o facto de nos roubarem a água (vedando a sua passagem), com o facto de lhes pagarmos para usarem, no Alentejo, a água do Alqueva;  com o facto de, supostamente, terem invadido o Alentejo, arrancado as nossas árvores e destruído o nosso património histórico e ambiental; e, com o facto de  terem, supostamente, contaminado esta “reticência ponto e vírgula” toda… pensei: somos espanhóis.

Sorri: finalmente, sabia a minha nacionalidade. Pertenço a um país que prometeu dar-nos água lá prós tempos do Natal.

Sorriso que durou pouco tempo, lembrei-me que os Americanos compraram o resto do Alentejo e esgotam o que já não temos com o amendoal. Terão os espanhóis vendido Portugal? A Black Friday e o Dia das Bruxas confirmam.




Os meus caracóis, em estado de sítio, avisaram-me dos abacates, das uvas, das mangas, das alfaces, dos “béries”, da haxixe e do ópio lá prós lados de Messejana… cada qual pertencente a um país diferente. E veio a América, e veio o Japão, e veio a China, e veio a Holanda… não, não; a França… Ai! Minha Santa Barbatana! D. Henrique era um cavaleiro francês… se se lembram disso entram em guerra com Espanha.

Fica a dúvida: os espanhóis ocuparam-nos e venderam-nos aos bocadinhos  ou somos a República das bananas?

Uma coisa é certa: não sabemos quem somos nem quem impera por aqui. Cada um que vem faz o que lhe apetece.

Não dou conta dos caracóis
Sorrisos
Guida Brito


sábado, 23 de novembro de 2019

Alentejo - Crime sem castigo

Coisas da nossa história; José Jorge Cameira; Navegantes de Ideias



Vale de Vargo, Serpa, 1940 - uma estória trágica mas verídica.





Irei contar sem citar nomes, obviamente, embora quase todos os intervenientes já tenham falecido.

Dois residentes e naturais da Aldeia, também cunhados, andavam sempre discutindo, uma guerreia pegada. Naquela tarde de domingo, na taberna frente à Igreja a discussão azedou e até meteu empurrões e insultos.

Um deles, mais nervoso, decidiu acabar com aquela moenga, já chegava de irritações, estava farto e cansado.

Então, falou com uma outra pessoa da Aldeia que sabia ter falta de dinheiro e ofereceu-lhe 20 contos para dar um tiro com a sua caçadeira no cunhado. E disse-lhe: "o meu cunhado costuma vir no comboio até Pias e vem a pé para Vale de Vargo, "esperazo" ali à entrada e rebentas com ele. Faz isso e ganhas os 20 contos".
Uma fortuna naqueles tempos!

Assim aconteceu, exactamente. O homem foi morto, o assassino recebeu o dinheiro e com ele comprou umas casas e uns terrenos na Aldeia, as pessoas de lá até estranharam.



Veio a GNR e prendeu uma outra pessoa que se sabia também ter conflitos com o morto. O cunhado não era suspeito, então, era família, não podia ser ele!
No dia do julgamento em Serpa o Juiz pergunta ao réu:

- Então foi o senhor que o matou?
- Não fui, mas tenho pena não ter sido eu.

O Juiz condenou-o à prisão, mas ao fim de uns meses foi solto por falta de provas.
Era, portanto, um crime sem castigo.

Passaram-se anos e a estória do crime parecia estar esquecida.
Contudo em 1999, quase 60 anos depois da tragédia, num Lar de Serpa houve uma discussão entre 2 idosos internados que eram de Vale de Vargo. 

No meio de um grande alarido, entre os dois, um diz ao outro:
- Ou te calas ou ainda te dou um tiro nos cornos como dei há uns anos ao...!



O outro ouviu e contou aos familiares de Vale de Vargo. Quando o vieram visitar, veio a GNR mas nada puderam fazer, o crime tinha sido cometido havia já muitos anos e, além disso, o idoso e criminoso faleceu passados uns meses de doença.

Recolhida na Aldeia por
José Jorge Cameira
2018


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Na Argentina, oito em cada 10 crianças apresentam danos genéticos. Será este o futuro do Alentejo?



Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias





Não tenham dúvidas: ocorrerá.

Na Argentina, nas zonas de agricultura superintensiva, oito em cada 10 crianças apresentam danos genéticos. É muito precoce esta triste realidade uma vez que, geralmente, esta ocorrência verifica-se na quarta geração. A agricultura industrial, na Argentina, não tem esse tempo.



Tal como no Alentejo, apesar da existência de Decretos lei que o contrariam, o Governo argentino permitiu a plantação em Parques Naturais (os melhores solos) e o uso excessivo de agroquímicos e pesticidas. 

Sem sorrisos; Guida Brito; Navegantes de Ideias



As multinacionais são mais poderosas que os países; e, um Governo que não legisla em função do bem estar e da saúde dos seus cidadãos: só pode ser um Governo corrupto ou um Governo com medo (em minha opinião). Diria, se não fosse bem educada: meia dúzia de bananas gananciosos estragam a vida de milhões.

Se já temos um aumento exponencial de cancros (não admitidos pelo governo), em breve, tal como na Argentina, esta ocorrência não demorará a atingir os nossos bebés. Choraremos o que não fizemos hoje.



Uma realidade que nos espera se continuarmos a consumir os produtos dali provenientes e não reclamarmos o fim deste tipo de agricultura, defendido pelos que lucram (e muito) com o  nosso mal-estar e a degradação da saúde. 

Para que queremos uma economia saudável se for à custa das nossas vidas?

Nos solos do Alentejo, nascem, naturalmente e em grande quantidade, milhares de ervas selvagens comestíveis. 



Será que a economia não melhorava com este recurso natural e saudável? Será que apostando no regresso às terras, das famílias, a sua economia não melhorava? Claro que sim. Não interessa: as multinacionais querem mais e mais e os Governos cedem à corrupção e às mais valias ilícitas (digo eu).

Temos um país de mar, de sol, de recursos renováveis, de alimentos selvagens… teimamos em destruí-lo e em contaminá-lo, gerando a doença e a morte.

Os ordenados são congelados e a exploração do trabalhador é, hoje, a mais grave da nossa história. Todas as classes se queixam e o governo nem os houve; nem lhes dá razão.

Vamos deixar que continue? Não sei se sabem mas este tipo de agricultura, no Alentejo, vai triplicar.

Sem sorrisos
Guida Brito
Para ler outros artigos sobre o tema, consulte a etiqueta: Sem sorrisos


Professores comemoram o dia Mundial dos Sorrisos Com Motivo


Frase do dia; Guida Brito; Navegantes de Ideias

Se sexta feira é o dia da Felicidade Mundial Sem Motivo, sexta-feira 22 de Dezembro, para os professores, é o dia Mundial dos Sorrisos Com Motivo.





A todos uma boa Sexta(bis)

Que seja uma boa sexta
Para todos nós.

Nesta sexta pela manhã
Ouvem-se os sorrisos falar
Há uma grande alegria
No ar


Nesta manhã de sexta
Há por todo o país
Muitos milhões de professores
A ser feliz

Refrão

Vão aos saltos pela rua
Procurar o multibanco
Pagam até a lua
Fica zero no banco


Com Sorrisos

Guida Brito


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

HISTÓRIA - A Deusa Inanna-Ishtar


José Jorge Cameira; Coisas da nossa história; Navegantes de Ideias


Hoje vou escrever sobre uma Deusa Suméria.
Por volta dos anos 2300 antes de Cristo nascer (AC), portanto há cerca de 4500 anos de hoje, aqui em Portugal era o Neolítico, houve um Povo, os Sumérios que habitaram na região fértil entre os Rios Tigre e Eufrates, hoje Iraque, Bagdade.





Sempre em paz, sem fomes nem guerras, graças à Deusa Inanna-Ishtar, a população crescia e viviam felizes.

Inanna-Ishtar era a Deusa do Amor, do Sexo, da Prostituição, da Fertilidade. Tal e qual. Corporizava no corpo de uma mulher do povo, para a veneração ser física e receber oferendas.

A sua influência na região foi enorme. Os Reis declaravam-se "Obedientes a Inanna", tal era a sua força espiritual. Por ser uma deusa feminina, portanto ligada à Criação,  também tornava as colheitas sempre abundantes, obviamente fácil pois na região havia (e há!) calor e muita água.

Por vezes os Reis queriam conquistar mais territórios e para isso era preciso derrotar as tropas respectivas. Um reparo: nesse tempo não havia metais nem armas de fogo - eram arcos e flechas, paus aguçados, pedras. No momento da batalha os combatentes Sumérios gritavam por Inanna pedindo o seu auxílio e proteção na batalha. Que não acontecia porque as outras tropas assim que ouviam o coro da gritaria por Inanna fugiam espavoridos e cheios de medo.





No Fim do Ano aconteciam grandes festividades em honra de Inanna-Ishtar.

Todo o Festival era dedicado à actividade sexual, pois o prazer (orgasmo) era uma forma de aproximação ao Sagrado e ao Divino. Portanto eram dias de orgias sexuais permanentes e a Deusa Inanna, corporizada, dava o exemplo aceitando todas as cópulas. Havia uma condição - não podia haver imposição ou violência sexual. Quem assim procedesse tinha uma grande punição.

Esta informação provém de exaustiva investigação arqueológica e deixada por aquele povo em pequenas tábuas, algumas delas ainda não decifradas. Eis a foto de uma delas de onde foram extraídas estas informações. Clicar sobre:


José Jorge Cameira
Beja, 20 Novembro 2019


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Petição Pública pela Eletrificação e Modernização da Linha do Alentejo, como uma prioridade de interesse nacional

Jose Jorge Cameira; Defendamos a nossa terra!; Navegantes de Ideias

Por considerar importante, partilho a petição. Eu já assinei.



"Reafirmando a validade da “Estratégia de Acessibilidade Sustentável do Alentejo nas ligações Nacional e Internacional”, avançada pela Plataforma Alentejo, a Comissão Dinamizadora de AMAlentejo apresenta e apela às subscrição da presente Petição Pública, a qual sublinha, como prioridade, em termos de investimento de interesse para todo o Alentejo e para o País, a urgente eletrificação e modernização da Linha do Alentejo, para permitir velocidades elevadas de 250 Km/hora, possíveis com o recurso aos comboios Alfa Pendular.

Os trabalhos do Professor e Investigador da Universidade do Algarve, Manuel Tão, que o Estudo Técnico da REFER, de Maio de 2015, comprova plenamente, (disponíveis em www.amalentejo.pt Estudos) demonstram a importância estratégica da Linha Ferroviária do Alentejo para o País e para todo o Alentejo, pelo que consideramos tratar-se de um investimento a que se impõe dar início imediato, devendo as candidaturas aos fundos de coesão ser apresentadas ainda no quadro do PT2020.

O Alentejo corre o risco de deixar de ser território de objetivo 1, e Portugal não pode perder a oportunidade, única, de fazer estes investimentos com comparticipações de 85% a fundo perdido, garantidos pelos fundos de coesão europeus."

Para ler mais e assinar a petição, clique: AQUI



José Jorge Cameira


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

O bebé do contentor do lixo: Natal em 2019


Guida Brito - Navegantes de Ideias

Em meados de outubro, mais cedo do que nunca, ofuscaram por entre as prateleiras dos supermercados, as luzes de que todos se queixam mas que interiorizam como o verdadeiro espírito natalício. 





A  consoada que ditará os excessos na mesa (mais do que se consegue consumir), os objetos que um dia serão lixo, os plásticos que serão oceano, o brilho dos gastos energéticos e os afins, que são tão pouco, atraem-nos o olhar e impedem a visão de realizar a sua função: ver; ver o outro, ver o essencial.

Entre os desabafos do “Que horror! É tão cedo!” sonhamos o consumismo desenfreado e caminhamos de forma robótica entre as queixas do excesso de tudo e a falta do preciso de mais. Não nos definimos enquanto seres humanos.





Há dois mil e dezanove anos, Maria engravidou. Todos a viram e, mesmo sendo o bebé filho do Espírito Santo, José assumiu a paternidade. Maria pariu num estábulo e o bebé foi colocado na manjedoura. O bafo dos animais aqueceram-no e a Luz avisou o Mundo. 

Chegaram as gentes, chegaram os pastores, chegou a aldeia, chegaram os Reis… e, segundo reza a história, a entre-ajuda, sem juízos de valor, permitiu a vida de um bebé condenado a um fim demasiado precoce.

Hoje, Sara engravidou. Durante nove meses, grávida, dormiu na rua e pariu na LUX (local afamado  e local de passagem de muitos e muitos).

 Não havia manjedoura, colocou o bebé no contentor do lixo (o local mais quente da zona). 

Sara não teve a sorte de Maria: ninguém provou que acredita no Espirito Santo; ninguém assumiu a paternidade; ninguém a viu grávida dormindo no meio da rua; a LUX (lugar de culto de milhares de adeptos), apesar do brilho, desviou o olhar do milagre da vida que ali acontecia. Não houve Reis, não houve Presidentes, não houve Ministros, mas houve milhares de animais que a ignoraram – bufando, provavelmente, de costas para o milagre de uma vida que cresceu, durante nove meses, no chão das ruas de Lisboa.

Maria é Santa; Sara é Put#.

Sem sorrisos
Guida Brito