sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Imperfeição perfeita

    O que nasce tordo: tarde ou nunca se endireita- diz o povo. E ainda bem- digo eu. O diálogo nasce da discórdia e das diferenças. Que graça teria o mundo se fossemos chapa 4 de um molde que mesmo velho e ferrugento não deformasse ? Igualdades só nos direitos e adaptados à diferença.
   Para os mais cépticos: coloco o  horizonte onde eu quiser. 
   Oh! Santa Barbatana!
Sorrisos
Guida Brito

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Um mundo só meu

                                                                         in Amesterdão
     Um mundo de paz, calma e nuvens. Adoro esta foto pela tranquilidade que a envolve. Era de madrugada e apenas os pedais se faziam ouvir: uma manhã com sentido. Viajar é isto: beber as horas impróprias dos locais desgastados pela azáfama do excesso de gentes e sons.
     Quero perder-me no silêncio dos locais incomuns.
Sorrisos
Guida Brito

O pequeno almoço



     Adoro viajar; principalmente para sítios onde os sons audíveis não se simplificam e não se traduzem no interior da minha caixa craniana. Um misto de gestos, francês, inglês, alentejano e o talvez exista são suficientes para obter o que não quero. Distar da normalidade de procedimentos ainda é o melhor anti-stress que conheço. Antes do café da manhã, não se faz o que quer que seja- uma aprendizagem que embora consolidada decidi contrariar. Pois...


     Atraída pelo pão de sementes da mesa ao lado, lá estiquei o dedinho- indicando a igualdade de quereres ao dos ocupantes da mesa vizinha. Fotografo a beleza do pedido enlevada pelas cores e  ocupação do espaço. Estranhei a chegada, imediata, dos pombos mas nada me fazia prever o que se seguia à primeira dentada (a falta que um café faz).

     Bebo o primeiro gole do néctar matinal, o olhar sorri e, de forma voraz, arrisco a primeira trincadela. Ai! Minha Santa Barbatana. O visualizado não teve tempo de ser interpretado por um cérebro adaptado ao não os percebo. Aquele sabor a palha indicou que tinha feito mer... ao pedir o não sei. Nem mais, soltaram-se as gargalhadas: larvas, melgas e mosquitos; bichos e bicharoco (esquecendo o grande e gordo gafanhoto): faziam parte do petisco.


     Não adianta reclamar: comê-los é moda e todos pedem aquela mistela em forma do é melhor não comer.


     Meus amigos, quando a fome aperta tudo nos sabe bem. A pior porcaria parece sempre uma ótima iguaria.
      São servidos?


Sorrisos
Guida Brito

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

In Amesterdão

      
     Recantos de uma cidade que não dorme e madruga adormecida. Um reflexo abaixo do nível do mar. Cidade de gentes que pedalam no infinito de um horizonte esquecido. 
Sorrisos
Guida Brito

terça-feira, 3 de outubro de 2017

É hoje: estou na Rádio Renascença

Eu sei que a hora é muito tardia; os pirralhitos estão na cama mas os progenitores podem ouvir: hoje, entre a meia noite e a uma da manhã, na Rádio Renascença.
Recebi um convite para falar sobre autoestima. À primeira vista, como quem diz, ao ouvi-lo pela primeira vez, parece um enorme palavrão. E talvez seja: é uma palavra tão grande; parece que o mundo cabe lá dentro. Como é que eu vos explico isto? Ai, ai! Estou meio atrapalhada (vocês já me conhecem). Vamos lá! Eu vou fazer uma tentativa.
Falar sobre a Vossa autoestima é falar sobre o dia em que conseguiram utilizar os dons que têm escondidos dentro de vós. É aceitar que todos erramos até encontrarmos o saber. É acreditar; é gostar de quem somos. É não desistir: é saber que dentro de nós existe tudo o que precisamos para conseguirmos o que nos faz sorrir. É imaginar sabendo que um dia o sonho é a realidade do nosso caminho. 
Também é desvalorizar o que não nos pertence; despir o que não é nosso; separar o lixo  do luxo: é atitude.
Autoestima é o vosso sorriso feliz quando a minha cara sorridente, em tom de brincadeira, diz: "Shiiii! Que coisinha horrível!"  Vocês pulam de contentes e sabem que chegaram lá: ao momento em que retiraram, de dentro, as porções certas, na quantidade adequada, e obtiveram a sabedoria. É a coragem usar o que é nosso.
Autoestima é o momento em que somos tão bonitos que já nem nos lembramos o quão difícil foi ultrapassar as barreiras do caminho. Autoestima é o “ser capaz  de fazer” fazer parte de nós. É uma conquista: uma batalha  de sentimentos vencida.  Autoestima é a alegria do saber.

(Por isso eu sou tão chata: eu sei que consigo fazer-vos sorrir. Retiro as minhas poções mágicas e uso-as de forma a que as vossas brilhem sem medos nem vergonhas).

terça-feira, 26 de setembro de 2017

As chitas , o riscado, o cretone, o vestido da vizinha e as camisas da minha avó: “talego”


Com pequenas flores ou cornucópias, em tons de azul e branco, comprava a minha avó restos de tecido. Uma vez no ano, antes da feira de Castro, fazia duas camisas. De saias: uma lhe bastava- um azul ou cinza, escuros, eram as suas cores prediletas. Não sei se a escolha de cores não dependia da imposição da moral da aldeia- já que todas as vizinhas me pareciam iguais de vestimenta. Camisas e calças janotas eram meticulosamente elaboradas e assim vestia o meu avô, em dia de vender as mulas e as vacas. À feira não se ia que não fosse de roupa nova (dia de ajuntamento da região e do abraço aos primos e compadres- que há muito não se viam). Já a vizinha, moça nova, lhe pedia um vestido (em tom de favor) com o tecido de grandes flores que lhe ofereceram e veio do estrangeiro. É que os rapazes iam todos gaiteiros e precisava ir toda jeitosa. Na azáfama que antecedia a feira, caiava-se a casa; com chitas e cretones substituíam-se as saias das arcas e o bancal da cozinha. Se fosse caso disso, ainda se comprava o resto da peça de riscado (mais barato porque tinha defeitos);  substituíam-se os velhos colchões de lã e afofava-se o de palha.


Não! Shiiiiii! Santa Barbatana! Vocês não sabem o enlevo de dormir nos colchões afofados e nos lençóis lavados na ribeira. Ainda sei o cheiro e a doçura de uma noite bem dormida.
De tudo isto, sobravam pequenos bocados de tecido: pacientemente, com as suas mãos enrugadas,  cortava, ao serão, pequenos quadrados de tecido. Com a ajuda das crianças torciam-se linhas de fazer as meias. Lembro com saudade a seca do “não te mexas”; ali ficava eu, de dedo esticado, completamente imóvel: não fosse estragar o dito cordão. Alinhavados e cosidos, os restos de tecido deixavam antever os “talegos”. Os grandes para o pão; os pequenos para o dinheiro.
Hoje, são meus os velhos “talegos”: alembradura dos bons e deliciosos momentos.
      Sinto a falta da minha avó: dos cinco tostões, do beijo, dos recados, da voz que imitava o rude. Sinto falta de quem me sabia tão bem; saudades da dura côdea na gaveta da mesa da cozinha; e, das sobras do quem nada tem e a ainda sobra para a menina.

Sorrisos
Guida Brito

domingo, 24 de setembro de 2017

Paragens no tempo

     As paragens alentejanas: no meio de nenhures servem os que dali distam alguns quilómetros a pé. Perfeitamente enquadradas na paisagem, apresentam-se como monumentos nacionais: são cultura e fazem-nos parar no tempo - num tempo que a carreira já lá vem. Daqui se parte até à vila e se fazem as compras mensais: num consumismo fiel às necessidades básicas (esquecendo o chocolate, os amendoins, os tremoços; a revista dos vips ou ou o que luziu a um olhar que não excede o fundo dos bolsos).
     Esta encontrei-a no Viseus; concelho de Castro Verde: as cores parecem morar ali e o tempo perde-se na brandura do Alentejo.

Se visitar a zona, siga o link:

Sorrisos
Guida Brito

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Eu quero...

     Eu quero um mapa das nuvens e um barco bem vagaroso.
Mário Quintana

Sorrisos
Guida Brito

Regressámos e foi assim


      A saudade já se fazia sentir; os nossos corações ansiavam pelo saciar de abraços. Os sorrisos e os afagos foram servidos com requinte enquanto se iniciava mais um ano escolar. 



     De apetites renovados, o trabalho não se fez esperar: a Violeta decidiu dar a aula. Trouxe-nos a sua amiguinha Aratinga Jandaya e nós aprendemos tudo. É tão bom regressar.


      

Ficámos fascinados com as carícias da nossa atrevida: circulou pela sala cumprimentando todos.


     Deixamos-vos as fotos de um momento muito especial. Sejam bem-vindos a mais um ano escolar.




    A todos desejamos um ano pleno de saberes e afetos.
Guida Brito

terça-feira, 19 de setembro de 2017

S. Tomé



A precisar de magia, programo a minha próxima viagem. Pafernálias de papéis e afins ditaram um esvoaçar do verão que quase não vi. Como ninguém merece mais do que eu, com uma Europa quase toda percorrida, decidi voar nos sonhos e querer um regresso ao passado. Sou velha (embora o sorriso o recuse e os caracóis o disfarcem) lembram as minhas memórias. Sou do tempo em que o fim das inúmeras horas, na fronteira, ditavam um Mundo novo: a surpresa perplexa de culturas que nos faziam crer que distávamos, em muito, o para lá do horizonte- bebíamos cada instante, quase sem espaço para tanto novo. 



Agora? O pequeno almoço é continental em toda a Europa; os trapos dos manequins são os mesmos de qualquer montra, de uma qualquer rua direita ou centro xpto; a aprendizagem do inglês impede futuras memórias sorridentes… Não há barreiras e corremos, atulados em stress, para sermos os primeiros nas infindáveis filas do quero ver… nem os monumentos, já vistos e revistos em nets e outros comunicativos nos abrem a boca exclamando surpresa. A cultura nativa quase se extinguiu e a Europa está igual. Preciso abrir a boca e deixar fluir o espanto do não visto. Tenho tanta urgência em fazer: “AHHHHHH”. Preciso de uns AHS na minha vida; sim, aqueles que permitem um regresso de brilhozinho no olhar.

Abri os olhos e pestanejando, vezes sem fim, decidi descobrir um destino onde o pequeno almoço não fosse continental. E descobri: descobri S. Tomé e apeteceu-me tanto. Ali: lava-se a roupa no rio e de vista só o belo se alcança.

Pelo que li, é um destino de sonho. É o segundo país mais pequeno de África e a simpatia das suas gentes acolhem-nos num mundo só seu.  A cultura; a diversidade da paisagem (da majestosa vegetação tropical à savana); o café, o cacau, a fruta pão, a mandioca, os cocos, as jacas; as tartarugas da praia Jalé; os caminhos de terra batida que nos transportam a segredos locais; as roças; o património colonial; o clima; os macacos e os papagaios…Shiiiii! Santa Barbatana! O que eu vou amar!



Com sorte e de forma atempada, consegue-se um voo de ida e volta por menos de soo euros. É um destino muito atrativo porque ainda é pouco explorado turisticamente; o que significa: uma cultura quase intacta. Pelo que percebi existem três rotas para percorrer toda a ilha: o sul, o norte e o centro- cada uma mais bonita do que a outra. Aqui, não há pressa nem hora marcada; reina o cheirinho a diferente. Um país seguro onde se pode caminhar e ousar; pleno de paisagens virgens- intocadas. Quero perder-me no tempo, ouvir o canto dos pássaros e dar brilho aos meus caracóis: vou.  De forma a não perder os pequenos grandes recantos e conhecer o mais belo que só aos locais pertence, é bom conseguir um guia. Pesquisei e encontrei um grupo: realiza caminhadas que nos transportam ao surreal dos locais inalterados e proporciona momentos inesquecíveis. 



Sempre metódica e super curiosa, quando se trata de viajar, decidi ultimar o meu programa contactando o grupo. Não estranhem, sempre assim o fiz: se sou eu que viajo, sou eu que programo. Marco avião, dormidas, visitas… organizo o meu programa de forma tão económica que faço caber uma viagem no meu curto orçamento. 

Vantagens: os cheiros chegam mais cedo; as viagens prolongam-se no tempo; viajamos ao custo do de cá. Viajar sozinha e para longe requer cuidados redobrados com a segunda melhor pessoa do mundo (a primeira é, claro, a outra metade dos Navegantes de Ideias): eu. Enviei algumas questões ao grupo e as respostas deixaram-me estupefacta. Longe da impingisse comercial dos tempos que correm, foi notória a afamada simplicidade, cordialidade e forma de estar do povo santomense; um profissionalismo inigualável. Os contactos que mantive foram uma mais valia na organização do meu programa e vão-me permitir desfrutar melhor do meu tempo na ilha. 

Marquei, com eles, alguns passeios imperdíveis e únicos. Foi tanta a partilha que fiquei certa: levam-nos pelos trilhos rumo ao impensável. No meu regresso conto-vos tudo e apresentarei o melhor roteiro para conhecer S. Tomé. Deixo-vos o link do grupo se quiserem espreitar:



http://banbenontours.com/index.html

 Quero regressar ao passado, perder-me no tempo e deslumbrar-me no imprevisto: vou.  Regresso ao surpreendente “jamais imaginaria que pudesse ser assim”.

Sorrisos


Guida Brito