quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
Na fila do supermercado…
À minha frente ( grisalho, roupas da década de 50, charmoso)
os mais lindos olhos verdes acariciaram-me com doçura:
- Bom dia.
- Bom dia- respondi sorrindo, como habitualmente.
Curiosa, observei com ternura a sua forma de estar:
cativante. Imaginei-o na sua juventude e o aroma que provocaria nas mulheres.
Simpático, sedutor, cavalheiro, apaixonado, apaixonante… hummmm, já não há
homens como antigamente.
Ele, entre sorrisos, pagou, pegou nas suas compras, nas
minhas compras e saiu.
Não volto a sair de casa sem tomar CAFÈ!
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
Meia dúzia de nadas
Às vezes, avivam-se à memória meia dúzia de
nadas (cheinhos de coisa pouca) que nos fazem sorrir. São os nadas que importam e fazem ser feliz.
sábado, 3 de setembro de 2016
“Já fiz. Podes vir”
Não havia esgotos nem wcs: era no
lado detrás do chaparro, do muro ou de uma simples oliveira que o alívio
espreitava entre sorrisos “Já fiz. Podes vir”. Não havia jornais e a erva nem
sempre crescia ali- sejamos honestos. Os índios, os cowboys, a macaca, o
caracol, o pião, a corda, a bruxa ou o Tarzan eram pertença dos pequenos
saltimbancos da rua. Em ruas não alcatroadas, descalços e coloridos de medalhas
( renovadas à segunda-feira, após o mergulho de domingo nas cálidas águas
aquecidas, à lareira, e depositadas num velho alguidar) éramos cuidadosamente
zelados pela aldeia:
- Sai daí. Olha que apanhas.
Ali, nas ruas, onde nem sequer
havia calçada, aprendemos: a baixar os olhos num ato de reconhecimento de
culpa; a perder os dentes em defesa de uma amigo ou a descer a ladeira sem
travões; a abraçar; a chorar; a rir; a cair; a levantar… Fomos, talvez, os últimos
saltimbancos a crescer no luxo que é a ausência até da pedra calcetada. Num
mundo que se alterou tão drasticamente, não sei onde nos perdemos mas cada vez
mais é notório o esconder e o abrilhantar (de forma errónea) as origens: o embrulhar o “Eu” adornando-o com meia dúzia
de laços luzidios de origem duvidosa. Num mundo de selfies, facebook,
instangram… partilhamos e sobrevalorizamos um “Eu” egoísta mascarado de
perfeição, sucesso ou vitória. E não somos, não somos nada do que partilhamos:
todos “cag amos” e “cag ámos” atrás do muro. Nem eu sou só sorrisos, loucura e
fadas nem vós só sucesso e perfeição. Somos dor; somos bem-estar; somos
sorrisos; somos choro; somos dúvida; somos certeza; somos amor; somos ódio;
somos lembrados; somos esquecidos; somos alegria; somos tristeza; somos
sucesso; somos fracasso; somos bons; somos maus; somos humanos. Em cada um de
nós existe um pouco de tudo. O que nos define é o que usamos maioritariamente
na interação com o próximo, com o amigo e até com o inimigo. O que nos define é
o que usamos em momentos não programados.
A queda da justiça, a
incapacidade do sistema de saúde, uma escola entrouxada de exigência (onde o
saber se apresenta sempre como insuficiente), empregos a tempo inteiro
encaixotaram-nos em solidão. E na lacuna do contato com o próximo,
o facebook, o instangram e outras aplicações surgem à distância de um clique,
no facilitismo da poltrona da sala ou da mesa do café. Num mundo sem cheiro nem
som ou tato é fácil esconder as rugas. É fácil ser rei ou rainha; é fácil ser bom ou
ter sucesso mas também é fácil magoar; denegrir ou humilhar. Se por um lado
estas aplicações preenchem lacunas, por outro encurralam-nos no “não preciso
ser; basta mostrar”.
Eu tenho saudades de um bom empurrão;
do calor de um bom abraço. Tenho saudades do limpar, com a mão, a lágrima de um
amigo; de sentir a tua mão que enxuga a minha. Tenho saudades da tua mão no meu
cabelo; saudades da minha no teu. Eu tenho saudades do cheiro, do som, do toque
da tua pele e do “Já fiz, podes vir”.
Eu tenho saudades. E vocês?
Sorrisos
Guida Brito
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Pessimismo
Nenhum pessimista jamais descobriu os segredos das
estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu para o
espírito.
Helen Keller
Nem
cumprimentou a lua, nem contou as pedras da calçada, nem viajou sem destino ao
sabor do vento... Não sabe o que contam as aves que passam, não sabe os
segredos que viajam entre as palavras... Não conhecem a emoção... Eles? Eles
não sabem nada.
Sorrisos
(Guida Brito)
sábado, 27 de agosto de 2016
Não preciso de linhas
Não preciso da folha, não preciso das retas... mas a música,
ai a música... a música vou-a compondo a cada passo de encontro ao onde quero
chegar. Componho-a entre a noite mal dormida e o primeiro passo da manhã: entre
a lágrima escondida e o sorriso aberto; entre o choque da dor e a calma do bem
estar; entre o inverno e a primavera; entre a chuva e o sol; entre a nuvem e o
céu azul; entre o botão e a flor. Entre mim e tu (tu que me lês) separam-nos vidas.
A mais cinzenta será sempre a de quem a aceita. Eu transformo a noite em
passos; a lágrima em sorrisos; a dor em calma; o inverno em primavera; afasto a
nuvem porque sei que o mais pequeno botão azulará na mais linda flor. Não
preciso das retas, não preciso da folha; não preciso do lápis; não preciso dos riscos; não preciso da tinta; não
preciso do compasso; não preciso do caminho; não preciso da astronave; preciso
de mim: com uma boa dose de querer um sol amarelo amanhecerá e é fácil fazer um
castelo.
Sorrisos
Guida brito
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Do tamanho do mar
Era tarde ou talvez não. A imagem
refletida no espelho devolvia os sorrisos, os amores, as carências, as
amarguras, as alegrias, os momentos, as tristezas; marcas do tempo, marcas da
vida- se assim lhe quisermos chamar: a importância do corpo é relativa. Não se
poupou de adornos que realçavam o que de melhor
há em si (como se o “si” fizesse parte do corpo). Um salto alto, uma
saia justa direccionavam o olhar para umas pernas esbeltas: escondiam a carência
de abraços, a carência de ti.
Sorriu, realçando os momentos
patentes no rosto, lembrava-se… Encontrou-o a meio caminho da meia idade (uma
meia idade indefinida- nunca sabemos o quão curta ou longa é a vida). Não o
encontrou: encontraram-se- e, essa, era a diferença que marcava esta história
da sua vida. Sentiram-se antes de se olhar; souberam-se antes de acontecer.
Nunca conversaram, nunca se olharam mas sabiam-se e cada um tinha consciência
do outro: não raras vezes se avivavam à memória. Roçavam como quem não quer que
aconteça. Ocupavam-se, quebrando a solidão até ao dia em que soltassem as amarras
do destino que teimava em os afastar (o destino só acontece quando fugimos do
vulgar e decidimos ousar). Cada um vivia como se não soubesse do outro: uma
ignorância certa do abraço que, um dia, os iria tocar.
- Espero-te mas já estás aqui-
sorriu.
Provavelmente iriam ver o mar, o
mar é tão grande… e o que sentiam era do tamanho do mar.
Sorrisos
Guida Brito
Metade de mim/ Metade de ti
Não consegui- nem por um
instante- desviar o olhar. Beberiquei com sofreguidão- incrédula entre os
raspanetes que metade de mim teimava em passar- cada gesto, cada passo…
“ Não! Não é flor que se cheire!”-
raspaneava a minha metade. Olhá-lo, cheira a traição do que de mais puro há em
mim.
A outra? Bem, a outra metade
alheava-se do corpo perfeito: sem uma grama de gordura, alto, forte, uns
braços… escondendo por completo a calvície. A outra metade, meus amigos, observava
a ternura dos gestos e o afago se fazia sentir ao primeiro olhar.
Detesto-o- por razões óbvias para
mim (não para vós) pois dois mais dois nunca são quatro. Detesto-o, não o posso
olhar. Foi duro! A leoa, que há em mim, e o vulcão, imprevisível, que me preenche
justificam as furibundas faíscas que ainda saltam e ressaltam do meu olhar.
Enquanto meia Guida marca o seu território a outra deixa-se levitar e num olhar
curioso abre espaço para a dúvida e para o conhecimento: uma guerra que
provavelmente ansiava paz.
Lá estava ele, um adónis e um
pedaço de mau caminho (é certo) mas desprezível em tudo o que se me avivava à
memória. Uma besta quadrada (finalmente fui direta- não me poli pelo
socialmente aceitável).
Besta quadrada! Não pode ser tão
quadrado assim. E o olhar com que protege e vigia as suas crias? E os gestos
puros que orientam, mimam e ensinam? E a relação que notoriamente os une? E a
cumplicidade? Esfrego os olhos e especada, no lugar central da fila da frente
(o único ocupado no anfiteatro local) vejo tudo e tento interiorizar um filme
que imaginaria ser pura ficção. Observo um ser doce, paciente que em tons puros
ressalta a excelência do ensinar. Em êxtase do que bebia o meu olhar, apenas o
polvo que, no final, bates cruelmente contra a rocha me relembram a tua e a
minha outra metade.
O palco é uma praia, escolhemos
ambos, casualmente, o lado menos habitado. É indecifrável o cruzamento do
olhar; certamente, a surpresa e o ódio prenderam-se para não se soltar: a
indiferença é a arma de quem quer magoar. Sim, sei que me viste e também tu
atreveste o olhar. Num palco que foi só teu, só tu o sabes decifrar.
Das nossas metades conhecemos as
guerreiras. Hoje, não esqueci mas fica o conhecimento que, afinal, és
igualzinho a mim: um bruto que sabe amar.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Todos pensavam vazia a grande jarra da mesa da sala: colecionava sorrisos e ali os depositava. Em sua casa não existiam espaços cheios de nada: tudo se preenchia de afetos.
Guida Brito
Guida Brito
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