sábado, 22 de junho de 2019

Ir à praça, um hábito esquecido: acomodamo-nos em passos certeiros de quem vai, não pensa e não volta feliz



Praça de Vila Nova de Mil Fontes

Pouco conscientes, abandonámos certos hábitos que ampliavam a nossa qualidade de vida. 


Assim no sem querer, na pressa de quem tudo precisa para o ontem, acomodamo-nos em passos certeiros de quem vai, não pensa e não volta feliz. Habituámo-nos, de forma desmedida, aos hipers, aos grandes, aos têm tudo e, de forma “freniqueira”, “calcoreamos” prateleira a prateleira. Sabemos de cor, de forma quase inata, os caminhos do agora promove isto amanhã engoda com aquilo. 
Praça de Vila Nova de Mil Fontes

Permitimos o ficar sem nora, na hora das mudanças no local do gasto. Reclamamos, "asneiramos", certos que a qualidade de vida é o facilitismo do gesto impensado. 
Praça de Vila Nova de Mil Fontes

E eles sabem disso: sabem que se nos sentirmos em casa vamos diretos á prateleira e consumimos o usual; sabem que não vemos e em dia de novidades -  que não nos servem para nada - trocam a organização da casa e tropeçamos no vai comigo, apesar do não quero e não preciso; é barato. E, maioritariamente, papamos disto: meia dúzia de enlatados, uma dúzia de pré-feitos, duas dúzias do vai parar ao lixo e a novidade que nos impingiram no vai com pressa.
Praça de Sines

Praça de Sines

Permitimos o sem sabor e o já está feito.
Voltei ao Mercado, à praça, e fiquei feliz. 
Louro

Polvo

Encontrei os senhores da horta: os tomates sabem a tomate; os pepinos sabem a pepino; os pimentos são pimentos; as beldroegas são campestres; as ameixas e as maçãs não são todas iguais; os frutos têm folhas e não brilham; as batatas não flutuam como nas Provas de Aferição, são batatas e cumprem a sua função… 
Salsa e hortelã

Cravo

Não sei o que pensa a ASAE, não sei o que pesam os hipers, não sei o que vocês pensam, eu sei que amei os sabores e a salsa foi oferecida (só por isso já valeu a pena). Aquilo não tem ponta por onde se pegue, segundo uns moldes que não entendo, mas o sabor! Ai! O sabor!
Cenouras

Batata Doce

Comprei peixe bem fresquinho, azeitonas tradicionais, queijinhos da cabra da vizinha; dei dois dedos de conversa com a senhora das rosas; sorri para o homem do peixe; escolhi o melhor pão (um belo casqueiro alentejano) e voltei feliz.


Fui ao mercado, fui à praça,  amei e sorri.

Flores

 Sorrisos
Guida Brito



As consequências dos Olivais Superintensivos: Fortes Novas

Fortes



Ninguém imaginaria que a promessa de água, do grande lago Alqueva, à planície seca e árida fosse o início do fim.


Hoje, abordamos a consequência do pseudodesenvolvimento nas gentes de Fortes Novas. Alegadamente, fossas a céu aberto e emissão de gazes cancerígenos, por parte das fábricas de transformação do bagaço da azeitona, constituem a causa de um viver muito aquém do limiar aceitável para o ser humano. 

A indignidade maior das consequências das monoculturas surge, de facto,  na localidade de Fortes Novas.  E não sei como a escreva, de forma a transparecer a verdadeira dimensão de tão grande crime que ocorre no meu país. Ali, a morte é um bem conseguido em vida. 

Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
Fotografia de Artur Pissaro

Definha-se, numa poluição tão intensa que não deixa ver a pessoa com quem dialogamos. São sobretudo idosos, envergonhados e doridos pela morte que chegou quando o coração ainda bate e a mente sabe que não há saída de um crime monstruoso, praticado com o consentimento dos órgãos de poder e de um país que não podia permitir esta aberração. Permanentemente, não há ar.
Assoam e cospem sangue, vivem enclausuradas na poluição que têm dentro de casa.
Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
Fotografia de Artur Pissaro

No início, durante 10 anos, chamavam-lhe parvos e referiam que o fumo era vapor de água. Os órgãos de poder negavam, os agricultores negavam, as fábricas de transformação do bagaço negavam, as primeiras análises foram efetuadas no único dia do ano em que o vento levou a poluição. Após muita luta, por parte algumas pessoas (muitas choram no anonimato, ameaçadas ou com medo de perder o transporte, à quinta feira, que lhes permite sair da povoação) a fábrica reconheceu que o vapor de água era mais denso e construiu uma nova chaminé. No entanto, esta e as outras duas, visivelmente, continuaram a emitir espessos fumos enegrecendo a vida das pessoas que habitam a 200 metros (134 metros, no caso da Dona Rosa Dimas).

Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
"Não se consegue viver" - Rosa Venâncio, Fortes, Alentejo

Devíamos combinar um dia e irmos todos, Portugal em massa, a Fortes. Acreditem, quem lá vai não precisa de análises: prefere a morte rápida a ter que respirar aquilo todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos, a todos os segundos. É, sem sombra de dúvida, o crime mais hediondo que se possa praticar.


Assoam e cospem sangue, vivem enclausuradas na poluição que têm dentro de casa; evitam a rua porque intensifica estes sintomas e o ardor nos olhos e garganta. Não saem de casa, não convivem com os  vizinhos, não veem outros seres humanos, estão sós, prisioneiros do desenvolvimento económico e da ganância alheia.
Choram doridos, morreram.
Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
"O meu cuspo é sangue, Quero recuperar a minha saúde" - Rosa Dimas, Fortes, Alentejo

Aplicaram as poupanças de uma vida num Alentejo puro e são; são idosos, viviam da reforma e das hortas; hoje, em fome envergonhada, sem recursos financeiros, estão prisioneiros e é o sangue que lhes sai das entranhas.



Finalmente, em junho de 2018, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) fez análises e deu a conhecer os resultados:
“Poluentes químicos associados a emissões confinadas e difusas”. Na composição química das partículas libertadas pela actividade da fábrica de bagaço de azeitona, foi identificada a presença de “monóxido de carbono, dióxido de enxofre, compostos cancerígenos (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos) e outros gases (amoníaco, ácido sulfúrico e sulfureto de metilo”). Um dos gases apresentava valores 40% acima do suportável pelo ser humano. Perante este e outros pareceres, incluindo um do Sistema Nacional de Saúde, foram solicitadas medidas urgentes para que estas pessoas pudessem viver, o fim dos seus dias, com dignidade. Todos os órgãos de poder empurram uns para os outros e nenhum faz ou fez absolutamente nada, desculpando-se com o vizinho: judiando com estas pessoas. E a fonte de toda esta poluição continua trabalhando, indiferente às vidas que arrasta.

Recentemente, o Senhor Ministro da Agricultura reconheceu, pela primeira vez, o horror que ali ocorre. Referiu que ou a fábrica deixava de poluir ou se fechava. Palavras que não viram ações como reflexo. Não houve qualquer ação que devolvesse a vida a estas pessoas.


Para minimizar os efeitos negativos na população, a fábrica perguntou à população: se queriam óculos, uma capela e arranjos na escola primária. A população respondeu: a escola está fechada; não nos falta visão mas sim o ar; não precisamos rezar, são vocês que decidem se temos ou não: ar.


Há umas semanas, ocorreu mais um congresso para se debater este tema; provavelmente ainda não sabem que aquelas pessoas estão a morrer de forma desumana e que era hoje que devia ter acabado a sua agonia.
Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
"Não nos façam sofrer mais como até aqui. Perdemos saúde e o que construímos ao longo da vida." - José Barrocas, Fortes.

De bradar aos céus, foi a humilhação provocada pelo senhor José Velez, vice-presidente da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (Drapal), Em conferência, após ouvir o choro destas pessoas, disse-lhes: “desmistificar papões”; “ambiente é fundamental, mas o desenvolvimento é crucial”; “desenvolvimento tem os seus custos e as suas facturas” – ou seja, opino eu, considera aceitável o envenenamento e a morte destas pessoas em troca do desenvolvimento.


Belos políticos, é muito bem gasto os ordenados que lhe pagamos. O à vontade é tanto que nem se inibe de aprovar a doença e a morte de seres humanos, a troco de um desenvolvimento que ocorre não sabemos para quem. Terá, além do ordenado que lhe pagamos, subsídios dos capitais espanhóis envolvidos na fábrica? Algo tem que condicionar o que profere, não acredito que alguém, são mentalmente e livre de palavras empenhadas, possa transmitir concordância com este atentado à vida.
Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
"Nem podemos estar em casa, dói-me muito." - Maria Joaquina Camacho Caixeirinha

Após o congresso, a APA instalou sensores para realizar novas análises ao ar de Fortes: a fábrica, estava presente aquando foi tomada esta decisão, parou as máquinas. Entretanto, as máquinas das análises ao ar foram desligadas devido à apanha do trigo que emite muitas poeiras; a fábrica soube e, no imediato, aproveitou para trabalhar a todo o gás.


Após o congresso, outra importante medida foi tomada: enviar uma equipa de saúde para analisar a população. Em tons de estou permanentemente no telemóvel, entre mensagens e joguinhos, foi entregue, a cada idoso, um inquérito. Afinal, o estudo não pretendia saber as marcas da doença provocada pela respiração contínua de gases venosos, queria saber se a população era louca, se poderia recorrer ao suicídio e se pretendia matar os que lhe infligem tamanha aberração.
Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?

No Alentejo, brinca-se, judia-se com a dignidade e a vida das gentes.


Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?
Sempre que escrevo emito a minha opinião, após analisar documentos reais e fidedignos.
Ler o artigo na integra:

Genocídio no Alentejo: Quem extermina o Povo Alentejano? Portugal ou Espanha?

Sem sorrisos
Guida Brito


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Prova de Aferição do 2º ano: exercício errado passa despercebido aos especialistas e à população portuguesa

Prova de Aferição do 2º ano: exercício errado passa despercebido aos especialistas e à população portuguesa


O  exercício número 15 da Prova de Aferição de Matemática está errado: além da complexidade da Língua Portuguesa, da extensão e do excesso de imagens para crianças de tão tenra idade, as opções disponíveis não respondem à questão.




A flutuação de um objeto depende da sua densidade e da densidade do líquido em que é introduzido. Um objeto flutua se a sua densidade for igual ou menor do que a do líquido em que é introduzido. Em caso contrário, afunda.

No caso em questão, as batatas flutuam na água porque a sua densidade foi alterada quando se juntou o sal; nenhuma das respostas disponíveis inclui esse facto.  A Inês devia concluir que a flutuação da batata depende da densidade do líquido.

Opção A: do líquido usado – está errado retirar essa conclusão; a flutuação de um objeto depende da sua densidade e da densidade do líquido em que é introduzido. Cientificamente, não posso partir de pressuposto errado. Ser líquido é o meio e não a condição para.

Opção B – da massa das batatas - não posso retirar essa conclusão porque foram usadas batatas com massas diferentes.

Opção C – do tamanho da batata - não posso retirar essa conclusão porque foram usadas batatas com tamanhos  diferentes.

Opção D – da altura do líquido – a mesma não alterou os resultados da experiência.

Não havia, assim, nenhuma opção correta. Não podemos esquecer que esta prova se dirigia a crianças de 6/7 anos e  os adultos não conseguiram detetar o erro.

Resumo: os objetos podem flutuar em líquidos ou em gases; a sua ocorrência depende de vários fatores. No caso da flutuação em líquido, existem várias condições para que se verifique; nenhuma delas é ser líquido. Ser líquido é o ambiente onde ocorre e não a variável que influência a ocorrência.


“A flutuação de um objeto depende da sua densidade e da densidade do líquido em que é introduzido. Um objeto flutua se a sua densidade for igual ou menor do que a do líquido em que é introduzido. Em caso contrário, afunda."

Assim, a frase “A flutuação de uma batata num líquido contido numa bacia depende do líquido”:  está incorreta. Ver princípio de Arquimedes.


Se um conteúdo é demasiado complexo para uma faixa etária: não o devo lecionar, aguardo que a criança atinja essa maturidade. Não posso, em caso algum, lecionar o errado. Uma escola leciona, por etapas, o cientificamente correto. Líquido é o meio e não a condição para flutuar.

Ler também: 

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos


Sem sorrisos
Guida Brito


quarta-feira, 19 de junho de 2019

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos


Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos

Ainda não percebi qual é o intuito de uma prova de aferição e o que pretende aferir: se a incapacidade da criança; se a incapacidade do professor; se o não quer saber dos pais. 




Não há ponto sem nó e, cá para mim, a coisa vai ficar negra para o lado dos professores: são incapazes de colocar na cabeça das crianças aquilo que o seus 6/7 anos, ainda, limitam em maturidade. É preciso ser consciente que as crianças não frequentam o ensino universitário: criam as bases para que, um dia, o conhecimento seja sólido e usável.

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos


O maior erro do nosso ensino: extensos programas, de grau de dificuldade desfasado da faixa etária a que se dirigem. Exigir o bolo antes de bater os ovos compromete o desenvolvimento, inibe o gosto; desespera o professor e cria ansiedade nos progenitores. Torna-nos, a todos, infelizes. Será isso que se pretende com as Provas de Aferição? Pôr-nos loucos e provar que somos todos incapazes? Na aprendizagem, não posso ocultar passos: todas as etapas são cruciais para um desenvolvimento harmonioso e consolidado - fundamental  na apreensão do saber que se segue.


Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos

Uma prova desta natureza, como a de Matemática que hoje foi apresentada a crianças de tão tenra idade, só pode ter sido realizada por alguém que, sentado na sua secretária, não tem experiência de ensino, não fez o seu trabalho ou foi mandado para o não fazer. 

Antes do grau de dificuldade que se apresenta às crianças a nível matemático, há que ser conscientes da exigência a nível da leitura: vocábulos de leitura complexa; exercícios demasiado extensos; excesso de figuras num só exercício; demasiadas alíneas. 

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos



A leitura é crucial para a compreensão; uma criança de 6/7 anos ainda não apresenta a globalização da maioria das palavras, esquece o que leu anteriormente quando esbarra na tentativa de decifração de uma palavra. Não, não vai reler, a extensão é demasiado penosa para o fazer; aquilo dói e tem indicações para terminar o seu trabalho: quer fazer tudo; quer a felicidade e satisfação dos adultos que o acompanham. Regra geral, quando um exercício é extenso ou a linguagem utilizada se  situa fora do seu domínio, fixa a última informação e com ela responde. Responde mal, perdeu informações essenciais.

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos

Nesta faixa etária, a criança ainda revela muitas dificuldades em se orientar no espaço, o excesso de imagens, num só exercício, fá-la perder-se, desorienta-a e incapacita-a de relacionar as informações.

Quando chegamos à Matemática, a criança já tem negativa, esbarrou na exigência desmedida de quem tem muitos anos e sabe escrever para adultos. Ultimamente, é isso que sinto: adultos que elaboram exigências a crianças de 6 /7 anos, como se estas também o fossem. Esquecem que a aprendizagem se constrói como uma casa: primeiro, tenho que criar condições no terreno para implantar os alicerces, adaptados à realidade que quero.

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos

Os profissionais que elaboraram esta indigna aberração, esqueceram-se que, nesta idade, a criança não detém poder de abstração, não consegue relacionar tantas informações, não detém maturidade para a realizar. Necessita da concretização para, um dia, numa idade que não a sua,  aprender a abstrair-se.

Cá por mim, penso assim: as médias nacionais têm demonstrado que a exigência é superior às capacidades da criança. O nosso maior problema é o constante desrespeito pelos nossos alunos: mereciam um ensino adaptado ao que o seu corpo pode dar - desenvolveriam o gosto, o querer, o brio e a satisfação do saber  fazer.

Lanço-vos o desafio: resolver o que hoje foi exigido às crianças de 6/7 anos. Sei que muitos vão errar.

Artigo aconselhado: 

Prova de Aferição do 2º ano: exercício errado passa despercebido aos especialistas e à população portuguesa

Professor: o ópio do povo

Sem sorrisos
Guida Brito


sábado, 15 de junho de 2019

Olivais superintensivos; episódio “E tudo o vento levou”






Num discurso pouco coerente, veiculando dados confusos e que diferem de anteriores palavras, o Senhor Ministro da Agricultura anunciou a limitação da continuidade dos olivais superintensivos (estão na base da maior catástrofe ambiental, histórica e humana, no nosso país). 



De imediato, observou-se uma partilha imensa, pelas redes sociais, das suas palavras – palavras de alívio, de  felicidade, de finalmente, de acreditar no futuro, por parte das incontáveis vítimas do monstruoso sem explicação nem cabimento.

Hoje, para espanto de todos, pela primeira vez, dando o dito por não dito, o Senhor Ministro da Agricultura reconhece a existência de povoações que sofrem de forma cruel e desumana (embora sem coragem para pronunciar o nome de Fortes) e fala sobre o fecho das fábricas de bagaço.


Resumindo o seu discurso emotivo e preocupado: confessa que o Alentejo é terra sem lei mas envia o seu cumprimento e a justiça para um futuro incerto.


Fotografia de Artur Pissarro

Ops! Senhor Ministro, leva 10 anos de atraso para reconhecer que o vapor de água são gazes venenosos,  40% acima do suportável pelo ser humano. Sabe que as  fábricas continuam a laborar? Mais 10 anos para as fechar? Sabe que as pessoas estão doentes (muito) e que ninguém reconhece que os gases, 40% acima do suportável pelo ser humano, são a causa dos cancros, sangue que cospem, problemas respiratórios…? Matámo-los e passamos um paninho de sacudir o pó ou reconhecemos o que lhes causámos? 

E tem conhecimento das substâncias proibidas e cancerígenas (em tão grandes quantidades) nos aquíferos? Esqueceu-se ou  há interesse em jogar ao faz de conta que  não há o que há? 

E as espécies protegidas por lei que foram arrasadas? Onde estão as nossas rochas, tão importantes na luta contra a erosão dos solos? Sabe que todos as britaram? 



O que faz  perante os camiões que continuam a circular, a caminho do muito longe, com as nossas oliveiras milenares? O que acontece a quem arrancou os nossos montados?  E? E? 

E os dois ou três culpados que o senhor reconheceu? Foram condenados? E os outros que o senhor não reconhece? Foram condenados??



Desenganem-se os felizes "partilhadores" da publicidade gratuita ao Senhor Ministro: temos para desbravar o "com a verdade me enganas". Habituámo-nos, ao longo dos últimos anos, a receber o que parece que é  mas depois aquilo não é e o que vem piora.  Em minha opinião, a grande mancha da mesma cor (que preocupa, agora, o nosso “A mando do Prime”) vai dar origem a um sem cor enegrecido nas nossas vidas.

O que já fez Senhor Ministro? Qual foi a palavra que transformou em ação?

Então? Palavras bonitas que enviam o cumprimento para após eleições: são mais um episódio de “E tudo o vento levou”.

Vamos a factos

O representante máximo da EDIA recebeu esta semana os embaixadores dos Estados Unidos, em Barrancos. Mostrou-lhes o laguinho do Alqueva e teceu maravilhas do aqui posso tudo: lá vem o amendoal (mais 700 000 hectares).

Os chineses visitaram Sines, sorriram para a foto, para o Porto e para vinha no Alentejo.

Os canadianos que já começaram a colher a cannabis em Cantanhede querem ampliar, em muito, a sua produção. Onde? Alentejo.


Mais aquilo que a gente não sabe e está escondido nas entre  linhas, teremos um mono-intensivo que parecerá uma prática ambiental sustentável, amante da biodiversidade.

Por que carga de água (que aqui não há) vêm os outros continentes investir num pequeno país, da periferia da Europa, plantar numa região de secas severas? Será que a Espanha vendeu o Alentejo? Cheira-me a invasão camuflada.



Preparem-se que os subsídios da União Europeia são para ir buscar e mais virão: chegarão sorridentes, cativos desta região. O Alentejo não tem futuro e ninguém devolverá a saúde e a vida dos que já morreram; ninguém se responsabilizará pela tragédia já causada; a economia desenvolvida será a estrangeira e bolsos alheios aos interesses do país – nós baixámos as calças perante os tantos que se apaixonaram por esta linda terra.
Para finalizar, deixo a pergunta no ar: “E se alguém bater nos seus filhos? O que faz?”

Mas permite que o envenenem.
Pois, estão a envenena-lo: quando utiliza a água dos aquíferos; quando respira as vaporizações das culturas mono-intensivas; quando utiliza os azeites de preços acessíveis (e sem rótulo indicativo da  proveniência); quando consome o sem sabor (nem cheiro) que prolifera nas estantes do supermercado; quando comer o que pensa que são amêndoas… fica sem recursos e sem futuro (mesmo que tenha feito a escola até ao fim e com diploma do mais alto grau). Não se preocupe, um pouco de cannabis e viverá feliz, num arco-íris ocultador do que não presta.

Não é à toa que, numa região (Alentejo) onde de cancro nem se ouvia falar, hoje morre o Ivo, amanhã morre o Paulo, a Matilde e o João. Precisamos de uma resposta que vá mais além do que anular as festas do bairro. Que a sua memória seja dignificada no “Não quero mais! Acabou aqui!”.

Sem sorrisos
Guida Brito


sábado, 8 de junho de 2019

Nem as moscas aplaudiram



Falar de sem o referir: pois, não é fácil. A ver vamos se nos entendemos e vocês me percebem. Na hora H, lá corremos de fininho, de cara feia, aflita, rezando e pedido o sorriso aliviante de quem tudo fez. 

O primeiro ufa surge perante a capacidade - e o alívio – da concretização de gestos do tratar das vestes: hoje, salvámo-nos e chegámos a tempo. A tempo de colocar no sítio certo o que é nosso mas não queremos. 



Segue-se um quase rufar de tambores:  ao expulsar o que nos custou o piar de forma pouco audível, em andante cruzar de pernas para o manter seguro – impedindo-o de sair  pelo buraquinho. Naquela hora, somos todos iguais: não há carro, vestes, roupinha da botique “cu noir”, narizes empinados, poisio num lugar de chefia… que nos diferencie; sentámo-nos e fizemos, com agrado, o que, muitas vezes, adiamos na esperança que não saia. Confessem: chegar lá e fazer, fazer muito, é majestoso.

Todos olhamos! Escusam de negar. Todos olhamos, vemos, miramos e sorrimos. Quanto maior for o produto, maior será a nossa satisfação. Hoje fiz muito; hoje fiz aguado, hoje fiz líquido, hoje fiz duro; hoje fiz amarelo, hoje cheirava, hoje não comi sabonete, hoje doeu … as chamadas conversas de …   com toda a razão de ser.
Quer queiramos ou não, encontramos, nesta hora, a verdadeira dimensão da satisfação: fizemos.

Ontem, meus amigos; comi beterraba; sabem a sua cor? Memorizam o que comeram no dia anterior? Pois. Querem que conte? Ao invés do alívio: uma expressão doentia e agoniante,  nem as moscas aplaudiram.
Sorrisos
Guida Brito


quinta-feira, 6 de junho de 2019

A andorinha-do-mar-anã pede que a limpeza das praias não seja efetuada em maio e junho


A andorinha-do-mar-anã pede que a limpeza das praias não seja efetuada em maio e junho
Ninho da andorinha-do-mar-anã

Por todo o país, durante os meses de maio e junho, grupos organizados limpam as nossas praias. Uma iniciativa louvável e essencial na defesa dos nossos mares e da biodiversidade. No entanto, a andorinha-do-mar-anã solicita que este ato, em defesa de um Mundo melhor, não seja efetuado no seu período de nidificação e incubação.


 Esta espécie encontra-se incluída no Anexo I da Directiva Aves e no Anexo II da Convenção de Berna. Em Portugal tem o estatuto de vulnerável (V). Em locais pouco perturbados, efetua a postura no areal; os seus ovos confundem-se com o meio envolvente e são, facilmente, danificados pelas pessoas e máquinas que ocorrem, nestes dias, às nossas praias – essencialmente, em zonas mais isoladas.
A andorinha-do-mar-anã pede que a limpeza das praias não seja efetuada em maio e junho

Na Europa, o declínio das populações e da área de distribuição da Andorinha-do-mar-anã é consequência, principalmente, da perturbação humana e de excessivas alterações no habitat A população reprodutora nacional, estimada em 300 casais, entre 1981 e 1983, sofreu um declínio acentuado até meados da década de oitenta (Araújo e Pina 1984, Teixeira 1984), não se conhece, com pormenor, a tendência nacional; sabe-se que nesta época, maio e junho, em sua defesa, devíamos evitar estas atividades.

A andorinha-do-mar-anã pede que a limpeza das praias não seja efetuada em maio e junho


Esta semana, a equipa dos Navegantes de Ideias fotografou um ninho, entre Sines e a Lagoa de Santo André. Os progenitores, cuidadosos com os futuros bebés, não foram incomodados e o seu habitat foi respeitado.
A andorinha-do-mar-anã pede que a limpeza das praias não seja efetuada em maio e junho
Ninho da andorinha-do-mar-anã
Sorrisos
Guida Brito

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Professor: o ópio do Povo


Navegantes de Ideias

Nos últimos anos, assistimos a um debate, sem precedentes, em praça pública, sobre se o estado português deve ou não pagar as suas dívidas. 

Decidiu-se, de comum acordo com a população, que, no caso dos professores, a dívida é grande e como grande não deve ser paga; não deve ser paga e estes irão aposentar-se muito após os 66 anos (tão após que ninguém sabe quando ou se).

Cá por mim, não discuto: qualquer que seja a lei ou veredito, eu cumpro. A concordância difere do dever de cumprimento.



Enquanto os portugueses decidiram contra os seus filhos (depois já falamos sobre isto), no escurinho do cinema, chupando drops de anis, milhares de milhão, muitos milhares de milhão, desapareciam misteriosamente de bancos e banquinhos. 

Volta não volta, decidia-se falar, de novo, o assunto da dívida aos professores (ou da sua aposentação) e, enquanto isso, mais uns buracos e mais uns milhares de milhão sumiam a modos do vou e não volto. 

Navegantes de ideias


Até a nossa caixa forte e intocável (CGD) demonstrou necessitar de novas fechaduras (ou ferrolhos). Pela experiência, já sabemos que os substitutos são de qualidade inferior ao não toques de forma incorruptível; ostentam, de forma briosa, aos leitores das entrelinhas, “ sou todo teu, não roubes pouquinho”.

Habituados a  pagar o que não se deve: perdoaram-se dívidas astronómicas aos portugueses de categoria superior, enquanto se assistia, em direto, aplaudindo a inovadora medida, sem lugar na constituição, de não pagar a quem trabalhou. E, sabem? Tendes razão. Os professores não fizeram um bom trabalho: foram benevolentes com a Vossa distração.

Vamos melhorar a economia: 
- não se paga aos professores e atrasamos a aposentação; 
- fisco na rotunda; 
- doar sob a forma de corrupção. 
E bem feito; pregando bonitas formas de ser, bons hábitos e costumes; correu o povo, ineditamente concordante: “Ai! Que Bom! Salvámos a economia!”

 Confesso, gosto desta forma de pensar: 
- primeiro a economia, dos bolsos de não sabemos quem, e depois os meus filhos; 
- devo muito, não pago; 
- roubaste? Perdoou-te e toma lá mais. 

O problema é que estas medidas não são universalmente aplicadas ao ser português; para beneficiar,  é necessário ser Grande Português (roubar grande, exigir grande, gastar grande – os novos intocáveis) e nós (eu e os meus leitores) somos Zés-ninguém. Sim; Zés- ninguém, guarde lá o carrinho, o ar snob, as vestes que não consegue pagar, a aparência do parece que é mas não é: quando chegar à rotunda, deixa lá a cuequinha – fisco que é fisco… reze e tape com a mãozinha.

A um dos senhores, vermelho de coração, perdoámos uma dívida de mil milhões, a firma tinha 400 trabalhadores … mil milhões???? Bem, pagávamos aos professores, dávamos um milhão a cada trabalhador da firma e o estado arrecadava 200 milhões… não! Perdoámos. O estado subsidia os novos compradores e prontifica-se para mais um resgate no próximo episódio.

E o que perdeu? Já se questionou?

Enquanto aprovou tudo isto, o professor do seu filho tem mais de cinquenta ou sessenta anos, falhas de memória, agilidade que não lhe permite segurar o Manel e o João; artroses; anda de muletas; não vê; incapacita-se com o som; doente, cansado e velho: sem motivação.  Se o seu filho vai aprender? Claro que sim; quando entrar para o primeiro ano: dão-lhe catorze livros e um lugar anónimo numa imensa multidão.

Tem dúvidas? Recorra a uma explicação: um professor, em idade apropriada para fazer face às exigências de educar o seu filho, sentar-se-á, com afeto e disponibilidade, entre as 3 ou 4 crianças que frequentam o espaço.
Artigo aconselhado: 

Prova de Aferição de Matemática 2º ano: uma prova de e para adultos

Sem sorrisos 
Guida Brito


terça-feira, 4 de junho de 2019

A gata e a gata da Clarinha


Momento do dia
Não; não vos dar a conhecer, a conhecer a Clarinha, mas posso contá-la. De pulseiras, anéis, laços, bonecos, colares, estojos, muitos estojos, lápis bonitos, sorrisos abertos, a Clarinha veste de azul e é minha amiga. Chega, sempre, sorridente, afável, doce, carinhosa, envolta numa espécie de avental azul, traçado, esquisito, encantador. Ainda não lho percebi; é de ganga, vistoso, lembra o afeto e a criança. Ainda não lho percebi mas fica-lhe tão bem! Condiz com a ternura presente em cada gesto e em cada palavra: condiz com o doce do bem querer a quem sabe ser.

Momento do dia

Veste azul, a minha Clarinha: azul clarinho, azul quase branco, azul da cor do céu, azul celeste, azul bebé, azul suave, azul da cor do gosto de ti.

Momento do sia

“Oi! Amor!” – sorri ao primeiro olhar e a gente sente, sentimos a leveza e a profundidade do sentido que nos irradia.
Chega doce mas atarefada: “Oi! Amor!”; “Esqueci-me!”; “Será que estou atrasada?”; “Falta-me isto!”; “Fizeste aquilo?”. Sabem a Clarinha? Vai na frente; faz isto e aquilo; já fez tudo mas ainda acha… um turbilhão de boa gente. Eu, cá, gosto da Clarinha. E gosto da Clarinha assim: azul clarinho, azul quase branco, azul da cor do céu, azul celeste, azul bebé, azul suave, azul da cor do gosto de ti.

Momento do dia

A Clarinha tem uma gata e uma gata. Não; a gata e a gata da Clarinha não são azuis mas os seus olhos refletem o azul, o clarinho, o bebé, o celeste… o azul da Clarinha.

Momento do dia

Sorrisos
Guida Brito