Nos últimos anos, assistimos a um
debate, sem precedentes, em praça pública, sobre se o estado português deve ou
não pagar as suas dívidas.
Decidiu-se, de comum acordo com a população, que, no
caso dos professores, a dívida é grande e como grande não deve ser paga; não
deve ser paga e estes irão aposentar-se muito após os 66 anos (tão após que
ninguém sabe quando ou se).
Cá por mim, não discuto: qualquer
que seja a lei ou veredito, eu cumpro. A concordância difere do dever de
cumprimento.
Enquanto os portugueses decidiram
contra os seus filhos (depois já falamos sobre isto), no escurinho do cinema,
chupando drops de anis, milhares de milhão, muitos milhares de milhão,
desapareciam misteriosamente de bancos e banquinhos.
Volta não volta,
decidia-se falar, de novo, o assunto da dívida aos professores (ou da sua
aposentação) e, enquanto isso, mais uns buracos e mais uns milhares de milhão sumiam
a modos do vou e não volto.
Até a nossa caixa forte e intocável (CGD)
demonstrou necessitar de novas fechaduras (ou ferrolhos). Pela experiência, já
sabemos que os substitutos são de qualidade inferior ao não toques de forma
incorruptível; ostentam, de forma briosa, aos leitores das entrelinhas, “ sou
todo teu, não roubes pouquinho”.
Habituados a pagar o que não se deve: perdoaram-se dívidas astronómicas
aos portugueses de categoria superior, enquanto se assistia, em direto, aplaudindo a inovadora medida, sem lugar na constituição, de não pagar a quem
trabalhou. E, sabem? Tendes razão. Os professores não fizeram um bom trabalho: foram
benevolentes com a Vossa distração.
Vamos melhorar a economia:
- não se
paga aos professores e atrasamos a aposentação;
- fisco na rotunda;
- doar sob a
forma de corrupção.
E bem feito; pregando bonitas formas de ser, bons hábitos e
costumes; correu o povo, ineditamente concordante: “Ai! Que Bom! Salvámos a
economia!”
Confesso, gosto desta forma de pensar:
- primeiro a economia, dos bolsos de não sabemos quem, e depois os meus filhos;
- devo muito, não pago;
- roubaste? Perdoou-te e toma lá mais.
O problema é que
estas medidas não são universalmente aplicadas ao ser português; para
beneficiar, é necessário ser Grande Português (roubar grande, exigir
grande, gastar grande – os novos intocáveis) e nós (eu e os meus leitores)
somos Zés-ninguém. Sim; Zés- ninguém, guarde lá o carrinho, o ar snob, as
vestes que não consegue pagar, a aparência do parece que é mas não é: quando
chegar à rotunda, deixa lá a cuequinha – fisco que é fisco… reze e tape com a
mãozinha.
A um dos senhores, vermelho de
coração, perdoámos uma dívida de mil milhões, a firma tinha 400 trabalhadores …
mil milhões???? Bem, pagávamos aos professores, dávamos um milhão a cada
trabalhador da firma e o estado arrecadava 200 milhões… não! Perdoámos. O
estado subsidia os novos compradores e prontifica-se para mais um resgate no
próximo episódio.
E o que perdeu? Já se questionou?
Enquanto aprovou tudo isto, o professor do seu filho tem mais de cinquenta ou sessenta anos, falhas de memória,
agilidade que não lhe permite segurar o Manel e o João; artroses; anda de
muletas; não vê; incapacita-se com o som; doente, cansado e velho: sem motivação.
Se o seu filho vai aprender? Claro que
sim; quando entrar para o primeiro ano: dão-lhe catorze livros e um lugar anónimo
numa imensa multidão.
Tem dúvidas? Recorra a uma
explicação: um professor, em idade apropriada para fazer face às exigências de
educar o seu filho, sentar-se-á, com afeto e disponibilidade, entre as 3 ou 4 crianças
que frequentam o espaço.
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Sem sorrisos
Guida Brito
Não haveria outra forma tão real e tão caricata de relatar a situação...tens toda a razão amiga, conterrânea e colega Guida! Parabéns pela tua escrita.bjinho
ResponderEliminarExcelente texto. Obrigatório partilhar. Caio na realidade e não posso deixar de ficar triste com o país que deixo para os meus filhos (e para os outros filhos). Não posso ficar quieto no meu cantinho. Vou partilhar...
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