sábado, 8 de junho de 2019

Nem as moscas aplaudiram



Falar de sem o referir: pois, não é fácil. A ver vamos se nos entendemos e vocês me percebem. Na hora H, lá corremos de fininho, de cara feia, aflita, rezando e pedido o sorriso aliviante de quem tudo fez. 

O primeiro ufa surge perante a capacidade - e o alívio – da concretização de gestos do tratar das vestes: hoje, salvámo-nos e chegámos a tempo. A tempo de colocar no sítio certo o que é nosso mas não queremos. 



Segue-se um quase rufar de tambores:  ao expulsar o que nos custou o piar de forma pouco audível, em andante cruzar de pernas para o manter seguro – impedindo-o de sair  pelo buraquinho. Naquela hora, somos todos iguais: não há carro, vestes, roupinha da botique “cu noir”, narizes empinados, poisio num lugar de chefia… que nos diferencie; sentámo-nos e fizemos, com agrado, o que, muitas vezes, adiamos na esperança que não saia. Confessem: chegar lá e fazer, fazer muito, é majestoso.

Todos olhamos! Escusam de negar. Todos olhamos, vemos, miramos e sorrimos. Quanto maior for o produto, maior será a nossa satisfação. Hoje fiz muito; hoje fiz aguado, hoje fiz líquido, hoje fiz duro; hoje fiz amarelo, hoje cheirava, hoje não comi sabonete, hoje doeu … as chamadas conversas de …   com toda a razão de ser.
Quer queiramos ou não, encontramos, nesta hora, a verdadeira dimensão da satisfação: fizemos.

Ontem, meus amigos; comi beterraba; sabem a sua cor? Memorizam o que comeram no dia anterior? Pois. Querem que conte? Ao invés do alívio: uma expressão doentia e agoniante,  nem as moscas aplaudiram.
Sorrisos
Guida Brito


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