Num discurso pouco coerente,
veiculando dados confusos e que diferem de anteriores palavras, o Senhor
Ministro da Agricultura anunciou a limitação da continuidade dos olivais
superintensivos (estão na base da maior catástrofe ambiental, histórica e
humana, no nosso país).
De imediato, observou-se uma partilha imensa, pelas
redes sociais, das suas palavras – palavras de alívio, de felicidade, de finalmente, de acreditar no
futuro, por parte das incontáveis vítimas do monstruoso sem explicação nem
cabimento.
Hoje, para espanto de todos, pela
primeira vez, dando o dito por não dito, o Senhor Ministro da Agricultura reconhece a existência de
povoações que sofrem de forma cruel e desumana (embora sem coragem para
pronunciar o nome de Fortes) e fala sobre o fecho das fábricas de bagaço.
Fotografia de Artur Pissarro |
Ops! Senhor Ministro, leva 10
anos de atraso para reconhecer que o vapor de água são gazes venenosos, 40% acima do suportável pelo ser humano. Sabe
que as fábricas continuam a laborar?
Mais 10 anos para as fechar? Sabe que as pessoas estão doentes (muito) e que
ninguém reconhece que os gases, 40% acima
do suportável pelo ser humano, são a causa dos cancros, sangue que cospem,
problemas respiratórios…? Matámo-los e passamos um paninho de sacudir o pó ou
reconhecemos o que lhes causámos?
E tem conhecimento das substâncias proibidas
e cancerígenas (em tão grandes quantidades) nos aquíferos? Esqueceu-se ou há interesse em jogar ao faz de conta que não há o que há?
E as espécies protegidas por lei que foram arrasadas? Onde
estão as nossas rochas, tão importantes na luta contra a erosão dos solos? Sabe
que todos as britaram?
O que faz perante
os camiões que continuam a circular, a caminho do muito longe, com as nossas
oliveiras milenares? O que acontece a quem arrancou os nossos montados? E? E?
E os dois ou três culpados que o senhor
reconheceu? Foram condenados? E os outros que o senhor não reconhece? Foram
condenados??
Desenganem-se os felizes "partilhadores" da publicidade gratuita ao Senhor Ministro: temos para desbravar
o "com a verdade me enganas". Habituámo-nos, ao longo dos últimos anos, a receber
o que parece que é mas depois aquilo não
é e o que vem piora. Em minha opinião, a
grande mancha da mesma cor (que preocupa, agora, o nosso “A mando do Prime”)
vai dar origem a um sem cor enegrecido nas nossas vidas.
O que já fez Senhor Ministro? Qual foi a palavra que transformou em ação?
Então? Palavras bonitas que
enviam o cumprimento para após eleições: são mais um episódio de “E tudo o
vento levou”.
Vamos a factos
O representante máximo da EDIA recebeu esta
semana os embaixadores dos Estados Unidos, em Barrancos. Mostrou-lhes o
laguinho do Alqueva e teceu maravilhas do aqui posso tudo: lá vem o amendoal
(mais 700 000 hectares).
Os chineses visitaram Sines,
sorriram para a foto, para o Porto e para vinha no Alentejo.
Os canadianos que já começaram a
colher a cannabis em Cantanhede querem ampliar, em muito, a sua produção. Onde?
Alentejo.
Mais aquilo que a gente não sabe e está escondido nas entre linhas, teremos um mono-intensivo que parecerá uma prática ambiental sustentável, amante da biodiversidade.
Por que carga de água (que aqui
não há) vêm os outros continentes investir num pequeno país, da periferia da
Europa, plantar numa região de secas severas? Será que a Espanha vendeu o
Alentejo? Cheira-me a invasão camuflada.
Preparem-se que os subsídios da
União Europeia são para ir buscar e mais virão: chegarão sorridentes, cativos
desta região. O Alentejo não tem futuro e ninguém devolverá a saúde e a vida
dos que já morreram; ninguém se responsabilizará pela tragédia já causada; a
economia desenvolvida será a estrangeira e bolsos alheios aos interesses do
país – nós baixámos as calças perante os tantos que se apaixonaram por esta
linda terra.
Para finalizar, deixo a pergunta
no ar: “E se alguém bater nos seus filhos? O que faz?”
Mas permite que o envenenem.
Pois, estão a envenena-lo: quando
utiliza a água dos aquíferos; quando respira as vaporizações das culturas
mono-intensivas; quando utiliza os azeites de preços acessíveis (e sem rótulo indicativo
da proveniência); quando consome o sem
sabor (nem cheiro) que prolifera nas estantes do supermercado; quando comer o
que pensa que são amêndoas… fica sem recursos e sem futuro (mesmo que tenha
feito a escola até ao fim e com diploma do mais alto grau). Não se preocupe, um
pouco de cannabis e viverá feliz, num arco-íris ocultador do que não presta.
Não
é à toa que, numa região (Alentejo) onde de cancro nem se ouvia falar, hoje
morre o Ivo, amanhã morre o Paulo, a Matilde e o João. Precisamos de uma
resposta que vá mais além do que anular as festas do bairro. Que a sua memória
seja dignificada no “Não quero mais! Acabou aqui!”.
Sem sorrisos
Guida Brito
Infelizmente, nada se aprendeu com o acontecimento que há anos atrás, deu origem, ao extermínio do parque natural do sudoeste alentejano ... ainda hoje existem, os restos dos primeiros investimentos estrangeiros. As perdas são incalculável. Neste momento, o Alentejo já era! Mas continuamos com medidas avulsas e eleitoralista. Era bom que o senhor ministro, os tivesse no sítio, e não numa qualquer estufa de tomates, amiga do hemicirco, desculpem, queria dizer: hemiciclo. É uma vergonha tudo o que se passa ...
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