sábado, 15 de junho de 2019

Olivais superintensivos; episódio “E tudo o vento levou”






Num discurso pouco coerente, veiculando dados confusos e que diferem de anteriores palavras, o Senhor Ministro da Agricultura anunciou a limitação da continuidade dos olivais superintensivos (estão na base da maior catástrofe ambiental, histórica e humana, no nosso país). 



De imediato, observou-se uma partilha imensa, pelas redes sociais, das suas palavras – palavras de alívio, de  felicidade, de finalmente, de acreditar no futuro, por parte das incontáveis vítimas do monstruoso sem explicação nem cabimento.

Hoje, para espanto de todos, pela primeira vez, dando o dito por não dito, o Senhor Ministro da Agricultura reconhece a existência de povoações que sofrem de forma cruel e desumana (embora sem coragem para pronunciar o nome de Fortes) e fala sobre o fecho das fábricas de bagaço.


Resumindo o seu discurso emotivo e preocupado: confessa que o Alentejo é terra sem lei mas envia o seu cumprimento e a justiça para um futuro incerto.


Fotografia de Artur Pissarro

Ops! Senhor Ministro, leva 10 anos de atraso para reconhecer que o vapor de água são gazes venenosos,  40% acima do suportável pelo ser humano. Sabe que as  fábricas continuam a laborar? Mais 10 anos para as fechar? Sabe que as pessoas estão doentes (muito) e que ninguém reconhece que os gases, 40% acima do suportável pelo ser humano, são a causa dos cancros, sangue que cospem, problemas respiratórios…? Matámo-los e passamos um paninho de sacudir o pó ou reconhecemos o que lhes causámos? 

E tem conhecimento das substâncias proibidas e cancerígenas (em tão grandes quantidades) nos aquíferos? Esqueceu-se ou  há interesse em jogar ao faz de conta que  não há o que há? 

E as espécies protegidas por lei que foram arrasadas? Onde estão as nossas rochas, tão importantes na luta contra a erosão dos solos? Sabe que todos as britaram? 



O que faz  perante os camiões que continuam a circular, a caminho do muito longe, com as nossas oliveiras milenares? O que acontece a quem arrancou os nossos montados?  E? E? 

E os dois ou três culpados que o senhor reconheceu? Foram condenados? E os outros que o senhor não reconhece? Foram condenados??



Desenganem-se os felizes "partilhadores" da publicidade gratuita ao Senhor Ministro: temos para desbravar o "com a verdade me enganas". Habituámo-nos, ao longo dos últimos anos, a receber o que parece que é  mas depois aquilo não é e o que vem piora.  Em minha opinião, a grande mancha da mesma cor (que preocupa, agora, o nosso “A mando do Prime”) vai dar origem a um sem cor enegrecido nas nossas vidas.

O que já fez Senhor Ministro? Qual foi a palavra que transformou em ação?

Então? Palavras bonitas que enviam o cumprimento para após eleições: são mais um episódio de “E tudo o vento levou”.

Vamos a factos

O representante máximo da EDIA recebeu esta semana os embaixadores dos Estados Unidos, em Barrancos. Mostrou-lhes o laguinho do Alqueva e teceu maravilhas do aqui posso tudo: lá vem o amendoal (mais 700 000 hectares).

Os chineses visitaram Sines, sorriram para a foto, para o Porto e para vinha no Alentejo.

Os canadianos que já começaram a colher a cannabis em Cantanhede querem ampliar, em muito, a sua produção. Onde? Alentejo.


Mais aquilo que a gente não sabe e está escondido nas entre  linhas, teremos um mono-intensivo que parecerá uma prática ambiental sustentável, amante da biodiversidade.

Por que carga de água (que aqui não há) vêm os outros continentes investir num pequeno país, da periferia da Europa, plantar numa região de secas severas? Será que a Espanha vendeu o Alentejo? Cheira-me a invasão camuflada.



Preparem-se que os subsídios da União Europeia são para ir buscar e mais virão: chegarão sorridentes, cativos desta região. O Alentejo não tem futuro e ninguém devolverá a saúde e a vida dos que já morreram; ninguém se responsabilizará pela tragédia já causada; a economia desenvolvida será a estrangeira e bolsos alheios aos interesses do país – nós baixámos as calças perante os tantos que se apaixonaram por esta linda terra.
Para finalizar, deixo a pergunta no ar: “E se alguém bater nos seus filhos? O que faz?”

Mas permite que o envenenem.
Pois, estão a envenena-lo: quando utiliza a água dos aquíferos; quando respira as vaporizações das culturas mono-intensivas; quando utiliza os azeites de preços acessíveis (e sem rótulo indicativo da  proveniência); quando consome o sem sabor (nem cheiro) que prolifera nas estantes do supermercado; quando comer o que pensa que são amêndoas… fica sem recursos e sem futuro (mesmo que tenha feito a escola até ao fim e com diploma do mais alto grau). Não se preocupe, um pouco de cannabis e viverá feliz, num arco-íris ocultador do que não presta.

Não é à toa que, numa região (Alentejo) onde de cancro nem se ouvia falar, hoje morre o Ivo, amanhã morre o Paulo, a Matilde e o João. Precisamos de uma resposta que vá mais além do que anular as festas do bairro. Que a sua memória seja dignificada no “Não quero mais! Acabou aqui!”.

Sem sorrisos
Guida Brito


1 comentário:

  1. Infelizmente, nada se aprendeu com o acontecimento que há anos atrás, deu origem, ao extermínio do parque natural do sudoeste alentejano ... ainda hoje existem, os restos dos primeiros investimentos estrangeiros. As perdas são incalculável. Neste momento, o Alentejo já era! Mas continuamos com medidas avulsas e eleitoralista. Era bom que o senhor ministro, os tivesse no sítio, e não numa qualquer estufa de tomates, amiga do hemicirco, desculpem, queria dizer: hemiciclo. É uma vergonha tudo o que se passa ...

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