“-Maria, quando calha a lua nova?
- P’éra aí q´ê vô bscar o Borda d’Água.”
Meticulosamente
guardado numa das arcas da casa (aquela que guardava os lençóis das visitas, a
roupa nova para o dia de feira ; a camisa preta para o funeral do vizinho; o fio
de ouro de três voltas e o talego do dinheiro), o Borda d’Água continha tão
preciosas informações, indispensáveis à sobrevivência, que era certo e sabido
que o seu vendedor, no dia da feira de Castro, rapidamente os esgotava.
Este
almanaque, criado em 1928, aliava a sabedoria popular, a ciência e a astrologia;
talvez por isso os seus prognósticos fossem tão certeiros e tão imprescindíveis
na vida do agricultor; na vida das moças novas e casamenteiras (ali
consultavam, no seu Oráculo, as
características dos homens nascidos no mesmo mês que o jovem pimpão que as
cortejava - bom marido ou aldrabão?); no saber antecipado se era a chuva ou o
sol que visitava o monte em dia de colheita ou festividade.
Lembro-me dos
bailes de mastro, quando as ruas eram enfeitadas de balões, fitas e
bandeirinhas de papel: a sua colocação, nas ruas, era orientada, de forma
certeira, por este folheto preciso e com poderes quase divinos em matéria de
adivinhação. Não lhe chamarei feiticeiro mas “o grande chefe da aldeia” pela
forma como era cumprido e seguido.
Apresentava-se como bom lembrete da
visibilidade planetária, das feiras, festividades e romarias; revelava-se
indispensável, cá p’rás bandos do Alentejo - no que se referia a plantios,
mondas, sementeiras e “enxertos” das plantas de grande porte.
Calendário
Israelita, marés… uma enciclopédia informática apesar da sua diminuta dimensão:
o computador da era antiga- com mais bits e “quilokapas” que o que manuseamos e
comprámos na promoção da esquina. Enfim: “Reportorio util a toda a gente” ;
como referia a sua capa.
Descobri nos
meus caixotes do tudo guardo: o Borda d’Água de 1945. Fascinante! Partilho
convosco o Juízo do Ano, realçando as partes que desejo que não se concretizem
em 2017- já que por Terras do Mui Nobre Portugal os tons cinza enlutaram as
suas gentes e ditaram a total devastidão de onde deveria vir o pão.
“… trigo
ve-lo-ão por um óculo, o milho, a fava e tudo mais que se come atinge o valor
das pedras preciosas por isso hão-de aparecer colares de grão, anéis de
lentilhas, broches de ervilhas e assim por diante…”
Sorrisos
Guida Brito
Precioso este Almanaque. Ainda agora pela feira de castro meu compro o Borda de agua. Um habito que via fazer aos mais antigos e ficou comigo. Parabéns Guida.
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