Fotografo o que está
vivo na minha memória; fotografo com sentido. Sei de onde venho e o que me fez.
Sei quem sou e recordo-me numa vida que me faz feliz. Relembro os passos, os
sorrisos e os afetos. Abraço o que faz parte de mim.
Uma simples tenaz transporta-me ao outono. Enquanto se
apanham as estevas que engrossarão o manturo, surrupiam-se meia dúzia de doces
bolotas. As noites que se lhe seguem são de jogatina de cartas ou dóminó ;
enquanto, entre o cheiro e a cinza da esteva e do sobro, se assam este frutos
cujo aroma e sabor superam a castanha (inexistente por terras do Alentejo).
No
quentinho da fogueira, é a tenaz que vira e revira impregnando a memória de
paladares inesquecíveis. Lembro-me da braseira e da mesa com buraco, da toalha
em forma de saia.
Se no outono caiem as primeiras chuvas: sinto o cheiro da
terra molhada; lembro a corrida para esvaziar o estendal; a apressada caminhada
entre a casa do fogo e a casa principal; o velho pote de cal que todas as manhãs pintará a cozinha; as pedras para esmagar as azeitonas e
os velhos potes onde se adoçam…
Recordo os orégãos e a corrida, entre gotas de
chuva, para apanhar o hortelã (tarefa dos miúdos; num tempo em que os abafos ou
casacos se substituíam por fugidas).
A memória prova-me, a cada
instante, que sou alentejana e mantém em mim o afago que me une ao meu pai e aos
meus avós.
A Equipa dos Navegantes de Ideias agradece o carinho de todos os que nos lêem, partilham e nos abordam felicitando o nosso trabalho. Se gostou, leia também:
Sorrisos
Guida Brito
É isso mesmo,que nostalgia nos trás uma simples tenaz que saudades do tempo em que se vivia assim.
ResponderEliminarParabéns Guida gostei muito.
Obrigada, Gloria. Beijinho.
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