Uma história caricata, verídica e assustadora: somos
perseguidos.
A história passou-se há dias e envolve as minhas flores. Flores???
Sim, fiz anos e um prezado cavalheiro decidiu (e muito bem), ao invés de me
enviar as plastificadas floritas facebokianas, presentear-me com a mais bela
rosa natural – um gesto precioso e digno de registo, podeis copiá-lo. Ok. Certo. Deixemo-nos disto. Sigo viagem e
conto-vos tudo.
Na pressa do não sei onde estou e preciso de uma florista,
descobriu-a na azáfama do muito trânsito e longe do estacionamento. Sem pensar,
na certeza do é rapidinho, priorizou o meu sorriso e o afago que só lhe fica
bem: estaciona em segunda fila, atrofia o trânsito e sai do carro “desvairido”
pelo levo-lhe uma flor. Entra na florista e é avisado, no imediato do momento,
que a multa é uma certeza. Atira um “leve-me ao carro a mais bela rosa para a
mais bela flor”; sai, contrariado, visualizado o meu sorriso a leste do
paraíso.
Senta-se no seu "automobille" e, em tons do pode ser que me safe, enceta
conversa com o GNR que lhe acena com o papel multante. Pede aqui, pede acoli e
a coisa está preta. Chega a florista, de rosita na mão e o são X euros na voz.
O trânsito aumenta, o caus irrompe pela cidade e o GNR grita:
Atrapalhada, a florista sai da rua e entra na loja. O GNR
persegue-a: “A fatura, minha senhora”; “A senhora está a fugir ao fisco”.
Fez-se silêncio, na rua, e o trânsito congelou mais rápido que os salários dos
professores: um GNR abandona o caus do trânsito e dedica-se à grandiosa fuga ao
fisco e ao rombo no orçamento que uma rosa (para o mais belo sorriso) pode
causar.
E, nesta tragédia grega com dezenas de expetantes, com o GNR
no interior da loja, a senhora volta à rua e entrega, ao cavalheiro, o papelito
que impede esta monstruosa fuga ao fisco.
O representante da segurança rodoviária não retornou ao local
do caus do trânsito, continuou no interior da loja não sabemos a fazer o quê. E
o trânsito? Resolveu-se por si: o cavalheiro, feliz e airoso, de rosa no meu
sorriso, seguiu a sua viagem e os outros condutores (tontos pela incapacidade
de umas boas apitadelas) seguem balbuciando um “O que é esta #”$%?”.
Digo eu, apesar do grandioso sorriso: se calhar, assim no se
calhar, vós estais em Marte e não sabeis. Eu fiquei na lua: recebi o que era
para mim, coloquei o mais belo sorriso e o valente cavalheiro mudou-se do caus
do “O que é esta #”$%?” para o paraíso do “Fi-la feliz”.
Outros escritos de Guida Brito:
Ir à praça, um hábito esquecido: acomodamo-nos em passos certeiros de quem vai, não pensa e não volta feliz
Sorrisos
Guida Brito
Parabéns, o artigo está muito bem escrito. Adoro o seu humor para comentar casos vergonhosos. Um tristeza o que se passa no nosso país: corrupção sem pena e exploração do povo.
ResponderEliminarConcordo. E muitas vezes, na tentativa de esconder a verdade comentam os artigos fazem crer que estamos todos bem. Somos explorados numa terra sem lei. Ontem recebi uma carta do tribunal para pagar 265£ porque não recebi a carta das scuds ou sei lá como se chama. Um euro e pouco resultou nesta quantia abismosa: FDP. Devia escrever sobre isso Guida.
EliminarCom certeza o senhor agente da GNR, achou mais importante zelar pelo nosso fisco, do que, multar um coração apaixonado. Seja como for, esse militar deveria ser transferido. Era bom e necessário, pessoas dessas para os lados da assembleia da República. Quem sabe ... a corrupçao diminui-se ...
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