quarta-feira, 21 de junho de 2017

A minha janela



               A minha janela podia ser um dos lugares mais maravilhosos e encantadores do mundo: podia mas não é. Em frente a um pátio era propícia a umas boas serenatas que teimam em não se fazer ouvir; podia ser palco de estrelas mas geralmente está nublado; podia abraçar desejos à mais singela estrela cadente mas, também… podia, podia, podia…nem as fadas pairam por aqui; oiço as discussões dos vizinhos e as brincadeiras das crianças no final da tarde, uma azáfama, um corrupio audível de palavras delirantes e presas nas gargantas dos menos ousados. Aqui, nas traseiras do meu prédio e no pátio da minha janela, as palavras não têm preconceitos: soltam-se e obrigam-nos a dançar, entre sorrisos, na canseira dos afazeres do jantar. Hoje, a vizinhança está calma, cansados da praia não apresentam forças para as habituais frases do fundo da carteira; o espaço foi evadido por alguns petizes que se fazem ouvir
   -Gooooooooooooooloooooooooooooooooo…
  - Portugalllllllllllll marcaaaa. È golo, é golo, é golooooooooooooo… Portugal ganha:1/0
       Pensei recuar no tempo, espreguicei-me nas nuvens e … rapidamente petrifiquei.
  - Vai, vai Ronaldo marca, marca e é g…… Mãeeeeeeeeeee! O Ronaldo não quer marcar.

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