Naquele tempo mandava no Rectângulo o Sr Marcelo
Caetano, outro seguidor salazarento em modo soft.
Decorriam as 3 Guerras em África e o que decidiu
este governante?
Para manter o espírito colonial que existia ordenou que viessem de Cabo Verde cerca de 100 jovens caboverdianos fazer a recrutar à Metrópole, isto é, à Mãe-Pátria. Para onde iriam fazer essa recruta? Tinha de ser para um quartel com clima quente semelhante ao de Cabo Verde. Assim prantaram-se no RI3 em Beja os tais 100 jovens caboverdianos.
Era vê-los na cidade, todos morenos, vestidos com a
farda nº 3. Mas coitados sem um tostão nos bolsos para comprar qualquer coisa
nem mesmo para um copo de vinho. A instrução no quartel durante o dia para eles
era fácil, o pior era a seguir ao toque de ordem. A maior parte ficava na
caserna (com beliches) da 3' Companhia, só conversando, cantar nada pois não
tinham violas.
Comer cachupa, ou beber vinho fermentado de ananás, nada. Falavam crioulo, uma salganhada com algum português misturado. E era só PAIGC para aqui e pr'ali. Com o decorrer dos dias a "sodade" aumentava, longe da família, alguns já casados e com filhos. Começaram as desobediências, até agressões contra os Instrutores, fossem sargentos ou oficiais. Faltas de respeito eram permanentes a ponto de ninguém poder entrar nas instalações da 3' Companhia. Foi então que eu entrei nesta cena.
O Capitão Rosa (falecido em Angola em condições algo estranhas) chamou-me e disse-me: você já esteve em África, é assim moreno como eles, vá tomar conta deles, veja se consegue acalmar aquela gente! E lá fui estar com eles, nem sabendo bem o que fazer. Tinha mãos livres para fazer o que quisesse desde que eles se acalmassem.
Comer cachupa, ou beber vinho fermentado de ananás, nada. Falavam crioulo, uma salganhada com algum português misturado. E era só PAIGC para aqui e pr'ali. Com o decorrer dos dias a "sodade" aumentava, longe da família, alguns já casados e com filhos. Começaram as desobediências, até agressões contra os Instrutores, fossem sargentos ou oficiais. Faltas de respeito eram permanentes a ponto de ninguém poder entrar nas instalações da 3' Companhia. Foi então que eu entrei nesta cena.
O Capitão Rosa (falecido em Angola em condições algo estranhas) chamou-me e disse-me: você já esteve em África, é assim moreno como eles, vá tomar conta deles, veja se consegue acalmar aquela gente! E lá fui estar com eles, nem sabendo bem o que fazer. Tinha mãos livres para fazer o que quisesse desde que eles se acalmassem.
Lá na camarata comecei a jogar às cartas com eles,
a sueca, etc. Arranjei uma viola que estava abandonada na Messe dos Oficiais.
Levei linguiças e pão do armazém do quartel, os galões davam-me força para
levar à vontade. É óbvio que também me diverti com esta situação pois comi
petiscos deles, ouvi as mornas e as coladeras que não conhecia. A coisa acalmou
e o 2' Comandante Palma Ferro mandou-me regressar à minha Companhia original, a
nr 2.
Mas voltaram as revoltas do recrutas caboverdianos!
Era a mim que eles queriam, mais ninguém. Os Comandantes do RI3 que não queriam
ouvir falar em revoltas mandaram-me ter com eles outra vez. Chegou o fim da
instrução da recruta e o pior veio a seguir para aqueles jovens. Cada um teve
de ir para a uma Especialidade noutro quartel do País e a seguir mobilizados
para a guerra para as diversas províncias ultramarinas mas nunca para Cabo
Verde, onde não havia guerra.
Alguns talvez até todos foram mobilizados para uma
das três frentes. Comecei então a receber aerogramas de muitos deles escrevendo
sobre detalhes das suas amarguras.
Uma estória verdadeira que aconteceu mesmo às
portas de Beja!
José Jorge Cameira.
Beja, 17 de Junho 2019
Clique para ler os outros episódios:
Uma ida para o Alentejo - estórias que marcam (parte I)
Uma ida para o Alentejo - estórias que marcam (parte II)
Uma ida para o Alentejo - estórias que marcam (parte II)
Outros artigos do autor:
A minha Escola Primária (1955/1958)
As filosofias Nazis e outras de Extrema Direita avançam por toda a Europa
Concelhos de leitura:
Sem comentários:
Enviar um comentário