Beja, 1972
Decorria a Guerra no Ultramar e um dia pranta-se no RI3 em Beja (nesse
ano eu já era Alferes Miliciano) um Capitão de Infantaria do Quadro, iniciais
do nome ES. Tinha vindo da Guerra na Guiné onde viu e terá provocado horrores.
Estava descompensado. Nervoso, alterado, metia medo.
Reuniu os Oficiais Milicianos mais antigos para uma palestra sobre a
guerra em África.
Disse isto mais ou menos:
-- Sei que neste quartel os Senhores Oficiais refilam muito, são muito
exigentes, até falam contra o governo, a indisciplina é geral, sei que houve
uma revolta contra o nosso Comandante Coronel Camilo Delgado.
-- Se sabem que não vão ser mobilizados, se são patriotas, porque não
se oferecem para serem mobilizados para a guerra?
-- Alguém se oferece, ou alguém já se ofereceu?
Ora eu que estava condenado a ser rechamado para a tropa dali a 2 anos,
graduado em capitão e ir para a guerra, tinha-me oferecido com mais dois
Oficiais para reentrar na vida militar mas com um estratagema de evitar ir para
um dos 3 conflitos no Ultramar. Ganhava mais uns bons trocos e um valente
passeio de borla e bem acomodado.
Então respondi ao Capitão ES:
-- Eu ofereci-me, meu Capitão!
-- Muito bem...ora aqui temos um camarada com amor à Pátria, um
verdadeiro patriota, um exemplo para
todos!
-- Então diga-nos para que províncias das nossas em África se ofereceu?
-- Meu capitão, em primeiro lugar ofereci-me para Macau, a seguir
Timor, depois S. Tomé e Príncipe e por fim Cabo Verde.
O Capitão começou a espumar e gritou-me:
-- Seu cobarde, traidor, ponha-se daqui para fora da sala...acabou a
reunião, senhores!
O mês para ser mobilizado seria em Outubro de 1974. Não aconteceu,
sabe-se porque.
José Jorge Cameira.
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